Anotações sobre uma conversa, por Andre Magnin
Abomé, Benin, abril de 1995
Eu sou Cyprien Tokoudagba, artista do Benin; tenho 58 anos. Sempre disse que tinha nascido em 1954, mas na verdade nasci em 1939. Para dizer a verdade, comecei a mentir a respeito de minha idade para poder entrar no serviço público. Em 1987, comecei a trabalhar como restaurador no Museu de Abomé.
Dei início às minhas atividades artísticas há cerca de 35 anos. No início modelava barro e argila, depois passei a trabalhar com cimento e areia. Essa foi a minha determinação. Meu pai, Toha, foi tecelão.
Eu também vim ao mundo com um pendor pela arte. Na escola primária desenhava com paixão e recebi muitos elogios e reconhecimento por parte dos professores.
É um dom poder fazer com as mãos aquilo que se deseja fazer. Já ganhava dinheiro na minha mocidade pintando quadros.
O avô do meu avô veio da região de Mono, na fronteira com o Togo, e se instalou em Adja-Tado. Foi um grande guerreiro.
Por esse motivo o rei Uegbadjá deixou sua família se estabelecer em Abomé e o nomeou primeiro-ministro. O pai de meu avô, Adedji, foi primeiro-ministro do rei Ghezo. Meu avo– foi primeiro-ministro do rei Glelë.
Depois de sua morte, seu filho, rei Behanzin o conservou no cargo e lhe deu nome novo, Tokoudagba, que usamos até hoje.
Quando era jovem e a meu pedido, meu pai me enviou para uma espécie de monastério.
Para ser mais exato, enviou-me a um sacerdote vodu, um mestre da iniciação.
Essa iniciação durou seis meses, durante os quais se deve ficar junto ao sacerdote. Uma vez lá, não se pode voltar atrás.
É uma experiência dura, pois existem regras e leis que devem ser observadas e a disciplina é rígida.
Os segredos dos quais tomamos conhecimento não podem ser revelados nunca.
Deve-se resistir a todas as tentativas. Trata-se de um aprendizado.
Aprende-se a fazer feitiços, a utilizar a força das palavras para colocar em ação as fórmulas e a conhecer os segredos das plantas.
É a qualidade do conhecimento que dá força ao feiticeiro.
Todos esses segredos não podem ser revelados, a não ser que nos tornemos feiticeiros e alguém nos peça para ser iniciado.
Deve-se guardar tudo na cabeça e ter a capacidade de transmitir tudo ao iniciante. Hoje sou apenas um aluno.
Daqui a dois anos serei, com certeza, um grande iniciado.
No vodu cada família de iniciantes reza a um ou mais deuses.
No tempo da escravidão, todos partiam acompanhados de seus respectivos deuses do vodu. Somente eles conseguiam dar-lhes força.
Em 1989 deixei o Benin pela primeira vez, por ocasião da exposição Magiciens de la Terre, em Paris.
Foi a primeira vez que minha arte foi mostrada fora do meu país. Foi um grande acontecimento para mim. Durante várias semanas estive em contato com artistas do mundo inteiro.
Para mim a arte ë algo que vem de dentro. A arte é a representação de pensamentos e conhecimentos. É um lugar elevado, um castelo para filósofos.
O valor de um artista é grande demais para se poder explicá-lo. A arte está dentro da minha cabeça.