Se olhássemos de relance, poderíamos acreditar que o ramo
Peul veio originalmente daquela parte da África Ocidental aonde os mouros
semíticos e os negros estabeleceram contato. Apesar da hipótese de mistura
racial ser aceita como um fato, o local aonde isso se deu deve ser procurado
alhures, apesar das aparências. Tal como as demais populações da África
Ocidental, os Peul vieram provavelmente do leste, em momentos posteriores. Essa
teoria pode sustentar-se provavelmente pelo dado de maior importância: a identidade
entre dois nomes próprios totêmicos dos Peul, com duas noções igualmente
típicas das crenças metafísicas dos egípcios, os Ka e os Ba. De acordo com
Moret, Ka é o ser essencial, a parte ontológica do indivíduo que existe no céu.
Assim sendo, nos textos do Velho Império, há uma expressão que diz “Ir para o
seu próprio Ka" significando morrer. O Ka unido ao Zet, formas de Ba, é o
ser completo que atinge a perfeição e mora no céu. Zet é a parte do ser que foi
purificada na “Bacia do Chacal,” conforme a religião egípcia. Set (não há z em
Wolof tornando-se automaticamente s ao utilizar-se uma palavra estrangeira)
significa limpo, em Wolof. Obviamente não tem relação com o nome Sow, usado por
alguns Peul. De outro lado, Ka e Ba, essas duas noções ontológicas egípcias,
são nomes próprios usados pelos Peul, no inicio das palavras. Ka, ou Kao, em
egípcio antigo, significa elevado, superior, grandioso, marido, padrão, altura-
aonde o hieróglifo que descreve a palavra, está representado por duas mãos que
se elevam para o céu. Possui o mesmo significado em Wolof, podendo-se
estabelecer a relação com Kau-Kau mencionado antes. Ba, em egípcio, é
representado por um pássaro com cabeça humana, que vive no céu; é também o nome
de uma ave de pescoço comprido. Ba em Wolof significa avestruz. Portanto
pode-se notar que esses elementos da metafísica egípcia sofreram diferentes transformações
dependendo de quem as transmitia; enquanto no Wolof a significação egípcia é
mantida, no Peul essas palavras tornaram-se nomes próprios. É fato conhecido
que, até a sexta dinastia, no tempo da revolução Osiriana (2100 AC), o faraó
por si só tinha direito à imortalidade, e consequentemente, desfrutava
plenamente de seu Ka e seu Ba; também se sabe que vários faraós portavam esse
nome, entre eles o rei Ka, da era proto-dinástica, cuja tumba foi descoberta em
Abidos por Amélineau. O nome do ramo Peul dos Kara ou Karé teriam vindo de
Ka+Ra ou Ka+Ré. Os demais nomes Peul, tais como Diallo, devem ter sido
incorporados mais tarde, apesar das aparências. Com respeito à sua língua, há
uma unidade natural com as outras línguas faladas na África Negra,
especialmente o Wolof e o Serer, como será mostrado a seguir.
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