sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Solano Trindade - Poeta pernambucano

Sou negro
a Dione Silva

Sou Negro 
meus avós foram queimados 
pelo sol da África 
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs 
Contaram-me que meus avós 
vieram de Loanda 
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo 
e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi 
Era valente como quê 
Na capoeira ou na faca 
escreveu não leu 
o pau comeu 
Não foi um pai João 
humilde e manso 
Mesmo vovó não foi de brincadeira 
Na guerra dos Malês 
ela se destacou 
Na minh'alma ficou 
o samba 
o batuque 
o bamboleio 
e o desejo de libertação...

Muleque

Muleque, muleque 
quem te deu este beiço 
assim tão grandão? 
Teus cabelos 
de pimenta do reino? 
Teu nariz 
essa coisa achatada? 
Muleque, muleque 
quem te fez assim? 
Eu penso, muleque 
que foi o amor...

Olorum èke


Olorum Ekê
Olorum Ekê 
Eu sou poeta do povo 
Olorum Ekê 
A minha bandeira 
É de cor de sangue
Olorum Ekê 
Olorum Ekê 
Da cor da revolução 
Olorum Ekê 
Meus avós foram escravos 
Olorum Ekê 
Olorum Ekê 
Eu ainda escravo sou 
Olorum Ekê 
Olorum Ekê 
Os meus filhos não serão 
Olorum Ekê 
Olorum Ekê 

Solano Trindade

Poeta pernambucano, filho de um sapateiro, nascido em 1908. Emigrou para São Paulo. Foi operário e colaborou na imprensa. Trabalhou no cinema e manteve um grupo teatral
folclórico por vários anos. Escreveu Poemas de uma vida simples e Cantares do meu povo