O sistema de castas surgiu por uma divisão de trabalho, mas
sob um regime politico avançado, que era monárquico (por não encontrarmos
castas aonde não há nobres). Todavia, é muito provável que a especialização do
trabalho, que originou a transmissão hereditária de tarefas no sistema de
castas, numa família ou em escala individual, desenvolveu-se a partir de uma
organização de clãs. Se examinarmos os nomes totêmicos, todos aqueles que
praticam as mesmas tarefas, e aqueles que pertencem à mesma casta, fazem parte
do mesmo clã totêmico. Por exemplo, apesar de todos os casamentos exogâmicos que
possam ter surgido após a destribalização, todos os Mârs são sapateiros, e
pertencem ao mesmo clã, possuem o mesmo totem, não importando o quão distantes
estejam territorialmente. Sendo assim, dois Mârs que se encontram pela primeira
vez percebem que fazem parte do mesmo clã de origem.
Sendo assim, no tempo dos grandes impérios de Gana e Mali, a
destribalização já havia tomado conta através desses territórios.
De acordo com o depoimento de Ibn Khaldun, Ibn Battuta, m e
de Tarik es Sudan:
No tempo das conquistas ocorridas ao norte da África, pelos
muçulmanos, alguns mercadores penetraram na parte ocidental do território dos
negros, e não encontraram ali nenhum rei tão poderoso quanto o de Gana. Suas
províncias espalharam-se para o ocidente em direção ao oceano Atlântico. Gana,
a capital dessa nação populosa e forte, estava separada em duas cidades pelo
rio Níger, formando a maior e mais populosa cidade do mundo.
Podemos supor que numa cidade como Gana, que no século dez
era uma das maiores cidades do mundo, a organização tribal havia dado lugar às
exigências da vida urbana. De todo modo, a transmissão de herança e de
sobrenome, conforme praticada no império de Mali, não deixa nenhuma dúvida
quanto ao desaparecimento do sistema tribal nessa região conforme atestou Ibn
Batutta.
Os negros usavam os sobrenomes dos tios pelo lado materno, e
não do pai; não eram os filhos que herdavam de seus pais, mas os sobrinhos, os
filhos da irmã do pai. Ibn Batutta afirma nunca ter se deparado com esse
costume em outros lugares, exceto entre os infiéis do Malabar na Índia.
Um fato que não foi suficientemente pesquisado é que o
indivíduo não usava o nome da família, mas seu nome próprio antes do
deslocamento do clã. Assim sendo, uma pessoa usava o nome do clã, apenas no
coletivo, e quando lhe perguntavam o nome dizia invariavelmente que pertencia
ao clã dos Ba-Pende, Ba-Oulé, Ba-Kongo, etc. Sendo membro de uma comunidade, somente
com o seu desligamento é que podia dar-se a oportunidade de ter existência
individual assim como um nome de família, que permanecia então como uma espécie
de lembrança do nome do clã. Esse é o motivo pelo qual sempre se fala em nomes totêmicos.
E de acordo com a passagem citada por Ibn Battuta, vemos que o indivíduo já
usava um sobrenome de família, o nome de sua mãe, dado ao sistema matriarcal.
Isto se confirma por todos os nomes de personagens importantes relatados por
Tarik es Sudan. Esse trabalho foi escrito no século dezesseis por um negro
estudado e relata fatos que remontam ao primeiro século depois de Cristo. O
mesmo pode ser dito de Tarik el Fetach, através dos escritos de outro negro de
Timbuktu (Kati).
A estabilidade do sistema de castas foi assegurada pela
transmissão hereditária das ocupações sociais, que correspondem até certo
ponto, a um monopólio disfarçado em proibição religiosa para eliminar a
competição profissional. de fato a significação religiosa estava atrelada à
herança do comercio. De acordo com as convicções atuais, um sujeito não
pertencente ao comercio, não seria capaz de exercê-lo com eficácia, mesmo se
adquirisse toda a prática e habilidade de algo que não lhe pertencesse, sob o
prisma místico, porque não foram seus ancestrais que haviam feito compromisso
com os espíritos de ensinar essa pratica aos mortais.
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