Acima de tudo e se todos está Nzambi Mpungu (um dos seus títulos) Deus criador de todas as coisas.
Alguns povos bantos chamam Deus de Sukula outros de Kalunga e outros nomes ainda associam-se a estes.
O Culto a Nzambi não tem forma nem altar próprio.
Só em situações extremas eles rezam e invocam Nzambi, geralmente fora das aldeias, em beira de rios, embaixo de árvores, ao redor de fogueiras.
Não tem representação física, pois os Bantos o concebem como o incriado e que representá-lo seria um sacrilégio, uma vez que Ele não tem forma.
No final de todo ritual Nzambi é louvado, pois Nzambi é o princípio e o fim de tudo.
Nzambi é considerado o deus supremo pelo povo Banto.
Nzambi é dito ter criado a humanidade.
Quando o primeiro homem da criação desviou-se para a maldade, Nzambi enterrou-o.
Nzambi criou um novo em seu lugar.
E fez da madeira uma esposa para ele.
A raça humana nasceu deste par..
Nzambi Mpungu é um ser, invisível, muito poderoso, que criou todos os homens e coisas.
Deu aos homens os fetiches, Nkisi, que para protegê-los.
Nzambi intervém na criação de cada criança, e pune aqueles que violam suas proibições.
Não existe um culto específico a Nzambi, pois é inacessível ao contato direto com os humanos.
Nzambi, o mestre supremo, intocável, foi aquele que povoou a Terra com os homens para tirar-lhe a vida algum dia, seja novo ou velho.
Entre suas leis há uma, nkondo Nzambi, ou seja, as proibições de Deus, cuja violação constitui um ku Nzambi do sumu (uma afronta a Nzambi), punida com lumbi do lufwa (uma morte má).
As várias designações de Nzambi para os Bantos
Muitos são os nomes por que os diversos povos bantos designam a Deus: Nzambi, Kalunga, Mulungu, Mukuvu, Muvangi, Umbumbi, etc.
Alexandre Lê Roy, servindo-se de notas do P. Sacleux, explicou filologicamente as noções que os Bantos têm de Deus pelo nome que lhe dão.
A primeira grande série de qualificativos anda à roda do infinito ku-amba, que quer dizer falar, agir.
A mesma noção se encontra noutros radicais: umba, vanga, panga, lunga..., mais no sentido de fabricar.
Uma secunda série é a que tem eza por raiz. Pode traduzir-se por ter autoridade, ter poder.
Outra é a raiz ima (viver).
Finalmente, uma última expressão, Mungu, Mulungu, que se traduz por O do Alto, O do Céu.
Vê-se por isso que, etimologicamente, pelas várias denominações de Deus, Ele é essencialmente criador e senhor do mundo.
Não se pode dizer que, para a maioria dos Bantos, Ele não seja providente, mas essa providência é sui generis.
O Banto preocupa-se essencialmente com os espíritos, com a magia.
Só a título de exceção reclama diretamente a ajuda de Deus.
Deus está no Céu, é ens in se, que não se preocupa com as criaturas, sejam elas espíritos, homens, animais, vegetais ou minerais.
A vida quotidiana do homem recebe, sim, mas é a influência de uma força mística, dos espíritos.
Os Congos bavílis chamam a Deus Nzambi-Mpungu (criador de tudo), que delegou os seus poderes em três espíritos, um dos quais preside aos mares, outro aos rios e o terceiro as florestas.
Fazem-se representar na terra, cada qual, por seu nganga, que é o sacerdote da religião.
Os Cabindas bavílis admitem a existência de vários deuses, o primeiro dos quais é Nzambi, cuja maior influência se faz sentir na geração humana.
O Bunzi, deus da chuva, vive debaixo da terra...
Para os Jingas, Nganga-Nzambi é ente supremo e princípio do bem; Nvunji é o gênio do mal.
Os Bachicongos (Congos impropriamente ditos) e os Bassossos têm Nzambi por ente supremo, princípio do bem, criador de tudo e de influência preponderante na vida como na morte dos homens e dos gados.
Para os Maiombes, todos os feitiços estão subordinados a Nzambi, todo poderoso, razão de todos os fenômenos destituídos de explicação racional.
Samu via Nzambi (coisas de Deus) dizem.
O Nzambi dos Baiacas e Bussurongos é essencialmente bom, criador de todas as coisas, fonte de todos os bens.
Os Bassucos distinguem-se entre Nzambi a Mpungu, do sexo masculino, e Kamona Maueze, fêmea.
É este último que impõe a obrigação de não tocarem nos feitiços “estrangeiros” (kufunduka) e de respeitarem a Kijila (tabu de não comerem certos alimentos).
Para os Bangalas, Nzambi é um Deus poderoso e bom, criador do céu e da terra e de tudo o que se vê. Que governa a chuva, o sol, a lua, o raio e o trovão.
É Ele que lhes dá a riqueza, a saúde e o bom êxito nas querelas.
Nganga-Nzambi é o Deus da geração, o Ngola é o Deus da família.
Quiocos, Lundas e povos afins têm a Nzambi como ente supremo, criador e senhor do mundo.
Também O designam por Kalunga.
Contudo, predominantemente e em geral, chamam a Deus, Nzambi, Mukulu Nzambi (O Grande Deus).
Também os povos do distrito de Cuanza-Sul O denominam Nzambi ou Njambi.
O povo de Nano e parte dos nativos de Benguela-a-velha, porém chamam-Lhe Suku.
É por este nome que também as tribos bimbundas e os Nhanecas-Humbes tratam a Deus.
Estes últimos também empregam outras expressões: Huku, Kalunga, Ndiambi. Mas em geral é o primeiro termo.
Os povos do Sul e Sudoeste, de uma maneira geral, chamam a Deus de Kalunga.
Os Ambos assim O chamam, embora em termos arcaicos empreguem em locuções proverbiais e poéticas O designem também por Pamba, Namongo e Mbangu.
O grupo nhaneca-humbe usa também chamar-Lhe Huku e Suku.
Entre os Hereros, o vocábulo Ndiambi (O remunerador, O Benfeitor) é empregado no conto e muitas vezes em aposição como de Kalunga: Kalunga Ndiambi.
Segundo Pettinen, citado por Carlos Estermann, os Dongas admitem que Kalunga tinha um filho de nome Musivi, o qual teria existido dias antes da criação do mundo.
Embora a maioria dos velhos afirme que Musivi é omuna kua Kalunga (filho de Deus), a sua atividade, porém, é «quase sempre mencionada como paralela» a deste.
Entre os Ambos existe a crença num ser quase igual a Deus, Nambalisita, criador de si mesmo, incapaz de destronar Kalunga, e este de destroná-lo.
Temos assim, e em resumo, que os povos bantos de Angola, os do Norte designam a Deus por Nzambi, os do Centro por Suku e os do Sul e Sudoeste por Kalunga.
Nzambi insere-se na série de qualificativos que se aproximam do infinito kuamba (falar, agir); Kalunga vem do radical lunga (cujo l soa como r e provém do verbo Ku- lunga (construir, fazer).
(Kalunga-fabricar); e Saku traduz-se por O do Alto, O do Céu. Daqui se conclui que os povos de Angola, etimologicamente, têm de Deus um conceito de Criador, de Senhor do Céu.
Fonte:
SANTOS, Eduardo. Religiões de Angola.
Camionete Asa, Etudes Bakongo (Bruxelas 1921; pp.170 ff.)
traduzido por Edwin W. Smith em Smith (ed.), ideias africanas do deus:
Um Symposium (2o ed; Londres, 1950), p.159