quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Igba Odu - Igbadu e o Cosmos Iorubano

Estrutura hierárquica divina

A hierarquia inerente ao panteão ioruba reflete o ideal politico e a estrutura do povo ioruba.
Por conseguinte, o ser supremo (Olodumare) é sumamente respeitado e não pode ser contatado diretamente.
Os outros seres espirituais, entidades, divindades (Irunmale), que são seus ministros atuam como intermediários entre Ele e os humanos.
Nesse panteão, constituído de aproximadamente 1.700 divindades, o cargo de Olorun pode ser descrito como "chefe dos chefes dos sagrados mistérios da alta corte do paraíso".
É o pai de Odudua e Obatala.
Logo abaixo de Olorun, nessa hierarquia está Eleda.
De sua energia desprenderam-se os irunmale que são subdivididos em orixás (energias masculinas) e eborás (energias femininas).
Olorun não possui nem templos nem cultos próprios, e os seres humanos não podem mencionar o seu nome.
Os irunmale são os intermediários entre Ele e os seres humanos.
Os Irùnmòlés (Concebidos com a luz do Orún), seres que não tiveram existência terrena, entre os quais está Órúnmílà, nome que se traduz como "Só o céu conhece aqueles que se salvaram), o primeiro profeta da religião Ioruba.
Aquele que só passou pela terra para terra para trazer os ensinamentos de Olofi.
Outros Irunmole são Anhá (da música de percussão), Poolo (da música de cordas), Irawó (das estrelas), Oshupá (da lua), Agba Lodé (da imensidão do espaço), etc.
E as 201 energias de esquerda chamadas Igbàmòlé, que significa “Nascido com luz”, espíritos que nasceram, morreram na terra e ganharam lugares destacados no Orún.
Dentre estes estão os Eguns (espíritos de ancestrais, de Iyalorixas, Babalorixas, Iworos, Babalawos, e daqueles
que foram personagens importantes da historia Yorùbá, como reis e rainhas.
A noção aprofundada sobre os Igbamole e os Irunmole deve-se em grande parte aos babalaôs, sacerdotes de Orunmilá, responsáveis pela transmissão do conhecimento.
Toda existência no universo da Criação ioruba se processa em dois planos:
O mundo visível, o Aiyê, universo concreto no qual habitamos, e o mundo invisível, Orun, onde moram os seres sobrenaturais e os “duplos" de tudo o que se encontra manifestado no Aiyê.
Não são mundos independentes ou rigidamente separados.
Na realidade podemos afirmar que o Aiyê é o reflexo da realidade divina que acontece no Orun.
Para o negro-africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a realidade, o sentido, o ser que através das aparências se manifesta.
Sob toda manifestação viva reside uma força vital: desde Deus a um grão de areia, o universo africano é um continuo.
Um universo de correspondências, analogias e interações, no qual o homem e todos os outros seres constituem uma única rede de forças.
Aiyê e Orun constituem uma unidade e, por serem expressões de dois níveis da existência, são inseparáveis e complementares.
Essa unidade é simbolizada pelo Igba-Odu, cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o Aiyê e a parte superior representa o Orun.
No seu interior estão os "elementos indispensáveis à existência individualizada".
Poderia ser representada por uma figura e sua imagem refletida no espelho, há plena correspondência entre elas, uma é apenas a imagem invertida da outra.
Podemos dizer que nessa configuração o Aiyê é a imagem refletida do Orun.
Essa analogia explica o motivo pelo qual os Odus (mistérios), terem a sua ordem de precedência invertida ao chegarem do Orun para o Aiyê.
Ori é o Orixá pessoal, o primeiro a ser louvado, por ser a representação particular da existência individualizada (a essência real do ser).
É aquele que guia, acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.
Ori tem muitos significados em ioruba- o sentido literal é a cabeça física, símbolo da cabeça interior (Ori Inu).
O Orixá pessoal conhece as suas necessidades caminhada terrena, possuindo os recursos adequados para a reorganização dos sistemas pessoais deste.
Esse oriki elucida o que foi dito acima:

Ori lo nda eni
Ori é o criador de todas as coisas
Esi ondaye Orisa lo npa eni da
Ori é que faz tudo acontecer, antes da vida começar
O npa Orisa da
É Orixá que pode mudar o homem
Orisa lo pa nida
Ninguém consegue mudar Orixá
Bi isu won sun
Orixá que muda a vida do homem como inhame assado
Aye ma pa temi da
Aiyê, não mude o meu destino
Ki Ori mi ma se Ori
Ori não deixe que as pessoas me desrespeitem
Ki Ori mi ma gba abodi
Ori não me deixe ser desrespeitado por ninguém