Nàná Buruku (Nàná Bùkùkú, Nàná Brukung) é uma divindade muito antiga.
Seu culto abrange uma área extensa, que vai
de leste além do Niger, a oeste além do Volta e ao nordeste ate Gana.
No leste o culto desse vodun confunde-se com o de Xapanã Obaluaê-Omolu, já no oeste diferencia-se completamente deste, onde é conhecido por Nàná Brukung ou simplesmente Brukung.
É preciso ressaltar que Nàná é um termo de deferência empregado para as pessoas idosas e respeitáveis na região de Axanti e que esse mesmo termo significa “mãe” para os Fon, os Ewe e os Guang da atual Gana.
O local de peregrinação para seus adeptos é Siadé ou Schiari, na região do Adelê do atual Gana, perto da fronteira do Togo.
É difícil saber, quais são os laços existentes entre todas as divindades cujo nome é precedido de Nàná ou Nèné.
Elas são chamadas de Inie e parecem todas desempenharem um papel de deus supremo.
Em todos esses templos há um assento sagrado salpicado de vermelho, em forma de trono Axanti, reservado à sacerdotisa de Inie, no qual só ela pode tocar.
Todos os iniciados ligados ao templo usam grandes bengalas salpicadas de pó vermelho e, em torno do pescoço, usam cordinhas trançadas sustentando uma conta achatada de cor verde.
Em Atakpamê, no extremo oeste do Togo, há um templo importante para Nanã Buruku.
Ali vivem os Aná, originários de Ifé que teriam deixado, talvez, antes da chegada de Odùduà.
Na mitologia Fon, foi Nana Buruku (Bulucu) quem criou o mundo, com a ajuda da serpente sagrada, dando vida aos animais, a flora e aos minerais.
Nana teve um casal de filhos gêmeos a quem batizou de Mawu-Lisa e lhes deu a incumbência de povoar a Terra e criar os homens.
Com o nascimento de Mawu e Lissa, estabeleceu-se a dualidade, trazendo equilíbrio ao mundo e aos seres viventes.
Cerimônias para Nanã Buruku
O povo Txeti faz parte dos grupos que emigraram de Ifé, antes da chegada de Odùduà.
São populações isoladas que apresentam uma estrutura social pouco desenvolvida, onde os chefes religiosos garantem a coesão social.
Em Txeti, as cerimonias para Nanã Brukung, realizam-se ao redor de uma árvore chamada odan, um grande fícus que produz sombra fresca no meio dessa terra árida.
Os adeptos, de idade avançada, fazem evoluções ao som de tambores Apinti e sinos de percussão.
Eles têm a cabeça raspada com um círculo desenhado em volta, feito com osùn (pó amarelo).
E marcas brancas feitas com efun (giz) sobre a testa e as têmporas.
Vestem-se com uns panos, presos acima do peito ou enrolados à cintura, deixando os ombros descobertos.
Seus braços e colo são adornados com pulseiras e colares.
Todos trazem na mão um galho salpicado de vermelho, usado como cajado.
A dança consiste num desfile lento que rememora sua peregrinação de Ifé a Schiari.
Os dançarinos apoiados em seus bastões andam um pouco de lado, com passos lentos e circunspectos.
Os pés tocam o chão com precaução e suas atitudes evocam a fadiga de uma longa viagem.
Os cânticos, cujas letras são em Aná (Ioruba arcaico), fazem alusões ao êxodo:
Arua nona kò jina, a sin wa nona kò jina.
Enganaram-me dizendo que não longe, acompanhem-me, não é longe.
Vez por outra, as cantigas são interrompidas, e os adeptos inclinam-se para frente e depois arqueiam o corpo para trás, para saudar.
Neste momento, aqueles que assistem à dança vêm ampara-los para evitar que caiam.
Em seguida, dançam com precaução, a pequenos passos, inclinando-se para a esquerda e para a direita:
Okè wa kò rigùn, Okè wa yo Botolé mọfo, o ka jọdun.
Onilé wa nílé, Alẹjo wa berena Binie fun mi mo gba, biniẹ tan mi o nko bere.
Para o alto não podemos subir e do alto escorregamos.
O dono da casa está em casa e o estranho pede caminho.
Vamos celebrar a festa do ano, e ao voltarmos, não falemos do que vimos.
Se Inie me dá, eu tomo.
Se Inie recusa, eu não peço.
Algumas vezes os tambores param e iniciados também interrompem a dança.
Formam uma roda, voltados para o centro estreitando seu cajado, com as mãos fechadas umas sobre as outras.
Um oríkì descreve bem esse ritual:
Proprietária de um cajado.
Salpicada de vermelho, sua roupa parece coberta de sangue.
Orixá que obriga o Fon a falar nagô.
Minha mãe era inicialmente da região bariba.
Água parada que mata de repente.
Ela mata uma cabra sem utilizar a faca.