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terça-feira, 20 de setembro de 2011

O culto aos Eguns: elo entre passado e presente

Os nagôs cultuam os espíritos dos "mais velhos" de diversas formas, de acordo com a hierarquia que tiveram dentro da comunidade e com a sua atuação em prol da preservação e da transmissão dos valores culturais. E só os espíritos especialmente preparados para serem invocados e materializados é que recebem o nome Egun, Egungun, Babá Egun ou simplesmente Babá (pai), sendo objeto desse culto todo especial.
Porque o objetivo principal do culto dos Egun é tornar visíveis os espíritos dos ancestrais, agindo como uma ponte, um veículo, um elo entre os vivos e seus antepassados. E ao mesmo tempo que mantém a continuidade entre a vida e a morte, o culto mantém estrito controle das relações entre os vivos e mortos, estabelecendo uma distinção bem clara entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos (os dois níveis da existência). Assim, os Babá trazem para seus descendentes e fiéis suas bênçãos e seus conselhos, mas não podem ser tocados, e ficam sempre isolados dos vivos.
Suas presença é rigorosamente controlada pelos Ojé (sacerdotes do culto) e ninguém pode se aproximar deles.
Os Egungun se materializam, aparecendo para os descendentes e fiéis de uma forma espetacular, em meio a grandes cerimônias e festas, com vestes muito ricas e coloridas, com símbolos característicos que permitem estabelecer sua hierarquia. Os Babá-Egun ou Egun-Agbá (os ancestrais mais antigos) se destacam por estarem cobertos de búzios, espelhos e contas e por um conjunto de tiras de pano bordadas e enfeitadas que é chamado Abalá, além de uma espécie de avental chamado Bantê, e por emitirem uma voz característica, gutural ou muito fina. Os Aparaká são Egun mais jovens: não têm Abalá nem Bantê e nem uma forma definida; e são ainda mudos e sem identidade revelada, pois ainda não se sabe quem foram em vida.
Acredita-se, então, que sob as tiras de pano encontra-se um ancestral conhecido ou, se ele não é reconhecível, qualquer coisa associada à morte. Neste último caso, o Egungun representa ancestrais coletivos que simbolizam conceitos morais e são os mais respeitados e temidos entre todos os Egungun, guardiães que são da ética e da disciplina moral do grupo.
No símbolo "Egungun" está expresso todo o mistério da transformação de um ser deste-mundo num ser-do-além, de sua convocação e de sua presença no Aiyê (o mundo dos vivos). Esse mistério (Awô) constitui o aspecto mais importante do culto.
A propósito, o texto de uma das cantigas rituais revela: (Gégé arò aso la ri/La rí, la rí/Gégé oro aso lèmon/Ako mó baba".
Esse texto é fundamental para a compreensão dos conceitos básicos do culto. A cantiga quer dizer, em síntese, que embora vendo as roupas e objetos rituais, os assistentes e fiéis não sabem o que eles são realmente.
O segredo básico do culto dos Egun reside no fato de que ninguém pode saber nem querer saber o que há por sob aqueles panos coloridos que andam, falam, repreendem, dão conselhos e abençoam, já que a morte e os elementos estão ligados a ela não são e nunca vão poder ser conhecidos.
Mas somente os ancestrais masculino podem se materializar e serem cultuados como Egun. E também só quem pode lidar com eles são os homens, embora algumas mulheres desempenham outras funções no culto.
Em contrapartida, Oyá Igbalé, entidade feminina conhecida também como Iansã Balé é cultuada junto com os ancestrais, é considerada rainha e mãe dos Egun, pois é quem comanda o mundo dos mortos. Na Bahia, nos terreiros de Egun, ela é cultuada num assentamento especial.
Importante também no culto é a presença de onilê, representação coletiva dos espíritos que moram dentro da terra, os ancestrais masculinos. E assim como Onilê, Exu e Ossanyin são também duas entidades importantes: Exu por ser o princípio dinâmico sem o qual nada existe nada se realiza; e Ossanyin por ser o dono das folhas rituais, sem as quais também nenhum rito, seja ele do culto dos Orixás ou dos Egun, se completa. Dois outros aspectos a serem também considerados são a hierarquia dos postos na comunidade-terceiro e a utilização física do espaço ritual, onde se adoram os ancestrais tornados Egun.
Quanto à hierarquia, temos na base da pirâmide os Amuixan, neófitos em processo de iniciação, mas que ainda não têm poderes para invocar os ancestrais. Logo. Os Ojé, sacerdotes que, num grau superior de iniciação e merecimento se tornam Ojé-Agbá. Depois, os Alagbá, que são os chefes de terreiro. E, no topo da pirâmide, o Alapini, sacerdote supremo do culto, da seita, e da sociedade secreta dos adoradores dos Egungun. Além desses, há outros títulos e funções como o de Alagbê (musico ritual) e os ijoyê (detentores de postos honoríficos).
Quanto ao aspecto físico, um terreiro de Egun apresenta basicamente as seguintes unidade:

a) um espaço público, que pode ser frequentado por qualquer pessoa, e que se localiza numa parte do barracão de festas;
b) uma outra parte desse salão, onde só podem ficar e transitar os iniciadores, e para onde os Egun vêm quando são chamados, para se mostrar publicamente;
c) uma área aberta, situada entre o barracão e o Ilê Igbalé (ou Ilê Awô - a casa do segredo), onde também se encontra um montículo de terra preparado e consagrado, que é o assentamento de Onilê;
d) um espaço privado ao qual só têm acesso os iniciados da mais alta hierarquia, onde fica o Ilê Awô, com os assentamentos coletivo, e onde se guardam todos os instrumentos e paramentos rituais, como os Ixan, longas varas com as quais os Ojé invocam (batendo no chão) e controlam os Egungun. 

fonte: Projeto Egungun
http://orixas.sites.uol.com.br/agboula/egungun.html#agboula