A divindade principal do Benin é a serpente, conhecida a partir de seu culto na cidade de Uidá.
Supõe-se que essa divindade veio do reino de Ardra.
De acordo com um dos os mitos, uma enorme serpente, saída do meio do exercito inimigo, os Ardras, veio até o povo de Uidá e permaneceu no meio deles.
Ao invés de seguir os seus instintos e morder, como os animais de sua espécie, ela acariciou e abraçou a todos.
Diante desse acontecimento, o chefe dos sacerdotes segurou-a corajosamente erguendo a píton perante o exercito.
Impressionados pelo prodígio, os guerreiros prostraram-se diante desse animal dócil, e em seguida partiram sobre os inimigos, com tanta coragem que acabaram por derrotá-los.
Essa vitória foi atribuída à vinda da serpente, à Dangbe.
Ha outro mito que atribui a adoração das serpentes píton, a um incidente que teria ocorrido na guerra fratricida que confrontou o reino de Danxome com o dos Houedás, atual Uidá.
Após a derrota dos Houedás, o rei Kpasse, refugiou-se dentro da grande floresta para escapar aos valentes guerreiros do rei Ghezo, cuja única missão era a de captura-lo, lançando-se em sua perseguição.
Para deter a sua marcha, apareceram serpentes de todos os cantos, fazendo com que os inimigos do rei Kpasse fugissem, salvando-o desses guerreiros.
Em sinal de reconhecimento, o rei erigiu três abrigos na floresta para cultuar as serpentes e fez delas o totem (emblema) dos Houedas.
Essas construções perduraram por séculos, e ali estão até hoje.
O deus serpente é chamado de Dangbe ou Damballa, que
desde então tem sido reverenciado, em Uidá.
Em Uidá não se costuma dizer que uma píton morreu, diz-se que "a noite caiu".
A expressão que nessa cultura simboliza a morte de um ser humano é usada também para referir-se a uma píton que acaba de morrer.
Isso evidencia a sua importância, o seu sentido e todo o seu simbolismo diante da historia do povo de Uidá.
Distinguem-se vários tipos de pítons.
A píton "seba" ou "boa" que mede de 8 a 12 metros de comprimento, extremamente venenosa.
Já a píton real, que é inofensiva, é objeto de culto entre as comunidades aliadas à grande família dos Adjovi-Kpehounton, de Uidá que adoram Dangbe.
O templo de Dangbe dedicado ao culto das pítons, as serpentes que protegem as colheitas dos ratos e de outros roedores, está localizado no centro de Uidá.
Nesse templo, a cada sete anos, realiza-se uma grande festa para os adeptos de Dangbe.
Durante o evento 41 virgens saem em busca da água sagrada, usada nas cerimonias de purificação, com suas pequenas jarras chamadas de "Gosin" em fon.
O altar da divindade encontra-se no maior dos abrigos, que também serve como local de preces e invocações para os sacerdotes desse culto.
Os dois outros abrigos são destinados às cerimonias de purificação e exorcismo dos maus espíritos.
Essas serpentes são consideradas os ancestrais da divindade, sendo protegidas e honradas nesse templo que cultua a vigésima geração de pítons.
O templo é mantido pelos sacerdotes de Dangbe, e dezenas de pítons sagradas são mantidas ali.
Uma única porta da acesso à pequena cabana redonda dentro do complexo murado do templo.
Essa construção é feita de concreto e bem no centro dela ha uma área rebaixada em forma de buraco de fechadura.
Para chegar a esse local é preciso descer alguns degraus.
Nas paredes dessa cabana estão pintadas algumas cenas retratando a chegada do vodu e o parentesco das pítons.
Ali dentro estão dezenas de cobras amontoadas umas sobre as outras com seus corpos musculosos e suas cabeças despontando por todos os lados.
Mas essas não são as únicas.
De noite elas são soltas para buscar caça aonde quiserem.
Se alguém encontrar um delas solta pela cidade, irá carregá-la de volta ao templo.
Ninguém parece ter medo desses grandes invertebrados.
Os guias de turismo costumam enrolar algumas delas em volta do pescoço dos turistas para serem fotografados.
Elas nunca são maltratadas pela população local.
São deuses. E como deuses, nunca morrem, eles desaparecem.
O enterro de uma píton segue o mesmo ritual fúnebre de um ser humano.
Seus restos são enterrados à sombra de uma grande árvore, na parte posterior do templo, bem ao lado de onde vem os peregrinos para rezar para os fetiches, deixando sempre alguma oferenda sobre o tronco.
Um fosso construído em forma de serpente estende-se desde o palácio real até a parede do templo de Dangbe.
Sua forma emblemática tem grande significado para os adeptos de Dangbe.
A localização do palácio dentro dos limites do terreno do templo, garante aos nobres grande proteção e força espiritual.
A cada ano; o rei Houedan sai de seu palácio em grande pompa, por esse atalho que serpenteia, e dirige-se ao templo de Dangbe.
Durante essa procissão, as esposas do rei derramam búzios e outros objetos de valor sobre o seu povo.
Com essas cerimonias, os reis reafirmam os limites simbólicos de sua posição social, e os sacerdotes, reforçam os seus papeis como mediadores dos deuses.