Do século XVI ao século XIX, o tráfico transatlântico trouxe para o Brasil 4 a 5 milhões de falantes africanos extraídos de duas regiões subsaarianas:
A região banta, situada ao longo da extensão sul da linha do equador, e a região oeste-africana ou sudanesa, que abrange territórios que vão do Senegal à Nigéria.
A região banto compreende um grupo de 500 línguas muito semelhantes, que são faladas na África sub-equatorial.
Entre elas, as de maior número de falantes no Brasil foram três línguas angolanas:
Quicongo, também falada no Congo, Quimbundo e Umbundo.
BACONGO, falantes de quicongo, língua que engloba vários falares regionais de territórios correspondentes "grosso modo" como limites do antigo reino do Congo, hoje compreendidos no sul do Congo-Brazaville até o Cabo Lopes, no Gabão sudoeste do Congo Kinshasa e noroeste de Angola, nas províncias de Cabinda.
O quicongo é uma das línguas nacionais de três países, a República Popular do Congo, o Congo Brazaville, a República Democrática do Congo, (RDC), Congo Kinshasa, ex- Zaire e Angola.
Dos seus falares regionais, são numericamente majoritários, no Congo Brazaville, o quiando (região central) e o quilari (no nordeste).
Ambundo, falantes de quimbundo, concentrados na região central de Angola, sua capital, Malanje, Bengo e Cuanza Norte até Ambriz, em território equivalente ao antigo Reino do Dongo (Kimb. Ndongo), chamado pelos portugueses de Angola, do Banto "ngola" (o divino), título atribuído aos soberanos.
Para essa região o tráfico se voltou, no século XVII, após a decadência do reino do Congo, e Luanda foi tão importante para o Brasil nesse processo, que é invocada, em versos, por diferentes manifestações do folclore brasileiro como Aruanda, no sentido de África mítica, morada de todos os deuses e ancestrais.
Ovimbundo, falantes de umbundo, localizados ao longo de uma região bastante vasta e povoada, abrangendo as províncias de Bié, Huambo e Benguela, ao sul de Angola.
No Brasil, o povo banto ficou conhecido por denominações muito amplas, principalmente congos e angolas, que encerram um sem número de etnias e línguas distribuídas entre os atuais territórios do Congo e de Angola.
É mais uma entre tantas outras dificuldades para precisar suas origens, ainda mais quando essa procedência é mencionada pelo nome do porto, região de embarque ou do lugar de extração do cativo, tais como:
São Tomé, ilha situada abaixo do Golfo da Guiné, na costa atlântica dos Camarões e Gabão, foi um dos mais importantes entrepostos no tráfico e mercado de escravos para o Brasil.
Molembo e cambinda, de Cabinda
Loango, reino costeiro do povo vili ou fiote, que era tributário do reino do Congo, situado ao norte do atual Congo Brazaville.
Ambriz, Ambrizete, norte de Luanda.
Benguela e Moçamêde, costa sul de Angola.
Amboim e Caçanje, interior de Angola
Quelimane, de Moçambique.
A influência banta é muito mais profunda em razão da antiguidade do povo banto no Brasil, da densidade demográfica e amplitude geográfica alcançada pela sua distribuição humana em território brasileiro.
A sua presença foi tão marcante no Brasil no século XVII que, em 1697, é publicada, em Lisboa, A arte da língua de Angola, do padre Pedro Dias, a mais antiga gramática de uma língua banto, escrita na Bahia para uso dos jesuítas, com o objetivo de facilitar a doutrinação dos 25.000 negros angolanos, segundo Antônio Vieira, que se encontravam na cidade do Salvador sem falar português (Cf. Silva Neto 1963:82).
Os aportes bantos ou bantuismos, ou seja, palavras africanas que entraram para a língua portuguesa no Brasil estão associadas ao regime da escravidão:
Senzala, mucama, bangüê, quilombo, enquanto a maioria deles está completamente integrada ao sistema linguístico do português, formando derivados portugueses a partir de uma mesma raiz banta:
Esmolambado, dengoso, sambista, xingamento, mangação, molequeira, caçulinha, quilombola, o que já demonstra uma antiguidade maior.
Em alguns casos, a palavra banto chega a substituir a palavra de sentido equivalente em português:
Caçula por benjamim, corcunda por giba, moringa por bilha, molambo por trapo, xingar por insultar, cochilar por dormitar, dendê por óleo-de-palma, bunda por nádegas, marimbondo por vespa, carimbo por sinete, cachaça por aguardente.
Alguns já estão documentados na literatura brasileira do século XVII, a exemplo dos que se encontram na poesia satírica de Gregório de Matos e Guerra. (1633-1696).
O povo Banto tem uma característica bastante interessante, a facilidade para assimilar e integrar as mais variadas crenças e costumes ao seu universo cultural.
Este foi um grande legado do povo Banto ao brasileiro.
Durante os primeiros trezentos anos de escravidão africana no Brasil, a maior fonte de mão-de-obra era o antigo reino do congo, pois a falsa impressão de submissão continuou em solo brasileiro que fez os portugueses preferirem mão-de-obra angolana para desbravar o novo território.
A facilidade em integrar novos elementos ao seu culto e o antigo culto ao simbolismo da cruz, encobriu eficientemente o verdadeiro culto aos antepassados dos africanos de etnia Banto.
Para o Brasil, entre outras evidências, sua importância histórica reflete-se nos autos populares denominados de congos e congadas, que tem larga distribuição geográfica no país e nos quais se guarda a lembrança do Manicongo, título que era atribuído aos reis do Congo.