No mundo dos feitiços – Os Feiticeiros
A recordação de um fato triste - a morte de uma rapariga que
fora à Bahia fazer-santo - deu-me ânimo e curiosidade para estudar um dos mais
bárbaros e inexplicáveis costumes dos fetiches do Rio.
Fazer-santo é a renda direta dos babaloxás, mas ser
filha-de-santo é sacrificar a liberdade, escravizar-se, sofrer, delirar.
Os transeuntes honestos, que passeiam na rua com
indiferença, não imaginam sequer as cenas de Salpetrière africana, passadas por
trás das rótulas sujas.
As iauô abundam nesta Babel da crença, cruzam-se com a gente
diariamente, sorriem aos soldados ébrios nos prostíbulos baratos, mercadejam
doces nas praças, às portas dos estabelecimentos comerciais, fornecem ao
Hospício a sua quota de loucura, propagam a histeria entre as senhoras honestas
e as cocottes, exploram e são exploradas, vivem da crendice e alimentam o
caftismo inconsciente.
As iauô, são as demoníacas e as grandes farsistas da raça
preta, as obsedadas e as delirantes.
A história de cada uma delas, quando não é uma sinistra
pantomima de álcool e mancebia, é um tecido de fatos cruéis, anormais,
inéditos, feitos de invisível, de sangue e de morte. Nas iauô está a base do
culto africano.
Todas elas usam sinais exteriores do santo, as vestimentas
simbólicas, os rosários e os colares de contas com as cores preferidas da
divindade a que pertencem; todas elas estão ligadas ao rito selvagem por
mistérios que as obrigam a gastar a vida em festejos, a sentir o santo e a
respeitar o pai-de-santo.
Texto:
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
Sobre o autor
João do Rio
Sobre a foto
José Medeiros
Sobre o autor
João do Rio
Sobre a foto
José Medeiros