segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Bokonon, o adivinho do povo Fon

A palavra "bokonon" significa possuidor de amuletos.
Todo bokonon também é um amassinblotó, ou seja, farmacêutico, ainda que o seu principal dom seja o da palavra e do ritual.
O bokonon da antiga corte de Abomé era um dos principais dignitários do reino, e seus vereditos e análises eram vitais para as decisões políticas.
Todo rei deveria ser iniciado no culto de Fa, vodun do destino, ainda que não exercesse a função de bokonon.
O bokonon que o iniciava jamais poderia encontrar-se com ele depois que ascendia ao trono, pois obrigar ao rei curvar-se diante dele, o que era vedado por protocolo.
Assim, os reis e os príncipes herdeiros jamais eram iniciados em Fa pelo bokonon oficial da corte, cuja presença constante era imprescindível em cada tomada de decisão.
Fa é um tipo de adivinhação por geomancia.
É conhecida como Fa pelo povo Fon do Benin, e Afa pelos Ewe do Togo e de Gana.
Como divindade visionária, Afa enxerga tanto o passado quanto o futuro, e comunica-se com o adivinho através do Agumaga (opele).
Agumaga é a corrente com quatro objetos de cada lado, sejam búzios ou coquinhos, que é manipulada pelo adivinho.
Aquele que tiver alguma pergunta sobre o passado, presente ou futuro que precisa ser respondida, pode ir a um Bokonon (Babalawô em ioruba) para ler o seu Fa (destino).
Os espíritos e o destino intervêm durante o percurso da adivinhação.
É um ritual bastante complexo, porém fascinante, onde Fa revela a vontade de Mawu de maneira pessoal ou impessoal.
Consulta-se o Bokonon tanto para resolver como para evitar problemas.
Quem for consulta-lo deverá trazer presentes em dinheiro ou comida.
O cliente ira segurar um punhado de conchas e pedras coloridas que o adivinho lhe entrega, para sussurrar o seu problema diante desses objetos, que serão depositados em seguida, na frente do Bokonon.
Então o sacerdote irá usar o Agumaga, seu instrumento de adivinhação, para comunicar-se com Afa no mundo espiritual.
O Agumaga consiste em oito cascas de coquinhos de palmeira divididas ao meio, presas numa cordinha ou correntinha.
A corrente segurada pelo meio irá formar um arco tendo em ambos os lados quatro coquinhos.
Esse objeto será agitado no ar e lançado sobre uma esteira.
O modo de obter-se a revelação por Fa (o deus do destino) é pela maneira como a correntinha cai sobre uma superfície apropriada.
O Bokonon observa a disposição dos coquinhos, voltados para baixo ou para cima.
As concavidades dos cocos revelam o que os espíritos e Afa querem dizer.
Através da caída dessas conchas o cascas configura-se um determinado signo que é interpretado pelo Bokonon (sacerdote de Fa).
O primeiro signo ou Kpoli que se revelar responderá à questão.
Ele anota essa configuração no chão ou em um pedaço de papel, pois o padrão apresentado pela corrente irá referir-se a uma coleção de provérbios.
E cada padrão refere-se a seus próprios provérbios.
Através dos provérbios ele conhece a natureza dos problemas e os compara com os detalhes adicionais fornecidos pelo consultante.
O consultante poderá pedir esclarecimentos para que Fa responda às suas perguntas.
Além de detectar a causa dos problemas, Fa também indicará a solução.
As causas podem tratar-se de feitiçaria ou de alguma falha na atenção com um vodun ou ancestral.
A medicação inclui sacrifícios e rezas para os espíritos ou deuses, ou a compra de amuletos ou feitiços preparados pelo Bokonon.
A esse conjunto de procedimentos chama-se Fagbe, ou seja, a linguagem de Fa.
Quando o jogo termina, o adivinho irá analisar a "escrita" de Kpoli que responda a pergunta do cliente e o que é necessário para agradar os desejos divinos.
Tanto no Candomblé como na Santeria seu nome é usado em ritos de purificação:

Sara nyenye bokonon, Sara nyenye bokonon.
Limpe-me completamente, bokonon.

Bocio

Bocio são imagens de madeira feitas por ferreiros entalhadores por encomenda do adivinho de Fa.
São entalhadas sobre uma estaca e recobertas por substancias magicas recobrindo a figura ate esconde-las sob essa camada.
As substancias consistem de sangue, azeite de palma, cerveja e partes de animais que emprestam poderes ao bocio.

Asen - altares móveis

Os povos de língua Gbe inventaram altares móveis chamados Assen em Fon e Assanyi em Gun.
É um objeto que celebra a todos os ancestrais, e como tal reflete a igualdade perante o fenômeno da morte.
Por isso são peças de valor econômico e facilmente encontráveis nos mercados.
Quando dedicadas a reis, todavia, passam por uma transformação artística que as tornam especiais, como as que estão exibidas no Museu Histórico de Abomé.
Essas peças são dos raros objetos cujo desenvolvimento histórico pode ser reconstruído tanto por fontes orais quanto escritas.
Ha dois tipos de assen usados pelos Bokonon, Assen Acrelele e o Assen Hotagantin.
O primeiro é fixado no solo diante do consultante pelo adivinho, antes do jogo, permitindo que o sacerdote enxergue o passado, o presente e o futuro.
Esse objeto possui um topo metálico recurvado que pode ser usado para o adivinho apoiar o seu ombro.
O Assen Acrelele não se reporta aos ancestrais do Bokonon, mas a todos os seus antecessores falecidos, cuja presença é aguardada para dirigir a cerimonia.
O Assen Hotagantin não é propriamente um altar, mas um símbolo das casas de boa reputação.
Costumam ser fixados sobre o Jehò, no topo dos telhados, principalmente em Abomé, nos períodos de Huetanu, ou em cerimonias anuais.
Atualmente essa pratica está quase extinta.