Dentro do processo performático, os indivíduos aproveitam
para intervir, acrescentar, e virar o jogo para sua satisfazer as suas
conveniências. Suas manobras são expressões de seu próprio poder, efetivamente
o poder de Agemo, o camaleão que lhe empresta o nome. O camaleão é um motivo
frequentemente usado nos adornos de cabeça (coroas) que também levam o mesmo
nome. Tal como os sacerdotes Agemo, o camaleão transforma, combina poderes,
abre sua boca até ficar maior que a cabeça e canta alto com um sibilo, anulando
seus oponentes deixando-os sem ação. O poder do camaleão pode deparar-se
aparentemente com qualquer poder na terra, com exceção do sangue menstrual.
O sibilo imponente emitido de maneira tão marcante pelo
camaleão assemelha-se a uma maldição, um praguejar. De acordo com Idebi, um
sacerdote de Agemo, a boca do camaleão deve ficar fechada, porque o seu cuspe
pode cegar uma pessoa. A relação entre a cegueira e o praguejar também foi
comentada pela esposa predileta de Serefusi, explicando que as mulheres que
olharem para uma comitiva Agemo passando na rua, podem ficar cegas. Quando os
sacerdotes Agemo querem praguejar (s´epe), eles cospem primeiramente nos seus
amuletos e proferem as palavras fatais que podem trazer morte para a vítima.
Agemo também é o nome que se dá ao mês lunar que ocorre no
final de junho/inicio de julho, por ocasião do festival Agemo. Durante esse mês,
nota-se uma abundancia de camaleões, e diz-se que suas caudas - normalmente
enroladas numa espiral - ficam eretas. É tabu matar camaleões nessa época. E de
qualquer maneira os feitiços preparados com eles tornam-se ineficazes, de
acordo com os sacerdotes. Em compensação é durante o mês de Agemo que seus
sacerdotes tornam-se mais poderosos. É o momento em que eles ofererecem
sacrifícios para seus santuários e ancestrais, e também quando são consultados
para solucionar problemas. Da mesma forma com que os camaleões retiram as cores
do entorno, os sacerdotes retiram os poderes do camaleão, deixando-os
impotentes durante o mês lunar.
A destreza de Agemo em transformar-se está mencionada nas
fabulas populares sobre essa sociedade de mascaras, que relembram nos contos,
como foi que um personagem chamado Camaleão venceu seus inimigos adquirindo seus
poderes. A ação da cor que protege os camaleões por mimetizar o entorno está
representada na variedade de tons da palha seca usada para fazer os seus trajes
e mascaras.
Se o camaleão representa uma metáfora para falar dos poderes
de transformação dos sacerdotes, o elefante faz alusão à magnificência de sua
presença. Os sacerdotes comparam as pernas mascaradas de seus interpretes com
aquelas dos elefantes; a fibra dependurada por debaixo da saia até chegar aos
pés, evocam de fato as pernas roliças e grossas dos elefantes. Eles também
chamam a atenção para os passos lentos que seus interpretes usam em suas
apresentações, que lembram os movimentos lentos, calculados e pesados -
qualidades essas que estão associadas à maneira de andar dos elefantes. - dignos,
ponderados e pesados. A substancia do elefante também está manifestada nos
braceletes grossos e pesados de marfim que são característicos desses
sacerdotes. Quaisquer outras metáforas fazendo alusão a essas qualidades de
poder dos elefantes e camaleões são sempre evocadas no espetáculo
Veja o video
Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro da
liberdade do ritual ioruba, do poder de improvisação de seus intérpretes, e do
desejo de seus participantes em alternar as possibilidades de entretenimento.
Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses
artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes,
base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de estética da diáspora.
A estrutura política dos iorubas foi historicamente baseada
em governos representativos abertos, nos quais faziam parte conflitos e
competições entre reis, descendentes. mas também entre chefes facções em disputas
com os sacros monarcas. As funções politicas dos rituais iorubas excluem
frequentemente certas categorias de pessoas, e incluem jogos de poder entre
seus participantes ou entre eles e outros grupos.
African Diaspora Program
De Paul University
Margaret Thompson Drewal
Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes
performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais
iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares
norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo
espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui
especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também teve
experiência profissional como bailarina e coreógrafa.