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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ilê Agboula

Localizado em Ponta de Areia, na Ilha de Itaparica, o Ilê Agboulá é, hoje, o Brasil, um dos poucos lugares dedicados exclusivamente ao culto dos Egun. Sua fundação remonta ao primeiro quarto deste século, mas a comunidade que lhe deu origem e que lhe mantém os fundamentos está estabelecida na Ilha, como já vimos há cerca de duzentos anos.
Essa comunidade se constitui de mais ou menos cem famílias que vivem da pesca, da coleta e venda de frutos e, hoje, de pequenos empregos propiciados pela indústria turística que se expande na Ilha de uns dez anos para cá. Mas apesar de toda a transformação que os novos tempos ocasionaram em Itaparica, a comunidade do Ilê Agboulá se mantém coesa. Tanto que, mesmo os que por qualquer contingência não moram mais na Ilha, para lá retornam sempre que há oportunidade, nas ocasiões de festas e obrigações, reatando os laços que os unem à sua ancestralidade.
No Ilê Agboulá, no espaço do terreiro, que fica no Alto da Bela Vista residem apenas umas poucas famílias. Mas nas datas importantes do calendário litúrgico e nas obrigações, toda a comunidade - mesmo os que moram em Salvador e outros lugares - para lá acorre, permanecendo no terreiro dias e noites, reconstituindo assim os laços comunitários, recebendo as bençãos, os conselhos e as reprimendas dos Babá, estabelecendo enfim todo um processo de continuidade histórica.
Daí, a grande importância do culto aos ancestrais: ele é um elemento de coesão grupal, de elo entre o passado e o presente, de fortalecimento de identidade cultural. Pois enquanto o culto dos Orixás permite ao grupo religar-se ao cosmos, ao universo, o culto dos Egun é também um "religar-se", mas um "religar-se" através da ancestralidade, fortalecendo-se os laços sociais e comunitários. Assim, um religa o indivíduo e o grupo ao Universo; e o outro à sociedade.
Então, como dizíamos durante os ciclos litúrgicos toda a comunidade do Ilê Agboula se mobiliza. Famílias inteiras se deslocam para o terreiro. E ali, em pequenas casas construídas em torno dos lugares sagrados, se acomodam e se instalam enquanto duram as festas.
As obrigações atravessam dias e noites. Os ritos cânticos, cores, indumentárias, ultrapassam o universo religioso, expressando um riquíssimo patrimônio cultural. Porque o Ilê Agboulá herdou dos antigos terreiros não só a liturgia, a doutrina e o conhecimento dos mistérios do culto, mas também os Egungun dos ancestrais africanos, aos quais se juntaram os dos Ojé falecidos no Brasil e que durante sua vida foram convenientemente iniciados nos mistérios do culto e suficientemente ilustres para serem hoje invocados e materializados como Babá, guardiães de uma cultura, inspiradores de modelos de comportamento, reavivadores da memória grupal, responsáveis pela continuidade histórica dos nagôs na Bahia.