No mundo dos feitiços - Os feiticeiros
Saímos, e logo na rua encontramos o Xico Mina.
Este veste, como qualquer de nós, ternos claros e usa suíças
cortadas rentes.
Já o conhecia de o ver nos cafés concorridos, conversando
com alguns deputados. Quando nos viu, passou rápido.
- Está com medo de perguntas. Chico gosta de fingir.
Entretanto, no trajeto que fizemos do Largo da Carioca à
praça da Aclamação, encontramos, a fora um esverdeado discípulo de Alikali,
Omancheo, como eles dizem, duas mães-de-santo, um velho babalaô e dois
babaloxás.
Nós íamos à casa do velho matemático Oloô-Teté.
As casas dos minas conservam a sua aparência de outrora, mas
estão cheias de negros baianos e de mulatos.
São quase sempre rótulas lobregas, onde vivem com o
personagem principal cinco, seis e mais pessoas. Nas salas, móveis quebrados e
sujos, esteirinhas, bancos; por cima das mesas, terrinas, pucarinhos de água,
chapéus de palha, ervas, pastas de oleado onde se guarda o opelé; nas paredes,
atabaques, vestuários esquisitos, vidros; e no quintal, quase sempre jabotis,
galinhas pretas, galos e cabritos.
Há na atmosfera um cheiro carregado de azeite-de-dendê,
pimenta-da-costa e catinga.
Os pretos falam da falta de trabalho, fumando grossos
cigarros de palha.
Não fosse a credulidade, a vida ser-lhes-ia difícil, porque
em cada um dos seus gestos revela-se uma lombeira secular.
Alguns velhos passam a vida sentados, a dormitar.
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
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