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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Axé Opô Afonjá - Iyalorixás


Sucessão

Obá Biyi, Mãe Aninha de Xangô 1909-1938

Talvez a Iyalorixá mais inteligente daquela geração, Mãe Aninha fez de sua roça o Axé, como se fosse uma miniatura da Africa, dando, a cada Orixá, um pedaço de terra como que reproduzindo a cidade ou tribo referente ao mesmo, tendo como sede o Ilé Xango que desde a época era considerado um palácio como em Oyo.
Construiu o Ilé Oxalá, uma bela arquitetura para o tempo de sua construção, onde estava presente a Africa pelas suas divisões internas e o próprio exterior.
A casa de Omolu, com alicerce em círculo e coberta de sapé. A casa de Oxossi totalmente dentro dos matos, uma verdadeira semelhança da tribo de Ketu, de onde é originário.
Também as casas de Onile e Exú, e uma casinha para o culto dos mortos, e ainda a casa de Ossain, local de sua preferência para os trabalhos e preceitos de culto-Axés, Ofós etc...
Pelo fato de Mãe Aninha ser descendente da nação de Gruncis, uma nação cujos rituais tem algumas variações das de Ketu, construiu uma casa para Yemanjá e outros Orixás pertencentes à nação Grunci, no ano de 1914.
Construiu também um cruzeiro, cuja inauguração foi feita com uma festa para os Abians. Houve ocasião de aí serem celebradas missas, pois era bem relacionada com religiosos.
Mãe Aninha foi também uma das pioneiras das lavagens do Bonfim, para onde ia com algumas filhas de santo em romaria com vassouras etc.
Levava sempre consigo, água de colônia para lavar os altares, o que era feito com toda dedicação e respeito. Era um ritual anual.
Mandou Mãe Senhora, que nesta época era Osi Dagan, construir uma casa para sua Oxum, de onde sairia o Peté para procissão.
O seu primeiro barracão de festas, feito de palha, verdadeira arte africana, do qual temos ainda hoje fotografia.
Colocou a pedra fundamental do atual barracão, com todo preceito e muita pompa, com a presença de autoridades de Estado. Deixou pronto todo o alicerce e pilastras de concreto.
Idealista como era, criou o corpo de Obás, a exemplo também de tradições dos palácios africanos, cuja função seria além de religiosa, sustentarem o Axé, principalmente na parte civil, por se tratar de pessoas importantes na sociedade baiana.
Sua casa, na Ladeira da Praça, era um verdadeiro pensionato gratuito, onde as protegidas a ajudavam na confecção de doces, muito bem aceitos naquele tempo.
A sua quitanda no Pelourinho, era um ponto de encontro do Candomblé, onde dava a orientação a muita gente.
Era filha de africanos. Foi graças a sua interferência direta que o Presidente Getúlio Vargas baixou o Decreto dando liberdade aos cultos.
Muito amiga de políticos, houve ocasião em que admitiu refúgio de políticos neste Axé. Conselheira e protetora deixou um grande vazio no mundo do Candomblé; no entanto com uma grande e forte base a qual é mantida.
Ao comprar esta roça, com a finalidade de assegurar a tradição religiosa, herdada de seus ancestrais, resolveu comprá-la para o seu eledá-Xango, deixando bem claro, sob juramento ao mesmo, que esta jamais seria dividida a terceiros por venda, etc, permanecendo todo seu espaço para uso de casas para Orixás e filhos carentes de residência, e cultivo de plantas.
O seu Egbe, quando de sua morte , era constituido assim:
Iya Kékeré - Iwin Tónà; Dagan - Ode Gidé; Iya Amoro - Airá Bayi; Osi Dagan - Oxum Muyiwa; Ajimuda - Martiniano Bonfim; Asobá -Bope Oya; Bále Xango - José Pimentel, que era uma espécie de ajudante de ordem, secretário e conselheiro, por motivos estritamente referentes ao Asé, foi extinto, surgindo daí o corpo de Obás ou ministros de Xango; em número de doze: Oba Abiodum - Oba Aré - Oba Odofim - Oba Arolu - Oba Tela - Oba Onasokum - Oba Aresá - Oba Elerum - Oba Oni Koy - Oba Olugbon - Oba Xorum - Oba Kakanfo. O único remanescente do primeiro corpo de Obas é o Kakanfo.

Olufan Deyi, Mãe Bada de Oxalá 1939-1941.

Assim era conhecida Maria Purificação, filha de Oxalá - Olufan Deyi. Mãe Bada - Amiga de Mãe Aninha, a quem Aninha chamava de Mãe e a acompanhou no Axé desde sua fundação.
Ficou por pouco tempo com a direção do mesmo, pois já estava bastante velha e com pouca saúde. Neste intervalo só foi possível recolher, um barco de Iaô.
Filha de africanos usava, como os mesmos, fazer iniciação em casas, fora de roças de Axé, devido à dificuldade de ter um espaço para tal.
É escusado dizer de sua capacidade; mesmo com a idade avançada e sem saúde, ainda deu uma boa parcela de préstimos ao Axé até que a morte a levou em 1941.
Em nosso Egbe ainda temos duas Filhas de Santo feitas por Mãe Bada, em 1939: Honorina (Osayn Delé) e Senhorazinha (Oxum Gberé).

Oxum Múyiwa, Mãe Senhora de Oxum 1942-1967.

Com a imponência de Oxum e a sabedoria que sempre lhe foi peculiar, Mãe Senhora cuidou deste Axé durante 26 anos que foram marcados pelo dinamismo e tato que muito a ajudou a ser considerada uma verdadeira Ayaba.
Como ela dizia: ayabá número um. De Osi Dagam para Iyalaxé com os ensinamentos que lhe foram passados pela sua Mãe Aninha.
Xango, como chefe espiritual não hesitou em escolhe-la. Após a morte de sua mãe, sempre muito obediente ao chefe, assim ela se referia a Xango, tomou as redeas do Axé com muita segurança.
Depois do falecimento do responsável, nosso Axé sofreu transformações, o que é normal em todo Axé, as quais serviram para promovê-lo.
Aos 42 anos de idade, conseguiu segurar toda a comunidade em pleno ano de 1942. Morando em Itaparica, na ocasião, a única opção foi deixar sua quitanda e vir para Salvador.
Os recursos do Axé ainda eram precários, apesar da grande obra de Mãe Aninha. Senhora logo foi acertando ou arrumando a casa.
Cuidou logo de construir o novo barracão, pois o velho estava precário, deu alguns retoques na casa de Oxalá, construiu o Ilé Egum, pois achou que o Egum da sua Iya base merecia um lugar à altura do seu merecimento para ser evocado e adorado.
A Sociedade Civil Cruz Santa a ajudou bastante como também alguns Obás e Ogans e pessoas adeptas do Candomblé.
O Ilé Egum foi feito com muita pompa, muito por causa de sua ligação com o Terreiro de Egum na Ilha de Itaparica, onde também recebeu o posto máximo para mulheres, que é o de Iya Egbe.
Por esta razão, todos os anos, principalmente no período de 06 a 14 de setembro, viajava p'ra Ilha a fim de, participar das obrigações a Baba Aboula e outros Eguns.
Apesar, de ter também uma casa fora do Axé, não se desfez de sua casa na Ilha; para onde sempre ia à título de descanso, com algumas filhas de Santo e sua neta.
Viajava sempre para o Rio de Janeiro a título de passeio, pois não fazia obrigações fora do Axé, apesar de ser sempre solicitada, apenas orientava os filhos lá residentes.
No ano de 1965, foi consagrada a Mãe Preta do ano. Título de Iya Nassó Oyo - 1957, ano em que fazia 50 anos de iniciação.
Foi uma grande festa. Nunca quis ir à África, mas mesmo assim mantinha correspondência constante com aquele país. Recebeu também a comenda de Ordem ao Mérito do Senegal.
Fez cerca de 90 iniciações além de outras obrigações como confirmações de Ogans. Sob ordens de Xango, instituiu os Otun e Osi Obas, devido a afluência de pessoas dignas que queriam se filiar ao Axé.
Com o Axé sempre crescendo, ela ampliou a casa de Xango e pôs luz elétrica. Às vezes dócil, às vezes rigorosa, a sua pessoa ficou marcante até que no dia 20 de Janeiro de 1967 Olorum Fe. Coisa de Orixá.
Assim como Mãe Senhora foi liderar as obrigações de morte de Tia Massi, então Iyalaxé do Engenho Velho, a nossa querida Iyalaxé do Gantois, Mãe Menininha, veio nos confortar com a sua presença, na ocasião que mais precisávamos. Obrigado Mãe Menininha.
Iwin Tòná, Mãe Ondina de Oxalá 1969-1975.

Mãe Ondina - Mãezinha

Ondina Valéria Pimentel, então Iya Kékeré do nosso Axé, substituiu Mãe Senhora logo em seguida, ao seu falecimento (por coincidência ela, que residia no Rio de Janeiro onde havia fundado um Axé, estava em Salvador).
Desde então orientou todos nas obrigações internas, indispensáveis nesta ocasião. Logo depois viajou para o Rio de Janeiro, ficando o Axé sob responsabilidade de alguns filhos de Santo.
Foi um período crítico para o Axé. Um ano depois, em jogo público, ficou resolvido que seria a própria Iya Kékeré a pessoa escolhida para o cargo. Passou então o Axé por outra fase de reformas gerais.
Logo depois de escolhida a nova Iya Kékeré, Iya Amoro, e outros postos, pelo Orixá da então Mãe de Santo, começaram as reformas de casas, etc... Uma constante neste Axé.
Mãezinha, como era chamada por todos com carinho, por não ter achado ninguém à altura de liderar o seu Axé no Rio de Janeiro e não podendo fugir do local de suas raízes, segundo dizia, ficou com a reponsabilidade dos dois, o que muito lhe desgastou.
Com o número de filhos aqui crescendo, foi imposta a necessidade de ampliação do quarto de Oxalá e Ayabás. As festas desta época sempre foram revestidas de muito brilhantismo; confirmou diversos Ogans, alguns Oba Otum e Oba Osi.
O grande sonho era construir a casa nova de Xango (que só foi possível depois de sua morte), construção elaborada e feita pela Sociedade Civil Cruz Santa.
O seu coração de Mãe permitia que se sacrificasse a fim de ajudar aos outros que viviam em sua volta. Durante os sete anos que tomou conta dos destinos do Axé, fez aproximadamente 20 viagens para o Rio de Janeiro.
Foi perdendo a saúde, quando, no dia 19 de Março de 1975, depois de um dia muito agitado, passou mal, indo para o Pronto Socorro, onde veio a falecer, deixando o Axé de Xango à revelia, exposto aos acontecimentos inerentes nesta ocasião.
Os membros do Conselho Religioso eram:
Iya Kékeré - Oxum Funmisé; Dagan - Iji Lonã; Osi Dagan - Oxum Tololá; Iya Amoro - Iji Tolú; Omo Ewe - Ogum Eyhindá; Kolabá - Odé Kayodé; Asobá - Didi; Ajimuda - Oxum Dele; Asogum - Afikode.
Stella Azevedo - Iyalorixá do Ilé Axé Opô Afonjá,
dezembro de 1981

Odé Kayode, Mãe Stella de Oxossi 1976.
Mãe Stella de Oxossi

Iya Odé Kayode, Maria Stella de Azevedo Santos, nasceu em Salvador, em 02 de maio de 1925. Foi iniciada por Mãe Senhora. Desde junho de 1976, quando tomou posse como Iyalorixá, que seu trabalho se caracteriza por manter e preservar à medida que muda, transforma e cuida dos fundamentos e práticas religiosas.
Suas entrevistas, sua participação na Comunidade, seu brado contra o sincretismo, expressam sua força, crença e caráter. Iya Stella é um marco e também uma continuidade da tradição religiosa trazida pelos Babalorixás e Iyalorixás que aqui chegaram.
Salvador, outubro de 1996.
Bisneta de Konigbágbé, o inesquecível, africano de Abanigéria, e dos Azevedo de Portugal, Mãe Stella nasceu em Salvador e ingressou no Candomblé aos 13 anos, tendo sido iniciada pelas mãos da tia Arcanja Soares de Azevedo.
Aos 49 anos, assumiu o comando do Ilé Axé Opô Afonjá, substituindo Mãe Ondina. Foi a mais jovem mãe-de-santo a assumir o cargo, na Bahia.
Mãe Stella deu continuidade à tradição da força do matriarcado no Opô Afonjá, onde as Iyalorixás sempre foram figuras de destaque no culto afro-brasileiro.
Formada em enfermagem pela antiga Escola de Saúde Pública da Bahia, está aposentada da profissão e dedica seu tempo ao terreiro. Foi a primeira Iyalorixá a escrever livros e artigos sobre a cultura, as tradições e a essência da sua religião.
"A história é nossa e nós temos que escrevê-la", afirma Mãe Stella, que gerou polêmica por se colocar contrária à prática do sincretismo religioso. Oké Aró!
por Oni Kòwé

fonte:
Stella Azevedo - Iyalorixá do Ilé Axé Opô Afonjá,
dezembro de 1981
Stella Azevedo - Iyalorixá do Ilé Axé Opô Afonjá,
Dezembro de 1981