A Igreja Positivista
Com o chapéu na mão, nós entramos. Havia luxo e conforto.
De um lado a secretária, onde se vendem as obras editadas
pela igreja, de outro, a sala onde está a escada para o coro, com orquestra e
uma rica biblioteca de carvalho lavrada.
Degraus atapetados dão acesso à nave.
O templo da humanidade é lindo. Ao alto, junto ao teto
correm janelas que arejam o ambiente.
Todo pintado de verde-mar, está-se dentro como num suave
banho de esperança.
Sentam-se os homens na nave, que tem catorze capelas; -
colunas de pau negro sustentando em portais abertos bustos esculturados por
Décio Vilares.
Os bustos representam os meses do calendário: Moisés ou
Teocracia inicial, Homero, Aristóteles, Arquimedes ou a poesia, filosofia e a
ciência antiga; César ou a civilização militar; São Paulo, ou o catolicismo;
Carlos Magno ou a civilização feudal: Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes,
Frederico Bichat, ou a epopéia, a indústria, o drama, a filosofia, a política,
a ciência moderna, e Heloisa, a santa entre as santas, que fica na última
capela, voltando o seu semblante magoado para a porta.
Na capela-mor, rica de tapetes e de madeiras esculpidas, há
uma cátedra, onde se senta Teixeira Mendes com as vestes sacerdotais negras
debruadas de verde.
Por trás fica um busto de bronze de A. Comte, e, dominando
toda a sala, o quadro de carvalho lavrado com letras de ouro, de onde surge a
figura delicada de Clotilde, a humanidade simbolizada por Décio numa das suas
miríficas atmosferas sonhadoras.
A voz de Raimundo corre com a continuidade de uma queda de
águas; na nave cheia cintilam galões e lunetas graves; na capela-mor, senhoras
ouvem com atenção essa palavra, que não deixa de ser demolidora.
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
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