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quarta-feira, 7 de março de 2012

Casbah Aït Ben Haddou - Ouarzazate, Marrocos


Arquitetura na África

No sul de Marrocos entre palmeiras aparecem edificações fortificadas em terra que foram a residência dos senhores, onde se abrigavam as populações dos ataques de invasores e onde as caravanas vindas do Este de África para o Maghreb se refugiavam. A técnica de construção é variável ao contrário da sua fragilidade.
Os vales do Draa e Dades são férteis nestes castelos de areia.
O Casbah de Ait Benhaddou perto de Ouarzazate foi considerado património mundial pela UNESCO.
Ait-Benhaddou chamava-se outrora Aït Aïssa, uma referência à sua fundação lendária por um antigo viajante.
Outra lenda contada localmente fala-nos de Kahîna, uma rainha cristã que se teria oposto ao avanço do islamismo na região.
Teria sido este personagem, ao qual se atribuíam poderes mágicos, que teria mandado construir as muralhas da cidadela de Ait-Benhaddou, o mais belo ksar do sul de Marrocos.
Os ksour (plural de ksar) são povoações fortificadas, construídas na maioria dos casos em tijolo de terra.
O de Telouet, abandonado em 1956, foi durante largas décadas sede do poder dos Glaoui, tribo que conservou sempre certa independência relativamente ao poder do bají de Marrakesh.
No início do século XX, quando Marrocos constituía um protetorado francês, o caíd Al-Maidani foi um garante da fidelidade do sul ao ocupante estrangeiro.
A queda dos Glaoui começou a desenhar-se logo a seguir à segunda guerra mundial, quando o clã se manteve distanciado de Mohammed V, futuro soberano de Marrocos.
As comunidades foram-se dispersando e muitos dos kasbahs acabaram nas ruínas que hoje desenham a paisagem do flanco sul do Atlas, de Telouet aos vales do Dadés e do Todra, do Vale do Draa às regiões orientais do Ziz e do Tafilalet.
A estrada que leva a Ouarzazate, uma cidade moderna fundada pelos franceses, torna-se agora mais plana.
A aridez que prenuncia o grande vazio do Saara conquista pouco a pouco todo o horizonte.
A cerca de trinta quilómetros de Ouarzazate, ponto de partida frequente para os viajantes que metem os pés ao caminho na «Rota dos Kasbahs», uma estrada secundária faz a ligação a Ait-Benhaddou, uma das povoações do gênero mais bem conservadas em toda a região.
O Oued Malih é um rio praticamente sem água a maior parte do ano.
Apenas no Inverno e na Primavera o antigo ksar de Ait-Benhaddou fica isolado da pequena povoação, mais moderna, construída do lado de lá pelos emigrantes regressados de temporadas de trabalho em Casablanca, Agadir ou no estrangeiro.

Restauro sob os auspícios aa UNESCO em Ait-Benhaddou

Os kasbahs do sul e a tipologia das construções são obviamente devedoras a circunstâncias históricas, condições climáticas e aos materiais disponíveis localmente.
O sistema defensivo de muralhas que fazem corpo com as casas justificava-se pela necessidade de proteção contra os ataques dos nómadas.
Os habitats previam, assim, a possibilidade de abrigarem não apenas os habitantes como também os animais, as colheitas e as caravanas que vinham do Tafilalet para Marrakesh ou faziam o caminho para o sul.
Justamente, a localização das tribos Glaoui nesta área foi também um dos fatores da sua fortuna. Este ponto do Atlas sempre foi uma encruzilhada estratégica, tendo em conta as rotas das caravanas que ligavam os mercados no norte de África com Timbuctu, nas margens do Níger, três mil quilómetros a sul e a cinquenta e dois dias de viagem, como anunciam humorísticos cartazes em Agdz ou em Zagora, no Vale do Draa.
O tipo de arquitetura de terra de Ait-Benhaddou é semelhante ao de muitos outros ksour.
Os edifícios são construídos com tijolos de terra secos ao sol, podem ter quatro ou cinco andares, excepcionalmente seis ou sete, e as torres são invariavelmente decoradas com motivos geométricos, particularmente as dos tighremts, as casas mais nobres.
Os materiais utilizados neste gênero de arquitetura exigem naturalmente uma manutenção atenta e permanente.
Pelo menos uma vez por ano, logo a seguir à estação das chuvas, é necessário inspecionar minuciosamente as fissuras e os canais de drenagem da água.
A possibilidade de beneficiarem de eletricidade e de água corrente no novo povoado do outro lado do rio atraiu pouco a pouco a quase totalidade dos habitantes de Ait-Benhaddou, de tal forma que nem sequer uma dezena de famílias permanecia no kasbah em 1987, quando a UNESCO decidiu inscrever a aldeia na lista de lugares classificados como Patrimônio da Humanidade.
Precisamente um ano antes havia sido criado com o apoio financeiro e técnico da ONU um organismo vocacionado para o restauro deste género de povoações, o CERKAS (Centre de Conservation et de Réabilitation des Kasbahs).
Um dos objetivos era criar um quadro de cooperação com outras entidades regionais no sentido de dinamizar a implantação de infraestruturas que favorecessem a vida económica e social e a reocupação da aldeia.
Se este propósito ficou até agora no papel, a atividade do novo organismo centrou-se ao longo dos anos noventa no restauro das muralhas e da mesquita, no apoio aos cidadãos residentes para a reconstrução das suas casas e em diversas medidas de conservação. Esta intervenção foi particularmente impreterível na sequência das chuvas torrenciais que se abateram sobre a região em 1989 e causaram graves danos em quase toda a aldeia.
O frágil coração de Ait-Benhaddou regressou então parcialmente à sua origem, como num ciclo que devolvesse à terra o que é da terra.