Dentre as inúmeras funções das máscaras está a de reanimar os mitos que sustentam os costumes sociais, Por meio de seu uso os homens cumprem seus ritos cosmogônicos e tomam consciência de seu lugar no universo.
Citemos as danças em procissões mascaradas que fecham os trabalhos de cultivo, semeadura e colheita na maioria das culturas primitivas de base agrícola, mais arcaicamente presentes entre os povos da África negra.
Os dançarinos mascarados kurumbás , por exemplo, fazem gestos e movimentos circulares de cabeça que reproduzem o ato criador de seu herói civilizador Yrigué e de seus filhos, descendentes do céu.
A propósito, na África e em muitas outras partes, as máscaras não se acham somente associadas às práticas agrárias, mas também aos ritos iniciáticos e funerários, conferindo aos homens a possibilidade de compreensão do drama coletivo que dá sentido às suas vidas.
As máscaras presidem cerimônias importantes, são insígnias de grau e de poder, fazem-se presentes tanto na vida como na morte, regem ritos sazonais e constituem-se em elemento de controle social, visto que permitem a certos iniciados a comunicação com seus ancestrais e hostes elevadas que protegem ou ameaçam a vida de seu grupo.
Compreendamos melhor essa relação nas palavras do etnólogo Claude Levi Strauss:
Animada por seu portador, a máscara transporta a divindade até a terra, ela revela a realidade e a mistura à sociedade dos homens.
Inversamente quando se mascara o homem atesta a sua própria identidade social, manifesta-a, codifica-a a custa de símbolos. A máscara é a mediadora por excelência entre a sociedade e a natureza, e a ordem sobrenatural subentendida.
Portanto cumpre ressaltar, as máscaras se revestem de um poder mágico especial.
Por meio delas podemos ter acesso ao mundo invisível e, por isso não são inócuas.
A máscara e seu usuário se alternam e se mesclam numa só (inter) face.
Estabelece-se assim, por intermédio dela, uma ponte onde supostamente se condensa a força vital capaz de apoderar-se daquele que se coloca sob sua proteção.
Fonte: Máscaras - As mil faces de Deus
Por Paulo Urban
As máscaras, como os rituais, são reflexos de nosso subconsciente humano e têm o poder de alcançar a base do que somos feitos.
Tendemos a ver a máscara, somente como um disfarce, mas o certo é que ela vai mais longe, pois nesta tentativa, adquirimos uma nova energia e nos transformarmos em algo mais.
Uma máscara conecta o seu portador com a energia do arquétipo que reside dentro do inconsciente coletivo.
A máscara seria uma mediadora entre o "ego" e o "arquétipo", o "mundano" e o "sobrenatural", o "sagrado" e o cômico".
Conecta, também, o presente com o passado e o indivíduo com o coletivo.
Com o uso das máscaras, damos forma a nossos sonhos, medos e fantasias.
Trabalhando com elas, construímos pontes dimensionais, estendemos nossos limites e reconhecendo através dos espíritos exteriores os que habitam em nosso interior.
Dando forma ao desconhecido, estamos retratando nossos medos, possibilitando assim, um maior aprendizado sobre nossas emoções.
Fonte: As danças sagradas e as máscaras
Rosane Volpato
Foto: Phyllis Galembo - West African Masquerade