No mundo dos feitiços - As Iauô
As cerimônias das iauô renovam-se de resto de seis em seis
meses, de ano em ano, até à morte.
São elas que em grande parte sustentam o culto.
Quando a iauô não tem dinheiro, ou o pai vende-a em leilão
ou a guarda como serva.
Desta convivência é que algumas chegam a ser mães-de-santo,
para o que basta dar-lhe o babaloxá uma navalha.
- E há muita mãe-de-santo?
- Umas cinquenta, contando com as falsas.
Só agora lembro-me de várias: a Josefa, a Calu Boneca, a
Henriqueta da Praia, a Maria Marota, que vende à porta do Glacier, a Maria do
Bonfim, a Martinha da rua do Regente, a Zebinda, a Chica de Vavá, a Aminam
pé-de-boi, a Maria Luiza, que é também sedutora de senhoras honestas, a Flora
Coco Podre, a Dudu do Sacramento, a Bitaiô, que está agora guiando seis ou oito
filhas, a Assiata.
Esta é de força. Não tem navalha, finge de mãe-de-santo e
trabalha com três ogans falsos - João Ratão, um moleque chamado Macário e certo
cabra pernóstico, o Germano.
A Assiata mora na rua da Alfândega, 304.
Ainda outro dia houve lá um escândalo dos diabos, porque a
Assiata meteu na festa de Iemanjá algumas iauô feitas por ela.
Os pais-de-santo protestaram, a negra danou, e teve que
pagar a multa marcada pelo santo.
Essa é uma das feiticeiras de embromação.
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
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