No mundo dos feitiços - A Casa das Almas
Os negros "cabindas" do Rio guardam com terror a
história de um branco que lhes apareceu certa vez em pleno sertão africano.
Quando o rei deu por ele, que por ali vinha calmo, com as
suas barbas de sol, precipitou-se mais a tribo em atitude feroz.
O branco tirou da cinta um pequeno feitiço de metal e
prostrou morto, golfando sangue, o babaláo.
- Exu! Exu! ganiu a tribo, recuando de chofre.
- Quem és tu, santo que eu não conheço? perguntou trêmulo o
poderoso rei.
- Sou o que pode tudo, bradou o branco. Vê.
Estendeu a mão de novo e matou outros negros.
- Só te deixarei em paz se me mostrares todos os teus
feitiços.
Sua Majestade, apavorada, levou-o à tenda real e durante o
dia e durante a noite, sem parar, lhe deu tudo quanto sabia.
- Perdôo-te, disse o branco. Adeus! Levo para o mistério a
rainha.
Aconchegou o feitiço, que parecia egum, o deus da guerra, no
seio da preferida, deixou-a cair, e partiu devagar pela estrada a fora...
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
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