a dos meus avós, a do meu povo de lá e que me deixam tão sozinho?
Como sonhei falar minha mamãe África,
oferecer- lhe. em meu peito, nesta noite turva,
os meus pertences de vento, sombra e relembrança,
o meu nascimento, a minha história e o meu
tropeço
que ela não sabe, nem viu e eu sendo filho dela!
0' mamãe, as minhas fraldas estão sujas de brancor
e ele cheira tanto!
Às vezes penso, em minha solidão, na noite turva,
que você me está me chamando com o tambor do vento.
Abro a janela, olho a cidade, as luzes me trepidam
e eu perco o condão de te achar entre os odores vários
e tanta dor de gente branca, preta, variada
gama e tessitura de almas, ânsias, medo!
Como sonhei falar, sozinho, à minha mamãe África,
e oferecer-lhe, em meu peito, nesta noite turva,
os meus presentes de vento, sombra e relembrança,
o meu nascimento, a minha história, o meu tropeço
que ela não sabe, nem viu e eu sendo filho dela!
Oswaldo de Camargo é jornalista, poeta, contista, novelista e músico amador.
Desde os 17 anos, Oswaldo de Camargo dedica-se a literatura e a seu acervo literário, um dos mais brilhantes quando o assunto é negritude.
Nascido em 1.936, em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, ele é um dos responsáveis pela inclusão da literatura negra no circuito cultural do Brasil.
Dono de um raciocínio ágil e aguçada inteligência, Oswaldo de Camargo surpreende por todo conhecimento que possui sobre os escritores negros brasileiros e livros que tratam da temática negra.
Sobre este assunto, publicou em 1987 "O Negro Escrito", pela Imprensa Oficial do Estado, um dos raros trabalhos a tratar dos ainda marginalizados autores negros.