Indumentária africana
Cauanã (origem tsonga) é o nome que se dá, em Moçambique, a
um pano que, tradicionalmente, é usado pelas mulheres para envolver o corpo,
fazendo às vezes de saia, podendo ainda cobrir o tronco e a cabeça.
Durante o aleitamento os bebes ficam em contato físico
permanente com as mães que, ao longo do dia, carregam-nos nas costas,
embrulhados numa Cauanã especial, o ntehe.
Utilizada largamente em Maputo, a Cauanã é vendida por
ambulantes.
A riqueza de cores e motivos constitui-se numa
característica da riqueza cultural do país.
As origens da Capulana
Na África oriental onde se fala suaíli, diz-se que este modo
de vestir surgiu
Em meados do século XIX, quando as mulheres começaram a
comprar lenços (em suaíli diz-se leso) de tecido de algodão estampado e
colorido, trazido pelos mercadores portugueses do Oriente para Mombaça.
Em vez de comprar um a um, mandavam cortar seis quadrados de
uma vez, dividiam este pano ao meio e coziam o lado mais comprido fazendo uma capulana
de 3x2 lenços.
Depois era só envolver o corpo, amarrar com mais ou menos
estilo e a moda impunha-se à medida que cada vez mais mulheres faziam o mesmo.
Claro que os comerciantes não tardaram em encomendar aos
fabricantes, na Índia ou noutros lugares da Ásia, não apenas lenços mas panos
com a largura e o comprimento que as mulheres pretendiam.
O estampado das capulanas era inspirado no sari indiano e no
sarong indonésio, com os motivos maiores no centro e uma barra a toda a volta.
Nos nossos dias os motivos são cada vez mais ao gosto
africano, procurando os nossos diligentes comerciantes asiáticos ir ao encontro dos gostos
e preferências das suas clientes.
Há uma coisa que distingue a Cauanã que se usa em Moçambique
das que vêm dos outros países mais ao norte:
Aqui não se usam as legendas impressas que caracterizam as
capulanas do Malawi, Quênia ou Tanzânia e raramente se veem retratos de
dirigentes políticos ou religiosos.
Foi imortalizada na literatura de Marcelo Panguana.
trecho do poema:
Retalhos da vida, revolteando as entranhas de quem as
escuta.
Atenção o que aqui se conta, está a acontecer agora!, em
qualquer parte do mundo.
E tu bailas, Maria, o streep-tease das batucadas da tua
amargura, que a embriaguez revolveu-te a língua.
Desatas o lenço e a capulana.
Da blusa já levantada, espreitam os seios surrados de mil
beijos, desfraldas as cortinas dos teus segredos, és indecente, Maria!
Porque escondes os olhos, Maria?
Talvez te envergonhes dos teus actos, talvez te arrependas
do teu relato, ou mesmo te revoltas contra a sociedade que te conduziu aos
caminhos da tragédia.
As cicatrizes do amor rasgaram as crostas e jorraram um
líquido sangue que escorre pelas curvas das tuas pálpebras.
outro poema:
Quem És Tu, Moçambicana?
Do norte de Moçambique vislumbro-te,
mulher que julga o mundo
através de uma foto indefesa.
Moçambicana coberta desse pigmento
que provem da terra,
pareces o que jamais no meu mundo existiu.
Esse pano que levas na cabeça,
é para te proteger do sol por demais quente?
Ou é para transpareceres
os costumes do teu místico local?
Estátua imóvel no silêncio vivo,
olhas-me desafiando-me,
para onde me queres levar?
Olho-te...
procurando saber que omites
com o teu olhar sábio,
procurando encontrar parecenças
comigo na tua expressão,
desejando sentir aquilo
que só tu me podes dar.
Mãe, avó, sábia, feiticeira,
protectora, simples mulher,
quem és tu mulher revestida
pela magia da nossa Mãe?
Nelson Ngungu Rossano - poeta neo-afro-luso mestiço