sexta-feira, 2 de março de 2012

Contas africanas


Ha pouca coisa na África de custo moderado, ou paga-se muito barato ou muito caro.
O valor das contas varia nesse patamar.
Ha quem pague por um simples colar de sementes coloridas ou a uma pepita de vidro da Caldeia de 3000 anos de idade.
Um visitante na África depara-se com toda sorte de contas, desde as de um rosário muçulmano, àquelas usadas por mulheres Masai no Quênia e na Tanzânia, em seus colares elaborados.
Elas estão presentes tanto nas vestimentas tribais Ndebele sul-africanas quanto nos ricos trajes dos reis nigerianos.
Encontram-se por toda África, desde os mercados marroquinos às feiras do Senegal.
As contas são um meio de vida para os africanos.
Os colecionadores dividem as contas de vidro e argila em dois períodos:
Antes e após a chegada dos europeus na África

Early African Beads - Contas antigas - período pré-descoberta

Na era pré-cristã as contas eram frequentes no Egito, sendo a mais comum aquela feita de faiança, usando-se o pó de quartzo, um precursor do vidro, associado ao cobre, adquirindo tonalidades verdes ou azuladas.
Essas peças podem ser vistas em museus, nas coleções egípcias de faraós.
A joalheria era uma faceta muito importante na indumentária desse povo, de reis a súditos.
Ate mesmo animais de estimação eram adornados.
Os materiais variavam de vidro e ouro a pedras semi-preciosas e conchas.
Mas a joalheria não era apenas um adorno.
Pingentes de ouro eram usados como insígnias para denotar a classe alta.
Os búzios eram usados como talismãs para aumentar a fertilidade.
Amuletos enfeitados de contas protegiam contra os maus espíritos e detinham poderes curativos.
As joias eram elementos essenciais para acompanhar os mortos em suas viagens para o outro mundo.
O ouro era abundante na Nubia, e as minas do Sinai forneciam pedras preciosas.
Encontravam-se contas em todo oriente médio.
Acredita-se que foram os fenícios que introduziram essas joias trazidas dos sumérios, assírios, e persas, para o Egito ate a costa do Madagascar.
Atualmente é muito difícil encontrar faiança antiga, apesar de ainda descobrir tumbas de faraós, contendo essa belíssima joalheria.
A faiança persa aparece de vez em quando nos antigos baús esquecidos nos depósitos de bazares norte africanos.
Essas peças ainda se vendem, pois nem sempre os comerciantes tem noção de seu real valor.
Bem mais comuns que as anteriores, são os "olhos romanos" datando de 1000 AC a 500 DC.
Apesar de serem peças de troca usadas pelos romanos essas contas provavelmente tinham origens sírias ou bizantinas.
Alguns estudiosos argumentam que são originarias da África subsaariana cujo processo de produção perdeu-se no tempo.
O centro de antigas "contas de olho" é a cidade medieval de Djenne no Mali.
Algumas dessas contas encontram-se em ótimas condições, mesmo estando enterradas nas areias do deserto por volta de dois milênios.
Mesmo sendo um dos povos mais pobres do continente africano os malineses entendem bem o significado e o valor dessas peças.
Eles garimpam meticulosamente o deserto encontrando uma a uma, para vendê-las aos mercadores em Mopti, que reúnem fios com dúzias de contas para vendê-las aos colecionadores.
Muitas vezes os comerciantes misturam outras pedras nesses fios, que são bastante valiosas.
Muitas são de amazonita, quartzo entalhado e faiança de Fustat (provavelmente vindas do Cairo medieval).

African Trade Beads - Contas de troca ou escambo - período pós-descoberta

Introduzidas por mercadores árabes como moeda de troca para comprar marfim, peles de animais, e outros exotismos, durante o longo período de explorações e de colonização.
São de longe as mais populares na África.
Tem variedades formas e tamanhos infinitos e feitos geralmente de vidro ou cerâmica.
As mais famosas dentre elas são a millefiore (mil flores) e a Chevron (feita em de varias camadas).
São estilos venezianos copiados por europeus, incluindo holandeses e artesãos da Europa oriental.
Essas contas foram muito usadas como pagamento por ouro, sal e escravos, entre 1500 a 1900, na África ocidental e do norte.
Os africanos aprenderam rapidamente as técnicas de produção dessas contas europeias e iniciaram sua própria indústria.
Atualmente são produzidas em vilarejos cuja população dedica-se inteiramente a esse artesanato.
As mais interessantes são as Kiffa produzidas na Mauritânia, as de vidro pelos Krobo de Gana, e as de vidro Bida, nigerianas.