O Dia Herero (também conhecido como Red Flag Day) é um encontro do povo Herero da Namíbia para comemorar a memoria dos seus chefes mortos. A comemoração realiza-se anualmente no domingo mais próximo de 23 de agosto, dia em que corpo do chefe Samuel Maharero foi devolvido à Okahandja em 1923. Maharero foi enterrado em Okahandja provavelmente ao lado de seus ancestrais a 26 de agosto de 1923. Alguns historiadores afirmam que 26 de agosto é data correta. O principal evento desse encontro de três dias é uma procissão para visitar vários túmulos dos chefes, seguida por uma missa na Igreja. Os homens vestem uniformes de estilo militar e as mulheres vestem os trajes coloniais, uma saia volumosa com muitas camadas e o chapéu bicorne. O dia Herero representa um gesto de indignação contra a antiga colonização alemã.
Há 100 anos, alemães mataram 60 mil Hereros, na região onde é a Namíbia. Grupo pede US$ 4 bilhões
Berlim - A Alemanha está sendo pressionada a se desculpar por um episódio esquecido: o massacre de mais de 60 mil africanos por suas tropas há exatos 100 anos. O incidente é considerada por historiadores a origem da definição de genocídio - tentativa de eliminar todo um grupo social - mais tarde amplificada com o Holocausto judeu na Segunda Guerra.
Descendentes da tribo Herero, que ficava onde é hoje a Namíbia, reivindicam um pedido formal de desculpas pelas atrocidades cometidas durante a época colonial. Os Herero foram dizimados em represália a um levante contra os colonizadores na então África do Sudoeste. Entre 11 e 12 de agosto de 1904, tropas alemães assassinaram milhares deles depois de emboscá-los em uma planície árida.
O massacre em Waterberg, perto da capital da Namíbia, foi um vergonhoso episódio em uma campanha ofuscada pela história ainda mais negra do passado recente alemão. Ainda que o governo social-democrata tenha dito que ''lamenta'', Berlim se negou a pedir desculpas, o que enfureceu os descendentes da tribo. Duzentos Herero reivindicam uma indenização de US$ 4 bilhões.
- Queremos que digam: ''nós nos desculpamos'' - disse Arnold Tjihuiko, porta-voz do comitê da tribo. Segundo ele, Berlim demonstrou ser altamente racista e não ter respeito em relação aos negros.
- A forma como demonstraram pesar não foi adequada - acrescentou.
Os Herero estão reivindicando US$ 2 bilhões em danos ao governo alemão e mais US$ 2 bilhões de empresas alemães que supostamente lucraram com a ocupação alemã baseadas em território americano - a ação corre lá. Eles incluem o Deutsche Bank, a empresa de mineração Terex e a de transportes Deutsche Afrika Linie.
A ação foi condenada pelo embaixador alemão na Namíbia, Wolfgang Massing.
- Isto não nos leva a lugar algum. Há outras maneiras de cicatrizar as feridas.
Em um aparente sinal de reconciliação, a ministra de Desenvolvimento alemão, Heide Marie Wieczorek-Zeul, tinha previsto chegar ontem ao país. Ela participará de uma cerimônia no fim de semana, no local onde há um memorial do massacre. O escritório de Zeul se negou a comentar a missão, levantando especulações de que a ministra não se desculpará.
Ainda que sua exploração colonial não tenha sido comparável a dos rivais no século 19, a Grã-Bretanha e a França, a Alemanha participou da disputa por territórios na África e adquiriu a África do Sudoeste em 1884. Muitos Herero foram realocados para abrir caminho a fazendeiros. Em janeiro de 1904, o chefe da tribo se irritou com a perda de terras e gado e, poucos dias depois, 150 alemães foram mortos. As autoridades germânicas responderam brutalmente, ordenando que ''massas fossem aniquiladas''. Segundo os descendentes da tribo, apenas 15 mil conseguiram escapar ao fugir para o deserto.
- A maioria dos chefes foram mortos e os que sobreviveram fugiram para Botsuana. Não se sabe ao certo quantos Herero morreram, pois isto não interessava aos colonizadores - afirmou Paulette Reed-Anderson, do Centro de Pesquisas da Diáspora Africana.
Jornal do Brasil
Luke Harding - The Guardian
Tribo cobra desculpas por genocídio
Data: 12/08/2004