Seguidores

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Búzio da Costa

No Oriente, praticamente em todo o Indo-Pacífico, houve um objeto natural usado como moeda: uma concha da família das cipreias (Cypraeidae), apropriadamente designada por Cypraea moneta.
O búzio conhecido por Caurim usado como moeda teve origem na Antiguidade indiana, conhecido como córi, daí o nome em Inglês, cowrie.
Outras moedas não convencionais da África Portuguesa da época - que além de Angola, Moçambique e Guiné incluía várias feitorias ao longo de toda a costa da África Ocidental - eram as conchas marinhas.
As mais importantes eram os cauris, conchas brancas ou amarelo-claras do tamanho de uma amêndoa, da espécie Cypraea moneta, procedente das ilhas Maldivas e Laquedivas (sudoeste da Índia), ou Cypraea annulus das ilhas Zanzibar e Pemba, (costa oriental da África).
Foram usados na costa da África Ocidental do Senegal à Nigéria, no Sael e em partes da África Central (incluindo Uganda) de antes do século 14 (era utilizado entre 1290 e 1352 por mercadores venezianos que atravessavam o Saara) ao início do século 20.
Na Ásia, foram usadas em tempos muito mais remotos e parece ter sido a origem do dinheiro na China (onde eram usados por volta de 1.200 a.C.), pois a palavra chinesa para moeda significava originalmente "concha".
Essas conchas - chamadas no Brasil de búzios - também são usadas pelos babalaôs nos ritos de adivinhação do candomblé de origem ioruba.
Os cauris costumavam ser perfurados e atados em conjuntos, ou reunidos em bolsas.
Entre os iorubas, 40 cauris formavam uma réstia, cinco réstias valiam um cacho (200 cauris) ou uma galinha, dez cachos equivaliam a uma cabeça (2.000 cauris, uma cabaça cheia); dez cabeças equivaliam a uma bolsa (20.000 cauris), pesando cerca de 30 kg.
Já entre os fulanis de Sokoto (norte da Nigéria), 20 conchas formavam 1 jalo, 5 jalos valiam 1 hemre (100 cauris) e 10 hemres correspondiam a 1 zambarre (2.000 cauris).
Até o século 16, o nzimbu (Olivancillaria nana), em português zimbo, colhida nas vizinhanças de Luanda, também circulava no reino do Congo, enquanto a marginela (Marginella sp.), natural da Costa Ocidental da África, se limitava à bacia do Níger.
Entretanto, o excesso de oferta criado pelos portugueses ao trazer das costas brasileiras outras espécies de zimbos as fez perder todo o valor e serem substituídos pelos cauris do oceano Índico, de acesso um pouco mais difícil.
No império medieval africano do Máli (século 11), 1.150 cauris equivaliam a um dinar ou metical de ouro (enquanto nas Ilhas Maldivas, um dinar era trocado por 40.000 cauris).
No século 14, a relação de troca em Timbuctu era de 1.500 cauris por metical, e no final do século 16 havia subido para 3 mil cauris. Esse valor praticamente se manteve até o início do século 19 (em Axante, 1820, era de 3.500 cauris por dinar), de modo que, na segunda metade do século 18, um cauri valia 2/3 de um real português.
A partir de meados do século 19, porém, a importação crescente de cauris de Zanzibar pelos ingleses o fez perder quase todo o seu valor. Em 1853 eram precisos 8.900 a 12.500 cauris para fazer uma libra esterlina (5.400 a 7.500 por um dinar), em 1863, 20 mil a 28 mil por libra.
No final do século 19, 80 mil correspondia a uma libra esterlina, relação que se manteve no início do século 20 até que Uganda retirou o cauri de circulação em 1901 e a Nigéria e a maioria dos demais países africanos a partir de 19.
Neste início do século 21, porém, ainda são usadas como dinheiro entre povos do sudoeste de Burkina Faso e do norte de Gana.
Entre as versões primitivas de troca, as conchas foram, sem dúvida, as mais difundidas, especialmente os cauris, da espécie Cypraea moneta.
Esse búzio se tornou, sobretudo nos séculos XVII e XVIII, moeda internacional: metade do mundo entesourava, investia e comprava cauris.
Parecido com porcelana, foram emitidos em ouro e prata e mantiveram-se como meio de pagamento até o século XIX. No Brasil, os escravos também usavam como moeda pequenos caramujos, os búzios.
As conchinhas foram usadas até o sec. XIX.

O jogo de Búzios

O jogo de búzios é uma das artes divinatórias utilizado nas religiões tradicionais africanas e nas religiões da Diáspora africana instaladas em muitos países das Américas.
A consulta é realizada com 16 búzios, todos eles contendo aberturas. Cada búzio cai ou aberto ou fechado, e o conjunto das posições dos búzios vai definir qual é o orixá que preside aquele lançamento.
Antes do jogo e durante os arremessos o adivinho reza e saúda todos os Orixás, conversa com as divindades e lhe faz perguntas.
Os adeptos acreditam que as divindades afetam o destino e isso pode ser lido de acordo com o modo que os búzios se espalham pela mesa, dando assim as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.
O jogo de Búzios, como é conhecido hoje, pode ser considerado uma variação do jogo de Opon lfá ou Opelê de lfá, que se desenvolveu na África.