Propaganda Colonial e Jingoismo
Ao final da primeira guerra mundial, os impérios coloniais
haviam se tornado populares em quase todos os lugares da Europa: a opinião
pública tinha sido convencida da necessidade de um império colonial, apesar de
que a maioria dos cidadãos metropolitanos nunca terem visto uma amostra disso.
As exposições coloniais implementaram essa mudança na
mentalidade através da propaganda amparada pelo lobby colonial e por vários
cientistas.
Em consequência disso, na conquista dos territórios
seguia-se inevitavelmente uma exibição dos nativos com propósitos “científicos”
e de recreação.
Karl Hagenbeck, um mercador alemão de animais selvagens e
fornecedor da maioria dos zoológicos europeus, decidiu exibir em 1874, Samis,
os nativos de Samoa, como populações “puramente naturais”. Em 1876, ele enviou
um de seus colaboradores para o recém-conquistado Sudão Egípcio, para trazer
bestas selvagens e Núbios.
Exibidos em Paris, Londres e Berlim, esses Núbios obtiveram
grande sucesso. Esses “zoológicos humanos” podiam ser encontrados em Hamburgo,
Antuérpia, Barcelona, Londres, Milão, Nova York, Varsóvia, etc., com 200.00 a
300.00 visitantes para cada exibição.
Tuaregues também foram exibidos após a conquista francesa de
Timbuktu (descobertos por René Caillé, disfarçado de muçulmano, em 1828,
ganhando o prêmio oferecido pela Société de Géographie francesa).
Malgaches também, após a ocupação de Madagascar, e amazonas
do Abomé após a derrota mediática sofrida por Behanzin para os franceses em
1894...
Não estando acostumados às condições climáticas, alguns dos
nativos em exibição, tais como os Galibis em Paris, acabavam morrendo.
O diretor do Jardin d´Acclimatation, Geoffroy de
Saint-Hilaire, decidiu organizar em 1877, dois “espetáculos etnológicos”
apresentando Núbios e Esquimós (Inuit).
O público desse lugar dobrou, tendo um milhão de ingressos
vendidos nesse ano, um sucesso estrondoso para aqueles tempos. Entre 1877 e
1912, foram apresentadas aproximadamente trinta “exposições etnológicas” no
Jardin Zoologique d'Acclimatation.
Vilarejos Negros também foram apresentados na Feira Mundial
de Paris 1878 e 1879. A Feira Mundial de 1900 exibiu o famoso diorama “vivos”
em Madagascar, e as Exposições Coloniais de Marselha (1906 e 1922) e Paris (1907
e 1931) também exibiram seres humanos em jaulas, frequentemente nus ou seminus.
Os vilarejos nômades do Senegal também foram recriados, exibindo também o poder
do império colonial para toda a população.
Nos Estados Unidos, o chefe do New York Zoological Society,
Madison Grant, exibiu o pigmeu Ota Benga, no Zoológico do Bronx junto com
macacos e outros animais em 1906. Veja na figura acima. E sob o comando de
Grant, o proeminente diretor do zoológico, Hornaday, um cientista racista e
eugencista, expôs Ota Benga numa jaula junto com um orangotango rotulando-o de
“Elo Perdido” numa tentativa de ilustrar o Darwinismo, e mostrar que africanos
como Ota Benga estavam mais próximos dos macacos do que os europeus.
As Exposições coloniais, compreendendo a British Empire
Exhibition de 1924 e a bem sucedida Paris Exposition coloniale de 1931, foram
sem dúvida os elementos chave para legitimar o processo de colonização e a
impiedosa disputa pela África. Da mesma maneira a popular revista em quadrinhos
As Aventuras de Tintin, cheia de clichês, carregavam consigo uma ideologia
racista e etnocêntrica, que era o consenso da massa ao fenômeno imperialista. O
trabalho de Hergé atingiu o seu ápice com as revistas Tintin no Congo
(1930-1931) e A Orelha Quebrada (1935).
Enquanto as historias em quadrinhos desempenharam o mesmo
papel que os filmes de faroeste para legitimar as guerras contra os índios nos
Estados Unidos, as exposições coloniais que eram tanto populares quanto
“científicas”, tornaram-se uma interligação entre o povo e as “sérias pesquisas
científicas”. Deste modo, antropólogos como Madison Grant e Alexis Carrel construíram
seu racismo pseudocientífico inspirando-se no Ensaio sobre a Desigualdade das
Raças Humanas de Gobineau.
Os zoológicos humanos proporcionaram um laboratório na
escala humana para essas hipóteses raciais e uma demonstração de seu valor ao
rotularem um ser humano como Ota Benga como o elo perdido entre macacos e
europeus, tal como aconteceu no Zoológico do Bronx.
O Darwinismo social e a pseudo-hierarquia das raças,
embasaram a biologisação da noção de “raça”, na qual o leigo podia observar “a
verdade cientificamente provada”.
Fonte consultada: Wikipédia
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