As plantas medicinais têm sido um importante recurso terapêutico desde os primórdios da antigüidade até nossos dias. No passado, representavam a principal arma terapêutica conhecida.
A etnobotânica estuda a interação de comunidades humanas com o mundo vegetal, em suas dimensões antropológica, ecológica e botânica.
Esses estudos são de grande importância na manutenção da cultura, além de combinar conhecimentos tradicionais e modernos, permitindo uma melhor investigação dessa flora ainda tão desconhecida e sua conservação e manejo sustentável.
Em sociedades tradicionais, a transmissão oral é o principal modo pelo qual o conhecimento é perpetuado.
Esta ciência vem contribuindo para o conhecimento da biodiversidade das florestas tropicais, devido ao registro e resgate dos hábitos e usos de vários povos que possuem estreito vínculo com os recursos de fauna e flora.
O conhecimento gerado através do resgate do saber popular deve ser valorizado através de ações que viabilizem e garantam o uso desses recursos pela população.
Ossanyin , Ossãe, Ossanha, Ossaim
Ossaim é originário de Iraô, atualmente na Nigéria, perto da fronteira com o Daomé, conforme Verger.
Bastante cultuado no Brasil, sendo conhecido por diversos nomes, Oçãe, Oçãim, Oçanha, Oçânim e Oçonhe, a forma mais popular. Por causa do som final da palavra, é freqüentemente confundido com uma figura feminina.
Osanyin é o orixá das folhas medicinais e litúrgicas. É o Orixá masculino de origem nagô (ioruba) que como Oxóssi, vive na floresta em companhia de àroni.
Aroni é um anãozinho de uma perna só que fuma um cachimbo feito de casca de caracol enfiado num talo oco cheio de suas folhas favoritas..
A sua importância é fundamental, pois nenhuma cerimônia pode ser feita sem a sua presença, sendo ele o detentor do axé - o poder - imprescindível até mesmo aos próprios deuses.
As folhas nascidas das árvores e as plantas constituem uma emanação direta do poder sobrenatural da terra fertilizada pela chuva (água-sêmem) e, com esse poder, a ação das folhas podem ser múltiplos, para diversos fins.
As folhas como as escamas e penas, são e representam o procriado. Elas representam o "sangue-preto", axé do culto.
Òsányin possui um poder ao mesmo tempo benéfico e perigoso. O Eye é um pássaro que o representa, o Igbá Òsányin é seu emblema, confeccionado com ferro, e simboliza uma árvore de sete ramos com um pássaro em sua haste central, o ferro reforça a ligação com o axé do preto mineral, e o pássaro é a relação folha-pena e elemento procriado.
Nada se faz no candomblé sem este orixá, as folhas sagradas, para tudo se usa, na iniciação há um boorí específico para Òsányin, a cabeça do iniciado é lavada com um líquido composto de folhas associadas a diversos orixás, mas dependentes, em última instância, para seu efeito, da colaboração de Òsányin.
Há um encarregado de recolher as folhas frescas no mato e prepará-las, é chamado Olósàyin.
Sassanha , cantigas de folhas
As chamadas "cantigas de folhas" são cantos que objetivam agilizar o axé contido nas espécies vegetais. Possuem o mesmo sentido e objetivo que os ofó usados na Nigéria.
Sassanhe é um ritual fechado, como parte do processo de iniciação quando da "feitura do orixá".
A música e os textos cantados são empregados para a transmissão dos conhecimentos, agindo, também, como indutores do transe. Assim é a cantiga recolhida em candomblé Ketu no Rio de janeiro:
Iroko não semeado
Árvore de pássaro meu
Árvore de pássaro não recebe chuva
Iroko, poderoso refúgio
Iroko não semeado
Árvore de pássaro meu
Árvore de pássaro, Iroko
Iroko, poderoso refúgio
Sim Iroko não semeado
Árvore de pássaro não recebe chuva
Iroko poderoso refúgio
Ah, Iroko poderoso refúgio
Calma é de Iroko
Iroko não falha
Calma é de Iroko, calma não falha
Nessa cantiga há uma louvação à árvore Iroko, lembrando as religiões africanas de origem banto que cultuavam as divindades ligadas à natureza.
A árvore cultuada no Brasil não é a mesma espécie cultuada na África.
O pássaro referido na cantiga é o elemento presente no símbolo de Ossaim, representado sobre uma haste de ferro central e cercado por seis outras hastes dirigidas em leque para o alto.
A cantiga dedicada à gameleira branca louva a árvore e o pássaro, elemento este pertencente ao símbolo de Ossaim, assim como é o pássaro ligado às feiticeiras e as atividades destas, nas religiões iorubás, onde elas também estão ligadas aos orixás e aos mitos da criação do mundo.
Chamadas de àjé , porém tratadas como ìyámi òsòròngà ou por simplesmente ìyàmì (minha mãe) ou eleye (donas dos pássaros).
fontes:
Artigos do jornal Correio da Bahia e do livro
Ewé Òrìsà de Flavio Pessoa de Barros e Eduardo Napolião , Ed. Bertrand Brasil
José Flávio Pessoa de Barros, além da titulação acadêmica, é Bàbálosãnyn, detentor de um dos mais elevados cargos na hierarquia do Candomblé.
Autor de O Segredo das Folhas e A Fogueira de Xangô,,,O Orixá do Fogo, Pessoa hoje é um dos maiores sacerdotes de Ossanlyin, entidade ligada à força das plantas, do Brasil.