Os generais em Songhai não eram necessariamente escravos,
podiam ser homens de qualquer classe social. Isso também valia para os
serviçais civis. A carreira do El Amin ilustra esse fato. Sob a autoridade de
Askia Mohamed ele era apenas um serviçal, um membro do cortejo real, um
daqueles que era requisitado para colocar os arreios no cavalo do rei. Aski
Ismael promoveu-o a chefe dos peões ou condutor, ele deveres que ele prosseguiu
até Askia Daud ascender ao poder, promovendo-o a chefe da cidade de Djenné. Sua
trajetória foi vertiginosa, de serviçal a governador de uma das maiores cidades
mercantis do Império, literalmente subindo na vida.
As barreiras do sistema de castas previamente estabelecidas,
por divisão de trabalho, se haviam parcialmente rompido. Ficamos com a
impressão da possibilidade de aspirar-se a qualquer posição obtida pela sorte,
intriga ou mérito. É preciso ressaltar que o fundador da dinastia dos Askias,
chamado Mohammed o Grande, o Príncipe Crédulo, era apenas um tenente sob a
autoridade de Sonni Ali, usurpando o trono de seu filho Bekr Dau (1493). Um
conceito importante parece ter dissipado: o da legitimidade. Qualquer líder
vitorioso fora legítimo, conforme mostram os fatos: os numerosos golpes de
estado através da história de Songhai. O povo reconhecia imediatamente a sua autoridade:
e não carregavam rancor contra ele. Nascia deste modo, um novo ramo que se
desenvolvia de uma simples casta mais baixa. E ao fim de uma geração havia
adquirido tanto prestigio quantos as famílias reais tradicionais. Testemunhamos
desse modo o desenvolvimento paralelo de várias dinastias, que por estarem
confinadas a determinadas famílias de distinção, tornavam-se rivais. Essa é uma
situação idêntica à de Cayor que posteriormente no século dezessete, que deve
ter sido herdada de Songhai. A existência da seita Kharejjita deve estar ligada
a esses fatos. Esta seita é caracterizada pela recusa de reconhecer qualquer
autoridade por todo o Islã, qualquer califa, ou qualquer tipo de papa
muçulmano, e também pelo fato de poder elevar ao trono qualquer fiel, por mais
modesto que fossem suas origens sociais, colocando-o no posto de rei caso possuísse
as qualidades requisitadas para tal. Sonni Ali pertenceu nominalmente a essa
seita.
O Império de Songhai
O Império de Songhai
Songhai, império que floresceu na ultima fase do período de
islamização da África, por volta do século dezesseis, já não estava tão preso
às tradições politicas. Seus costumes lembravam aqueles dos califados de Bagdá
e das cortes da Arábia oriental. As mesmas infindáveis intrigas rodeavam o
trono. Este império parece ter reconhecido o direito à primogenitura. Mas isso
era puramente teórico, pois se o filho mais velho não se mostrasse energético
ou levasse desvantagens nas situações, perderia automaticamente o direito ao
trono, deixando o poder para algum outro filho do rei (rei=Askia). Ou ainda
para alguém que obtivesse o apoio de um alto funcionário.
O livro e o autor - Veja no link abaixo:
Precolonial Black Africa
http://claudio-zeiger.blogspot.com.br/2012/05/africa-negra-pre-colonial.html