O único grupo que tinha interesse em revirar a ordem social
eram os escravos da casa do patriarca, aliados aos ba-dolo ("os
desprovidos de poder," sociologicamente, os camponeses pobres). De fato, o
status dos artesãos era invejável. Sua consciência não podia de modo algum ser
portadora da semente de revolução. Sendo os principais beneficiários do regime
monárquico, eles o defendiam, como fazem até hoje, e lamentavam o seu fim.
Por definição, todos os escravos deveriam fazer parte da
classe revolucionária. É fácil imaginar o estado de mente de um guerreiro ou de
qualquer homem livre cuja condição muda de um dia para o outro com a derrota na
guerra tornando-se escravo. Tal como na antiguidade clássica os prisioneiros de
guerra estavam sujeitos a serem automaticamente vendidos. Pessoas de alta
posição tinham a chance de ser devolvidas para suas famílias em troca de certo
numero de escravos. Sobrinhos pelo lado de uma irmã podiam ser dados em troca
para salvar um tio. conforme indicam as expressões, na djây ("pode
vendê-lo", o tio), e djar bât ("ele que pode compra-lo de
volta", o sobrinho). É dai que vinham os escravos.
Nesse regime aristocrático, os nobres formavam a cavalaria.
A infantaria era composta por escravos e prisioneiros de guerra. Os escravos do
rei formavam a maior parte de suas forças o que resultava na melhoria de suas
condições. Agora eram apenas chamados de escravos. O rancor em seus corações
tinha sido amenizado pelos favores que recebiam: eles dividiam os espólios de
guerra após uma expedição; podiam até fazer pequenas pilhagens em tempos de
agitação social, dentro do território nacional sob a proteção do rei, contra os
pobres camponeses, os bâ-dolo - mas nunca contra os artesãos cujos bens seriam restituídos
caso fossem roubados.
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