Iniciaremos nossa expedição nas áridas regiões do Saara, cujo núcleo principal de população flutuante identificaremos no Noroeste da África.
As contínuas mudanças introduzidas pelo fenômeno da globalização têm atingido o nomadismo outrora preponderante no Saara, afetando particularmente aos altivos tuaregs, povo de enorme importância no passado histórico africano, muitos dos quais têm mudado seus hábitos ancestrais para dar apoio ao turismo.
Os que sobrevivem com sua antiga prática, o fazem fundamentalmente com base no comércio do sal. De qualquer forma, uma população flutuante de algo mais de um milhão de tuaregs se concentra na área ilustrada anteriormente.
É interessante observar que ainda na aparente uniformidade do deserto saariano, a arquitetura africana espontânea – “arquitetura sem arquitetos / arquitetura sem pedigree”, como bem a chamou Bernard Rudofsky em seu famoso livro – evidencia variações significativas influenciadas possivelmente tanto pelas variações das atividades nômades e seminômades dos diferentes grupos, como pela disponibilidade de matéria-prima, segurança e modificações impostas pelo entorno ambiental.
É importante destacar assim mesmo o papel preponderante da mulher nômade em relação ao manejo e administração dessa habitação temporal da qual é construtora, ama e responsável absoluta.
Certamente o termo “habitação” no deserto tem uma conotação feminina. Enquanto isso os homens concentram seus interesses no pastoreio e na aventura de longas caravanas que outrora transportavam carregamentos de ouro e marfim e hoje em dia se circunscrevem no transporte de sal, esse indispensável combustível do sistema nervoso dos seres humanos...
A grande maioria das tendas tuareg é elaborada com uma trama curva de canas recoberta por peles de cabra ou esteiras de fibra de palma, sobrepostas. O corpo delas é facilmente desmontável e pode ser transportado por camelo.
Outras manifestações e respostas ao desafio das severas condições impostas para a sobrevivência em regiões africanas desérticas serão apresentadas a seguir.
Um admirável artesanato é ainda utilizado regularmente por povos pastores seminômades que se alojam na região de Namaqualand, na África do Sul. Esta habitação é confeccionada com o uso de esteiras de junco dispostas sobre uma armação interna de cana, que a sustenta. Como tal, goza da capacidade de ser transportável com relativa comodidade.
fonte:
Barro, vento e sol.
Raízes de uma arquitetura africana
Gonzalo Vélez Jahn