Contas africanas
Há cem mil anos já se usavam colares de contas
À primeira vista não passam de um punhado de conchas furadas
de um lado ao outro, mas segundo um estudo agora publicado na Science, são a
prova de que há cem mil anos já os seres humanos usavam "joias".
Uma equipe de cientistas britânicos, franceses e israelitas
assegura num estudo agora publicado na revista Science: há cem mil anos os
humanos já usavam colares de contas como adorno.
A ideia é sustentada pela análise de três conchas,
semelhantes a pequenos búzios, encontradas em regiões da bacia mediterrânica, atualmente
nos territórios de Israel (Skhul) e da Argélia (Oued Djebbana), na década de
40.
Há dois anos, este grupo de arqueólogos, liderado por Marian
Vanhaeren, do Instituto de Arqueologia da University College de Londres,
descobriu numa região da África do Sul aquelas que eram até hoje as provas mais
antigas de artefatos com funções de ornamento (sempre as mesmas conchas), com
75 mil anos.
Com o propósito de encontrar mais elementos acerca da origem
do pensamento simbólico e do chamado comportamento humano moderno, a equipa
resolveu pesquisar em vários museus.
Foi justamente no Museu de História Natural de Londres, e no
Museu do Homem, em Paris, que descobriram estes achados, que aí permaneciam
esquecidos.
Depois de analisarem os sedimentos que cobriam as conchas,
os cientistas fizeram a datação e concluíram que estas tinham entre 90 a 100
mil anos.
Estudaram ainda a forma dos orifícios e verificaram que não
foram produzidos acidentalmente, defendendo que estas são as contas mais
antigas que se conhece, e que terão sido usadas em colares ou pulseiras.
A serem verdadeiras as conclusões desta equipe, isso
significa que o uso deste tipo de ornamentos surgiu 25 mil anos antes do que se
pensava.
"O fato de a mesma espécie de concha ter sido
encontrada em locais diferentes, com características que indiciam a mesma
utilização, sugere a hipótese de que uma tradição de manufatura de contas de
colar já existia no Norte de África e no Médio Oriente antes de os seres
humanos anatomicamente modernos terem chegado à Europa", assegura
Vanhaeren.
Acresce a isso o fato de as conchas terem sido trazidas do
mar, que fica a uma distância de cerca de 200 quilômetros dos locais onde foram
encontradas, o que revela a intencionalidade desta ação.
As manifestações artísticas (como pinturas em cavernas ou a
construção de instrumentos musicais) e os adornos pessoais são entendidos pela
Arqueologia como provas da capacidade de pensamento simbólico, o que está
associado ao chamado comportamento humano moderno.
Até hoje se pensava que essa capacidade tinha emergido há 40
mil anos, quando as populações se estabeleceram na Europa.
Novos dados sugerem que as coisas podem não se ter passado
de uma forma tão abrupta, e que a evolução comportamental terá ocorrido de
forma gradual em diferentes zonas geográficas.
Escavações realizadas na Etiópia provaram que o Homo sapiens
já era anatomicamente moderno há 160 mil anos.
Mas em termos de comportamento, a questão permanecia em
aberto.
Moeda
Na Antiguidade, as mercadorias produzidas numa comunidade
serviam como meio de pagamento para suas transições comerciais (escambo).
Couro, fumo, azeite de oliva, sal, mandíbulas de porco,
conchas, gado e até crânios.
Antes do surgimento da moeda todos ficavam procurando novos
instrumentos de troca capazes de medir o valor dos bens.
Antes do aparecimento da moeda metálica tal como a concebemos
e conhecemos hoje em dia, houve predomínio de pré-moeda, isto é, forma(s)
percursora(s) daquela, natural ou trabalhada rudimentarmente por processos
artesanais, de dimensões, formatos e cores estranhas, curiosas e inéditas.
Os animais são os têm o lugar de destaques, entre inúmeros
meios de troca já testados antes da criação da moeda.
O sal circulava em vários países, servindo como meio de
pagamento (dai vem o termo salário), como exemplo, a Libéria, onde trezentos
torrões compravam um escravo.
Entre as versões primitivas de moeda, as conchas foram, sem
duvida, as mais difundidas.
Especialmente os cauris (espécie de búzio), que nos séculos
XVII e XVIII virou a moeda internacional; metade do mundo entesourava e
comprava cauris.
Algumas dessas pré-moedas, tiveram inclusive vantagens em
relação à moeda metálica, para já não falar das vantagens idênticas como
pequeno volume, divisibilidade, durabilidade, facilidade de armazenamento, contagem
e transporte (Exemplo: búzios, cauris, zimbos, corais, contas, dentes, etc.).
Mais: alguns tipos de pré-moeda como os cauris (em África,
na Ásia, e em certas regiões da América) desempenharam durante séculos, um
papel importante em regiões e povos determinados, rivalizando com a própria
moeda metálica, sobrepondo-se inclusive a ela, subalternizando o próprio ouro â
bastante escasso em épocas longínquas -, como ocorreu e está confirmado ter
acontecido.
Funcionaram ao longo de séculos, como se disse já,
desempenhando as funções de verdadeira moeda internacional, com cotação e
equivalências plenamente estabelecidas e aceites, e por último com
características até de verdadeira moeda forte.
O ouro e a prata ganharam preferência rapidamente, por ter
uma beleza, durabilidade, raridade e imunidade, raridade e imunidade à
corrosão.