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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fons do Benin

O povo Fon vive ao sul do Benin e sul do Togo tendo sua origem mítica entre os Adjás.
Além da língua, sua maior característica está na expressão histórica, política e social através do reino do Daomé e na diáspora através do vodu.
O Fon é o maior grupo linguístico e étnico da Republica do Benim, antigo reino do Daomé, e do Sudoeste da Nigéria.
A língua Fon pertence ao grupo Gbe, a mais falada no sul do país.
A cultura Arará ou Ewe-Fon, etnias irmãs estendidas pelo Togo e o sudeste nigeriano como a pátria comum dos Adja-Fon, parece proceder de Ardra (Ardes, Ardre, Ardu, Ardran) nome de um reino da África Ocidental, que se encontrava justamente na porção meridional do que é hoje a atual República de Benin.
Este reino aparece unicamente nos mapas antigos da África pré-colonial.
Os povos Ewe, Aja e Guin são culturas proximamente relacionadas com os Fon.
O povo Fon é originário da cidade de Tado, pequena localidade na fronteira entre o antigo Daomé e sudoeste do atual Togo próximo à fronteira do Benim.
A tradição oral nos remete a Oyó-Ifê e sugere uma origem comum entre os grupos Adja-Fon e Ioruba.
A chegada à América deste grupo, não foi mais do que uma etapa na longa migração para quem partiu de Oyo e de Ife, as antigas e poderosas cidades do país ioruba.
Ketu, cidade situada a uns 60 km ao norte de Porto Novo, foi uma importante parada na longa viagem destes emigrantes.
Os Fon e os Adja se separaram, depois de sua povoação em Tado.
Os Ewe se trasladaram ao oeste atual do Togo e os Fons ao este da atual República de Benin.
Em todos os casos os estudos linguísticos estruturais comparados do Adja-Fon, do Ewe e do Iorubá revelam a indiscutível integração destas línguas num sistema cultural comum.
Os Fon foram os fundadores dos reinos de Allanda, Abomé, Porto Novo e Savé nas zonas meridionais e central do atual Benin.
Muitos Fons ainda vivem em casas de taipa com os característicos tetos cônicos de zinco em pequenos vilarejos e cidades.
As maiores cidades construídas por eles são Abomé, a capital histórica do Daomé, e Uidá, na antiga costa dos escravos.
Essas cidades já foram os principais centros do trafico negreiro.

Origem Mítica

O complexo cultural expressado tanto pelo vodu como pelo Reino do Daomé possui uma origem mítica na cidade-reino Adjá de Tadô ou Sadô, onde uma filha solteira do rei, ao dirigir-se à floresta sozinha para realizar uma tarefa encontrou-se com um leopardo encantado.
Ao retornar à cidade, descobriu-se grávida e a paternidade da criança foi atribuída ao leopardo.
Como entre os Adjas o sangue da mãe também enobrece esse filho do leopardo, Kpòvi e seus descendentes constituíram-se em uma nova linhagem real.
Entretanto, o filho do leopardo ficou sendo conhecido na posteridade pelo cognome de Agassu, o bastardo, e seus descendentes por isso sempre eram preteridos no sistema sucessório de Adjá-Tadô, ainda que herdassem a bravura e ousadia de seu ancestral animal.
Um dia, porém, os Kpòvi, mais uma vez excluídos, se revoltaram contra a escolha do sucessor no trono de Adjá–Tadô.
Eles e seus partidários se armaram e, após uma violenta refrega, muitos cadáveres tombaram de lado a lado, inclusive o do rei escolhido.
O chefe dos Kpòvi, Kokpon por esta razão, ficou sendo conhecido como Adjá-Hutó, o matador de Adjás, e ele junto com seus partidários tiveram que partir para o exílio, uma vez que perpetrou o delito de maior lesa-majestade que é o de amaldiçoar a terra com o derramamento do precioso sangue real.
O êxodo dos Kpòvi e seus seguidores, após várias peripécias, deteve-se em Aladá, onde Adjá-Hutó Kokpon fundou uma nova dinastia de governantes até que o falecimento um rei também chamado Kokpon dá lugar a uma guerra de sucessão entre seus três herdeiros: Medji, Té-Agbanlin e Ahô-Dakodonu.
Medji permaneceu em Aladá e deu continuidade à dinastia local reinante; Té-Agbanlin dirigiu-se para o leste, onde fundou uma nova dinastia em Adjaxé (Porto Novo) enquanto que Dakodonu seguiu para o norte com seu irmão Ganiehessu e, após algumas peripécias, buscou alojar-se com seus ferozes seguidores entre a população de língua Ioruba dos Iguedês (Guedevi) e matou seu rei Agli, dizimando seu povo, escravizando mulheres e crianças, os quais mais tarde foram vendidos aos portugueses. Fundou ali uma nova dinastia.
Dakodonu tentou estabelecer-se em Kana e foi solicitando consecutivamente ao rei de Kana, cujo nome era Dan, locais para alojamento.
Um dia Dan, aborrecido com mais uma solicitação dos Adjá-Tadonus, declarou mordazmente: “Depois de alojar-se em tantos lugares do meu reino, só falta agora a minha barriga para esta gente ficar”.
Os Adjá-Tadonus compreenderam essa declaração como um chamado para a luta e, desta forma, Dakodonu matou e estripou pessoalmente Dan, e disse que cumpriria sua palavra e construiria seu reino sobre a barriga deste, daí a expressão Dan-ho-mé, que era o reino edificado “no ventre de Dan”.
O Reino do Daomé superou as duas outras dinastias Adjá-Tadonus reinantes em Porto-Novo e Aladá, governando um poderoso Estado da capital Abomé, fundada por Agassuvi Aho, sobrinho e sucessor de Dakodonu, também chamado de Hwegbadjá, em circunstâncias muito parecidas com a fundação do próprio reino.
Outra versão da história conta que Abomé teria sido fundada por Hwessu, filho de Hwegbadjá.
Os dois outros reinos, apesar do crescimento do Daomé, continuaram a ser considerados Estados-irmãos e, tanto os reis de Porto Novo como os de Abomé, dirigiam-se à Aladá, cidade onde as suas dinastias teriam começado a reinar, como parte do ritual da cerimônia de entronização.

Religiosidade

No que se refere à religiosidade enunciam-se cinco aspectos básicos:
Deus e as demais deidades, o homem genérico, os animais, objetos, fenômenos naturais e a magia.
Sua cultura é patrilinear e admite a poligamia e divorcio.
Entre os eventos mais importantes estão os funerais, aniversários de morte, e o costume de velar pelos mortos com rituais que duram por vários dias e compreendem danças e tambores.
Eles acreditam que parte da pessoa morre e parte é reencarnada.

Apesar de muitos deles se identificarem como cristãos a maioria pratica a religião nacional, o Vodu.
Para os Fons as divindades ou espíritos chamam-se "Vodus".
A pratica religiosa envolve a invocação de espíritos através de danças e tambores.
É uma religião politeísta com uma divindade suprema (mas não onipotente) conhecida por Nana Buluku.
Muitos descendentes dos Fons vivem atualmente nas Américas devido ao trafico negreiro do Atlântico.
Sua cultura misturou-se a outras, como a ioruba e banto, produzindo novas formas de culto como Vodu, Mami Wata, Candomblé e Santeria, com outros estilos e danças como Arará e Yan Valu.

Reis

Na dinastia daomeana a tradição conta com a sucessão de onze reis até o momento em que os colonizadores franceses reduziram seu status para o de “chef de canton”:

. Dǎko-Donu (1620-1645)
. Hwegbajà (1645-1680)
. Akabá (1680-1704)
. Agadjá (1708-1732)
. Tegbessu (1732-1775)
. Kpenglá (1775-1789)
. Agonglô (1789-1797)
. Guezô (1818-1858)
. Glelé (1858-1889)
. Gbehanzìn (1889-1894)
. Agoli-Agbô (1894-1900)

Nota: A lista oficial às vezes é encabeçada por Ganiehéssu, irmão mais velho de Dako-Donu e chefe do clã dos agassuvi, tendo sido o primeiro sumo-sacerdote local do culto de Agassu. Hangbê, irmã-gêmea de Akabá reinou também junto com este, enquanto Adandozan (1797-1818) reinou como usurpador durante a infância de Guezô.