Tecnologia
A arquitetura assume importância primordial no que se refere
à tecnologia na África pré-colonial. Isso pode ser verificado nas construções
que permaneceram desses tempos em todo o continente africano.
Arquitetura em Gana e na curva do Níger
De acordo com Idrisi o imperador de Gana viveu em um castelo
fortificado construído com pedras, equipado com janelas e adornado internamente
com esculturas e pinturas. Diz-se que a construção data de 1116. As outras
casas naquela capital eram de pedra com vigas de acácia; devido à sua aparência
deviam ser casas de pessoas ilustres; as casas do povo eram cabanas de barro
recobertas com telhados de palha. Os relatos de Idrisi confirmam os de Bakri.
As escavações feitas nessa região por Bonnel de Mézières no inicio do século XX
(1911-1913) sustentam amplamente as afirmações feitas pelos cronistas e
geógrafos dos séculos onze e doze. Foi descoberta uma cidade, presumidamente a
velha capital, com vestígios de casas de vários pavimentos, com paredes de 30
centímetros de espessura e sem acessórios de metal, apesar das oficinas metalúrgicas.
Porém no auge do império de Gana, existiram várias cidades grandes com casas e edifícios
feitos de pedra (Nema, Ualata, Aoudaghast, e Kumbi, que provavelmente foi o
nome autóctone de Gana).
E na verdade não se pode concluir que Bonnel de Mézièrs
tenha descoberto a velha capital. e sim, o lugar de mais uma dessas cidades,
com exceção de Aoudaghast que era situada mais para oeste. Foi Delafosse quem
identificou um dos quatro centros em ruinas de Gana.
Qual era o estilo dessa arquitetura? É difícil de afirmar
com os dados disponíveis nesse estado da pesquisa. Por outro lado, pode-se
supor que tenham se assemelhado a um estilo mais recente como o das cidades de
Djenné e Timbuktu. De acordo com os manuais europeus, atribui-se simplesmente
esse estilo ao da África do Norte de origem árabe, introduzido por Es Sakali (o
construtor) que foi trazido do Maghreb por Kankan Mussa no seu retorno das peregrinações.
As colunas embutidas nas paredes em formato piramidal
encravadas com ponteiros, que caracterizam a arquitetura sudanesa, não
encontram paralelo na arquitetura árabe e europeia. Há muita diferença entre o
estilo árabe de qualquer período (incluindo o hispânico) e aquele do Sudão, da
mesma forma quanto a que existe entre uma catedral gótica e uma basílica
romanesca. Também é preciso ressaltar que na construção de mesquitas de
arquitetura arábica, o estilo é praticamente imutável. A maioria delas segue a
mesma planta, e desenvolve-se da mesma forma (cúpula, minarete, etc.). Por isso
questiona-se porque este estilo não foi seguido na África Negra. Pelo contrário,
a originalidade dessa arte sudanesa é aparente: um simples exemplo, de relance,
serve para nos fazer ver o quanto foi explorado esse motivo piramidal. A forma
geral do edifício desenvolve-se claramente a partir da pirâmide truncada. Todas
as grossas colunas que adornam a fachada são evocações mais ou menos discretas
desse mesmo motivo. Mesmo na arquitetura das tumbas dessa região (chamadas
tumuli) revela-se o mesmo parentesco: São pirâmides truncadas através da
erosão, construídas de tijolos avermelhados de terracota, dispostos
frequentemente em semicírculo sobre um eixo leste - oeste. As dimensões médias
variam de 15 a 18 metros de altura ocupando superfícies de 150 a 200 metros
quadrados na base.
A ideia de que a África Negra não dispusesse de uma
arquitetura própria antes da chegada de Sakali é contraditória aos fatos. O
testemunho de Bakri e Idrisi (para Gana) e de Battuta (para o Mali) mencionados
acima, comprovam essa questão. As escavações empreendidas por Bonnel de
Mézières e Despalgues na região de Ghanae no planalto nigeriano também
confirmam. A existência de cidades fortificadas chamas tatas (o equivalente a
castelos fortificados) datam de períodos bastante anteriores a esse tempo.
Em tempos remotos, o palácio do Oni de Ifé “era uma
estrutura construída por autênticos tijolos esmaltados e decorados por
ladrilhos de cerâmica decorada com toda sorte de ornamentos."
As casas dos Habés (Dogons - estudadas por Marcel Griaule)
são construídas em pedra, com vários pavimentos, embutidas dentro de escarpas.
Algumas dessas construções estão parcialmente situadas ao nível do solo, possuindo
depósitos subterrâneos.
Os áticos dispostos em camadas na forma de torres de
paralelepípedos são de um estilo diretamente relacionado com as muralhas de
ameias das tatas e das mesquitas sudanesas.
E finalmente, apesar do hiato que existe entre a história
escrita e a pré-história, antes da ultima grande seca (7000 AC), correspondente
ao período saariano, parece fazer parte dos ciclos culturais da África Negra, a
julgarmos pelas pinturas das cavernas trazidas à luz por Henri Lhote.
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