Menelik II foi a figura principal da virada do século XIX, na África.
Estabeleceu sua capital em Addis Abeba, conseguindo unificar as províncias de Tigre e Amhara em seu reino de Shoa.
Converteu um grupo de reinos independentes em um império forte e estável conhecido como os Estados Unidos de Abissínia, atual Etiópia.
Outras realizações na cena internacional e sua maneira de lidar com os poderes mundiais, provaram sua competência de estadista, culminando com a vitória da Etiópia sobre a Itália em 1896 na Batalha de Adwa (uma tentativa de invadir o país) garantiram-lhe um lugar em meio aos grandes estadistas de história africana.
Menelik manteve a independência do país até 1935.
Curiosidades
No final de seu reinado, Sua Majestade, o rei Menelik II, enviou de presente uma girafa ao presidente da República Francesa, a qual chegou ao Zoológico de Paris, em 1918. A girafa ficou conhecida como "La Girafe Ménélik".
Quando se utilizou pela primeira vez a cadeira elétrica nos Estados Unidos, o imperador Menelik II da Abissínia (atual Etiópia) ficou tão encantado com o invento que mandou comprar três unidades. Só depois percebeu que não poderia utilizá-las: no seu país não havia eletricidade.
Acreditando no poder da Bíblia de curar doenças, Menelik comeu "O livro dos reis" para se salvar de um derrame cerebral e morreu de obstrução intestinal.
Menelik I
Acredita-se que seu antecessor, o homônimo Menelik I, foi o filho do bíblico Rei Salomão de Israel e Makeda, a Rainha de Sabá.
De acordo com lendas etíopes, ele nasceu na província de Hamasien em Eritreia.
A tradição credita o fato de ele ter sido o rei que trouxe a Arca da Aliança para a Etiópia, quando ao alcançar maioridade, fora visitar Jerusalém a fim de conhecer o pai.
De acordo com o Kebra Nagast, Rei Salomão tinha a intenção de enviar para o filho alguns nobres, sacerdotes do templo e guerreiros junto com Menelik no retorno dele para o reino de Sabá.
Supõe-se que ele tenha tido uma réplica da Arca, mas conta a lenda que o filho de Zadok o sumo-sacerdote, trocou a réplica secretamente com a real Arca, permanecendo na Etiópia até os dias de hoje, mais exatamente na antiga cidade de Axum.
Na morte da Rainha Makeda, Menelik assumiu o trono com o título "novo de Imperador" e "Rei dos Reis de Etiópia'.
Ele fundou a Dinastia "Salomônica" da Etiópia que governou o país com poucas interrupções durante aproximadamente três mil anos e 225 gerações, depois terminadas com o Imperador Haile Selassie em 1974.
Etiópia, Pais de mistérios
A República Federal Democrática da Etiópia é um país cheio de mistérios, desde seu nome (Ityjopya).
O nome do país tem origem na palavra grega "aethiops" que significa cujo significado é "rosto queimado" por designar à África negra.
Já o antigo nome em árabe, Abissínia, significa povos misturados, por referir-se ao reino da que no passado abrangia a Etiópia atual, a Eritréia, a Somália e se estendia até a Núbia - o atual Sudão.
Pois, os mistérios apenas começaram.
Esta terra contém restos paleontológicos de origens da humanidade, monolitos que chegam atingir 34 metros de altitude belamente decorados, restos do magnífico Palácio da Rainha de Sabá ou o Arca da Aliança guardada pelos muros da Igreja de Santa Maria de Sião em Axum, a qual conta a lenda foi trazida a este país por Melenik I, filho da rainha de Sabá e o sábio Salomão.
A estes fascinantes atrativos acrescenta-se uma maravilhosa natureza com lagos, montanhas, cascatas e a garganta do Nilo Azul.
Esses mistérios estão bem guardados pelas etnias que habitam o país: abissínios compostos por tigreses, amharas e shoas; hamitas com os galhas e somalis e as minorias pretas; nilóticos e nantues assim como os falaschas, judeus negros que têm continuado com suas tradições como se o tempo não tivesse passado.
A Etiópia fica no nordeste do continente africano, numa região de planaltos conhecida por Chifre da África.
Secas periódicas assolam o país, que tem a região (Dabol) com maior temperatura média (34°C) em todo o mundo.
Dois terços das terras são férteis e a agricultura é dinâmica, predominando as culturas de cereais e café.
É uma das duas únicas nações africanas (a outra é a Libéria) que não foram colonizadas pelos europeus, cuja presença na região se restringe ao curto período da ocupação italiana (1936 a 1941).
Também não foi conquistada pelo Império Árabe, conservando até hoje uma forte tradição cristã.
O Estado ainda sofre as consequências da longa guerra civil iniciada nos anos 60, que só termina no início da década de 90. Com a independência da província da Eritréia, a Etiópia perde o estratégico acesso ao mar Vermelho.
Uma História de opressão e resistência
A Etiópia é um país com um imenso histórico de opressão, tanto interna quanto externa.
Em 1869, o imperador Menelik II assumiu o trono e se aliou à Inglaterra e à Itália para organizar a administração local (reino de Choa).
Em 1895, os ex-aliados italianos invadiram o país, alegando falta de cumprimento de compromissos.
Em 1896, na batalha de Adua, morreram 4 mil dos 10 mil soldados italianos. Foi a derrota mais esmagadora sofrida por europeus na África, até a guerra da Argélia.
Mesmo derrotado, o país europeu conseguiu por meio da diplomacia os territórios atuais da Eritréia e o sul da costa somaliana.
Em 1936, no entanto, Benito Mussolini invadiu novamente o país africano, tirando vantagem da luta interna entre candidatos à sucessão de Menelik II.
A então Liga das Nações, apesar de solicitada pelo novo herdeiro do trono, não deu apoio concreto.
Entre outras realizações, em cinco anos de ocupação, a Itália estabeleceu um sistema de discriminação racial semelhante ao apartheid sul-africano.
Com a queda de Mussolini, o Reino Unido assumiu a administração da Etiópia. Os etíopes conquistaram sua independência em 1948, reassumindo então o herdeiro do trono, Hailé Seilassié.
Após ter conseguido escapar, ele voltou à sua terra natal, que se encontrava cheia de revoltas para todos os lados, contra o poder imperial, representado na ocasião por Bezebeh, governador imposto ao povo de Choa em nome de Tewodros II.
Então, com apenas 21 anos de idade, ele reúne suas forças e depões Bezebeh, se tornado Negus (Rei) de Choa.
Depois de três anos, o Imperador Tewodros morre e Sahle Mariam aspira ao seu lugar, mas quem assume o trono é Yohannes IV, um Ras proveniente da família real de Tigre.
Subiu ao trono em 1872 e prosseguiu a obra de seu antecessor, equipando o império com Forças Armadas e estabelecendo a paz interna, principalmente com seu maior rival Sahle Mariam, o Ras de Choa.
Para isso, realizou a união dinástica de seu filho com a filha de Sahle, o que garantiu uma sucessão pacífica ao trono.
Extremamente voltado para as questões religiosas, Yohannes IV expandiu bastante o cristianismo ortodoxo, catequizando pagãos e até muçulmanos.
Lutou bravamente contra os italianos contra os sudaneses fundamentalistas islâmicos, chegando a morrer na batalha de Metemma (1889), quando os Exércitos Imperiais invadiram o Sudão.
No mesmo ano, Sahle Mariam foi coroado sob o nome de Menelik II. Em seu período de rivalidade com Yohannes IV (antes do casamento de seus filhos), se aproximou dos italianos que interpretavam o artigo XVII do Tratado de Uccialli (concluído em 1889), como o estabelecimento de um protetorado italiano sobre a Etiópia.
Mas, logo que assumiu o poder, tomando consciência da interpretação errônea dos italianos, Menelik renuncia ao tratado, o que provocaria uma guerra.
Em 1o de Março de 1893, os italianos rendem-se aos etíopes na Batalha de Ádua, a mais famosa da África contemporânea.
Menelik II foi muito importante para o desenvolvimento da Etiópia: ele criou ministérios governamentais, fundou escolas e centros de estudos, mandou instalar sistemas de correios e telégrafos e construiu inúmeras estradas e ferrovias, a principal delas ligando o Djibouti à nova capital por ele erguida: Addis Abeba.
Esta cidade, que em amárico significa “Nova Flor”, foi construída nos planaltos de Choa e inaugurada em 1887.
O Palácio Imperial, as Academias Militares e as Igrejas deram magnificência à sua obra, que chegou a ser considerada a capital da África.
Foi por essa razão que durante o século XX Adis Abeba foi escolhida para sediar vários organismos internacionais da África.
Tendo adoecido gravemente em 1906, Menelik conseguiu assegurar ao seu neto Lij Iyasu, a herança do trono.
Iyasu, apesar de ser herdeiro por linha materna (sua mãe era filha de Menelik), era também filho do governador de Welo, do povo Oromo, que era muçulmano antes da conversão por Yohannes IV, o que gerou certa antipatia na nobreza, no clero e no povo etíope.
Para piorar a situação, Iyasu se declarou um seguidor de Maomé e filho de Alá.
Os nobres de Choa instalaram no trono, a princesa Zauditu (filha de Menelik) e colocaram Ras Tafari Makonnen, como Regente e Herdeiro à Coroa.
Tafari Makonnen pertencia à nobreza reinante de Choa: era bisneto do grande Ras Sahle Selassie e sobrinho do imperador Menelik.
Foi um governante dinâmico e objetivo e como regente, aboliu a escravidão, levou a Etiópia à Liga das Nações e foi o primeiro monarca etíope a visitar as capitais da França, Itália e Inglaterra.
Em 02 de Abril de 1930, a Imperatriz Zauditu morre e Ras Tafari é proclamado imperador.
Foi coroado em 02 de Novembro do mesmo ano, com o título de Sua Majestade Imperial Haile Selassie I, Rei dos Reis, Senhor dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Judá, Eleito de Deus e Luz do Mundo.
Sua coroação atraiu a atenção do mundo ao seu país, contando com a presença de inúmeros chefes de estado, altos dignitários e jornalistas do exterior, que espalharam seu nome aos quatro cantos da Terra.
Seu nome, Haile Selassie, significa “Poder da Santíssima Trindade” e representou para seu povo a esperança de um futuro promissor.
Em 1931 foi aprovada a constituição que limitava seus poderes e estabelecia um parlamento.
Após a invasão do império pela Itália em 1936 e do exílio da Família Imperial em Londres, durante cinco anos a Etiópia formou com a Somália e a Eritréia a chama África Oriental Italiana.
Em 1941, com auxílio britânico, a Etiópia liberta-se da tutela italiana e Haile Selassie volta triunfante ao poder. Iniciam-se amplas reformas políticas e sociais: o sistema judiciário é organizado e hierarquizado e o Código Penal, reconstituído.
Com a criação da ONU em 1945, a Etiópia passa ser um dos países membros. Em 1960, enquanto estava de visita oficial n Brasil, há uma tentativa de golpe de estado que é rapidamente esvaziada pelos militares leais à monarquia.
Ele retorna a Adis Abeba aclamado pelo seu povo. Em 1975, Sua Majestade Imperial Haile Selassie I, desaparece dos olhos da Babilônia, um ano após ser deposto por um golpe.
A independência absoluta e a soberania do Império Etíope são reconhecidas oficialmente, o que torna a Etiópia a única nação africana que não foi colonizada.
A Lendária Etiópia
No curso da História, houve três reinos, independentes e distintos entre si, os quais, em épocas próprias, foram denominados Etiópia: Napata, Méroe e Aksun (ou Axum).
Ao exame dos textos históricos, parece ressaltar que a denominação de Etiópia aplicava-se, mais apropriadamente, ao reino de Aksun (Axum), enquanto para Méroe e Napata representava apenas uma designação greco-romana.
O termo Etiópia (Ethiopia) parece ter resultado do esforço dos escritores gregos antigos para designar essa região da África Oriental, cujo nome originário, indígena, era ininteligível para eles. Seu significado é, aproximadamente, “país das gentes de rostos queimados”, ou seja, genericamente, a raça negra.
A designação indistinta de Etiópia para designar, genericamente, todos os países antigos situados ao sul do Egito, praticada por escritores antigos, dificulta a compreensão exata da localização geográfica de eventos registrados pela história, ocorridos naquela parte do mundo.
Observe-se a narrativa bíblica (Atos dos Apóstolos, cap.VIII, 27/39) onde um dos personagens seria um “alto funcionário de Candace, rainha da Etiópia”.
Um rápido exame dos mapas da região nos convence que, em época tão remota, longe das conquistas dos atuais meios de transporte, seria improvável que um alto funcionário ousasse ausentar-se de suas funções para cumprir tal viagem, dada a enorme distância entre o local do encontro com Felipe (Jerusalém) e o reino da Etiópia (atual).
O termo Candace, comum aos textos bíblicos e de História, originário do grego Kandakê é a forma latina, com influência francesa, de Kantakai.
Representava o título real comum às rainhas do império etíope. Os gregos e os romanos usavam essa denominação como nome próprio das soberanas com as quais mantinham relações políticas.
O império abissínio teve início mil anos antes da era cristã, e terminou em 1974, com a deposição do último imperador.
A origem lendária do império remonta ao filho de Salomão, rei dos judeus, com Balkis, rainha de Sabá. Esse filho é chamado, por alguns autores, por Menelik, e por outros, de David, e é apontado como origem dos negus da Abissínia.
Ainda segundo a tradição abissínia, durante sua permanência em Jerusalém, a rainha de Sabá tornou-se mulher do rei Salomão.
Teria retornado ao seu país grávida, e teve um filho, que foi educado em Sabá durante a infância.
Na adolescência, foi enviado a Jerusalém, para aprimorar seus estudos e conviver com seu pai, por alguns anos, procurando absorver sua proverbial sabedoria.
Nessa ocasião, teria sido ungido e sagrado no Templo, com o nome de David, em homenagem ao seu avô, retornando, após, para junto de sua mãe.
Finalmente estabeleceu-se na Abissínia, tendo subido ao trono e introduzido à religião judaica em seu país, originando as cerimônias que os abissínios ainda conservam.
Salomão (do hebraico Chélômôh), filho do rei David e de Bethsabá, viveu entre 1032 e 975 a.C.
Sabá foi uma cidade da Arábia antiga (Arabia Felix), junto as costa ocidental do Mar Vermelho, capital do reino do mesmo nome, que os gregos chamaram de Miriaba. Esse país, posteriormente, passou a chamar-se Yemen.
A tradição árabe conta que a rainha Balkis (Belkis), atraída pela fama de riqueza e sabedoria que adornavam o rei dos judeus, resolveu visitá-lo, tendo sido sua hóspede e mantido o relacionamento que resultou no nascimento de um filho, do qual descendem os reis da antiga Abissínia.
O episódio é confirmado (parcialmente) pela narrativa bíblica (Reis, cap. 10, vers.1 a 13, e Crônicas, cap. 9, vers. 1 a 12), exceto no que se refere ao nascimento do filho mencionado nas tradições árabes e etíopes.
Os autores árabes atribuem à rainha de Sabá dessa narrativa, o nome de Balkis ou Belkis. Outros autores a denominam de Makeda, ou Makida.
A Abissínia teve origem no antigo reino de Aksum (Axum). Em 1941, reivindicou o nome do antigo território, e passou a denominar-se Etiópia.
Os soberanos da milenar Abissínia, desde a antiguidade, usavam o título de Negus, pretendendo descenderem do rei bíblico Salomão, e da lendária rainha de Sabá.
O último negus etíope, Hailé Selassié, que reinou de 1930 a 1974, usava os títulos da tradição bíblica de “O Eleito de Deus”, “Rei dos Reis”, “O Leão de Judá”, e timbrava os documentos oficiais com o “selo de Salomão”.
Selassié nasceu em 1891, e tinha o nome civil de Tafari Makonen. Seu pai, o rás Makonnen, era um dos filhos do imperador Menelik II. Exerceu o cargo de rás (governador civil e militar) do Choá, uma importante unidade política e administrativa do país.
Foi regente da coroa, durante a menoridade da princesa Zauditu, elevada ao trono durante a primeira guerra mundial.
Com o falecimento desta, assumiu o poder e foi sagrado imperador, em 1930, com o nome de trono de Hailé Selassié. Como monarca poderoso, introduziu a primeira constituição no país, criou um Parlamento, modernizou o exército e aboliu a hereditariedade dos cargos de rás das províncias.
Em 1935, a Itália, contaminada pelos ímpetos expansionistas de Mussolini, invadiu a Abissínia e forçou o negus ao exílio.
Nessa ocasião, no ano de 1936, proferiu corajoso discurso, junto a Liga das Nações, protestando contra a omissão dos Chefes de Estados das demais nações, face ao perigo nazista iminente. Foram suas palavras:
”Eu jamais acreditaria que todas as nações do mundo, entre as quais as mais poderosas da terra, pudessem acovardar-se diante de um único inimigo.
Mas, diante de Deus, nenhuma nação é melhor do que outra”.
E profetizou: “Hoje fomos nós, amanhã serão vocês”.
Em 1974, um golpe militar aboliu o regime monárquico e depôs o imperador, já velho e doente, que faleceu (há indícios de que foi assassinado) em 1975, um ano após ter sido despojado do milenar trono abissínio.
Extraído de “Méroe:
Um Legado Dinástico do Egito e da Núbia”
Mário de Méroe
Ensaio em homenagem ao Imperador Hailé Selassié
(1891-1975)