Suas origens e sua concepção de arte e religião.
Os Yakas, pertencentes à nação Bakongo, distribuem-se ao longo da margem esquerda do rio Kuango, ocupando uma área dividida entre o território da atual República Democrática do Congo e a República de Angola.
O nome Yaka, significando "o que apanha as balas e desvia as setas”, é o singular de Bayaka ou Mayaka, termos aportuguesados frequentemente para os plurais híbridos Baiacas ou Maiacas.
Tudo indica que teriam se fixado às margens do Kuango na primeira metade do século XVII, originários, uns do Reino do Congo, descendendo de dissidentes de São Salvador após a ocupação portuguesa.
Outros do Reino do Muata-Ianvo da Lunda.
Além dos famosos Imbangala ou Bângalas, frequentemente referidos na historiografia como Jagas, originários da Lunda, segundo alguns registros orais.
Conservaram a língua dos seus antepassados congueses, por isso estão incluídos no grupo Bakongo.
Mantiveram e aperfeiçoaram o estilo dos Lundas, usado na estatuária e na confecção de máscaras, destinadas à celebração dos cultos religiosos.
No mais apresentam muitos pontos em comum com os Lunda-Tchokwes.
Na confecção das estátuas e das máscaras Yaka, a criatividade do autor e o seu sentido estético é relevante.
É o caso do Soosi, em que existe uma preocupação artística nas pinturas das penas de galinha que ornamentam as máscaras.
A confecção destes objetos pressupõe sempre uma ligação simbólica aos espíritos sagrados e ao poder mágico-religiosa com os antepassados.
Na tradição banta, arte e religião tendem a ser indissociáveis e esta premissa vale não só para as artes plásticas, mas também para a literatura (sempre de tradição oral), para a música, para a dança e, em geral, para todas as manifestações culturais tidas no ocidente por artísticas.
O duplo sentido do termo nkisi ou muquixe.
O termo nkisi (pl. makisi) ou muquixe é aplicado entre os Yaka, tanto aos fetiches como às máscaras.
Mas se aos primeiros é atribuída uma essência sobrenatural, o mesmo já não acontece com as máscaras, consideradas apenas objetos materiais.
Contudo, nessa sua materialidade, as máscaras constituem instrumentos fundamentais na realização da ligação do ser humano ao divino.
Esta função religiosa é bem evidente durante o seu fabrico, com relação ao isolamento dos artesãos e devido ao seu emprego ritual.
São usadas exclusivamente nas cerimonias de circuncisão ou de iniciação masculina, o nkanda, e fabricadas exclusivamente para esse fim.
O termo nkanda corresponde a ku mukanda, termo usado entre os Tchokwe para designar, igualmente, o ritual da circuncisão.
A designação Nkanda aplicava-se a duas modalidades de circuncisão e iniciação masculina:
O Loongwa e o Mahoodi.
O Loongwa é um ritual ancestral e o Mahoodi uma simplificação da circuncisão, onde sacerdotes e máscaras não participam
Os rituais bantos de iniciação feminina também implicam práticas que podem ser qualificadas como cerimonias de mascaras.
O corpo das jovens é besuntado com tinta vermelha extraída das árvores como a tékula.
Além disso, usam o Mulamba, pano entre as pernas, tatuagens e escarificações.
De igual importância entre os Yaka, estão os sacerdotes da iniciação (Yisidika) e o circuncisador (Tsyaabula).
O entalhador (Nkalaweeni) também tem acesso ao Yikubu, saco contendo vários ingredientes.
Estes quando mastigados ou atirados sobre alguém, transmitem poderes sobrenaturais.
O entalhador mastiga uma bolota de pemba, giz usado em vários ritos africanos, para atrair proteção das divindades e afastar malefícios, antes de iniciar o seu trabalho.
A bola de argila branca serve, neste caso como fortificante (tseengwa) e destina-se a consagrar, não apenas a atividade do Nkalaweeni, mas também a dos dançarinos mascarados.
No dia da primeira dança, o escultor de máscaras volta a mastigar a bola de pemba e esfrega o tseengwa no rosto, nas costas, no umbigo e nos quadris dos dançarinos.