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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As Amazonas do Daomé

As minos, mulheres do rei, ou amazonas, nome dado pelos viajantes estrangeiros, formavam um grupo dentro do exercito daomeano, que esteve na ativa desde o século XVI até finais do XIX.
A criação desse perigoso exército é descrita no trabalho do estudioso, Pierre Dufour, a respeito da ação francesa para acabar com o rei Behanzin, em 1892, em Daomé, atual Benim, nome adquirido em 1975, quinze anos após se tornar uma república.
Acontecia que o rei de Dan-Homé invadia, constantemente, o pequeno reino de Porto-Novo, sob protetorado francês.
Durante vários anos, repetiram-se os acordos assinados e violados e o rei de Dan-Homé afirmava-se cada vez mais como tirano.
Foi, então, na condição de tirano, preocupado com a manutenção do poder dentro de sua própria corte, que o rei Guezo, no século passado, passou a investir mais na seleção de meninas, primeiro entre as filhas dos escravos vendidos, depois, também entre as filhas dos "seus homens", aquelas que fariam parte de sua guarda pessoal e de seu harém.
Destacavam-se, antes de tudo, pelo fanatismo: "Somos homens, não mulheres. Aquelas que voltarem de uma guerra sem terem conquistado algo devem morrer.
Qualquer cidade que vamos atacar devemos conquistá-la ou nos enterraremos sob suas ruínas. Guezo é o rei dos reis. Enquanto ele viver, não temeremos nada.
Guezo deu-nos um novo dia. Somos suas mulheres, suas filhas, ele nos alimenta".
Apesar disso, Guezo passou para a história como um soberano que reduziu os sacrifícios humanos, ao ordenar, por exemplo, que as mulheres do palácio não fossem sacrificadas após sua morte.
Treinadas como soldados, elas eram obrigadas ao celibato, a não ser aquelas que o rei escolhia para serem suas esposas ou para dar a seus melhores guerreiros.
O corpo das amazonas contava com cinco mil mulheres, repartidas em três brigadas e vários regimentos, sob o comando único de uma guerreira que tivesse se destacado em combate.
Sua missão era estar perto do rei e só atacar segundo sua ordem; como disciplina: acostumar-se ao sofrimento e matar, sem cuidar da própria vida.
Foi também com esse regimento de elite, verdadeira tropa de choque, que o neto de Guezo, Behanzin, que exerceu um governo de terror, mascarado por uma leve camada de civilização europeia, decidiu enfrentar 3600 homens enviados pela França.
Durante quatro meses, os combates foram sangrentos e cruéis, sobretudo porque o rei contava com a obediência cega de suas amazonas que lutavam sem tréguas e com ferocidade incomum.
Há testemunhos que afirmam ter encontrado os restos de um grupo de soldados senegaleses que tiveram o coração comido pelas amazonas; ademais, sabia-se que as guerreiras bebiam gin inglês, antes de entrar em batalha, o que as colocava num "indescritível estado de excitação".
No final, a expedição francesa, apesar de contar apenas com 1.700 homens, saiu vitoriosa. O rei Behanzin, com pouco mais de mil homens e apenas 100 amazonas, incendiou a capital, fugindo para o Togo com alguns súditos fiéis.
Com a derrota do rei tirano, a existência das guerreiras não teria mais sentido, visto que naufragava a fonte geradora que as impulsionava a lutar.
O que impressiona é que o rei não conseguira tamanha ferocidade, lealdade e fanatismo dos soldados.
Talvez o motivo que explique seja a antiga estrutura social do reino de Daomé em que o soberano detinha todo o poder, inclusive o de vida e morte de seus súditos, em que ser mulher era contar muito pouco, era ser um número a mais.
Nessa concepção, pertencer ao regimento do rei significava estar, de certo modo, próximo ao poder, agindo como homem, em situação de domínio (inclusive sexual), inspirando medo e respeito, decidindo sobre a vida.
Todavia, sendo as amazonas uma exceção na tradicional sociedade africana, seu destino seria fugaz como seu aparente poder.
Com a morte do rei, morreria o quase mito das guerreiras. Voltaria a mulher ao seu lugar submisso e passivo.