Ritual Ioruba - interpretes, espetáculo, desempenho
As cerimônias de máscaras Egungun transformam e reapresentam
os mitos através da fragmentação de sua estrutura narrativa, de modo muito
parecido com que se faz nos rituais de adivinhação. As performances se
justapõem - são paratáticas - são concebidas da mesma forma, mas desconectadas
na temática e no estilo, e seus segmentos (partes) são temporariamente unidos.
Ositola refere-se aos mitos dentro do ritual como árvores arrancadas do solo,
desde o começo. É como fazer as fundações durante um determinado estágio da
cerimonia. Em cada estágio, tenta-se recomeçar daquele que antecede, isto é,
das fundações. Portanto não se começa simplesmente do nada. E quando se inicia
das fundações, o axé da cerimônia terá uma ação efetiva.
Cada segmento do ritual será então, enraizado
independentemente na sua própria origem. E quando realizados os segmentos
poderão servir para evocar a narrativa completa. Há uma frase ioruba que
explica isso, “para uma pessoa bem formada meia palavra basta; em sua mente,
uma pequena parte torna-se o todo”.
Quando reencenados, os precedentes documentados nos mitos
são trazidos para a situação presente e apresentados, do mesmo modo com que se
usam os precedentes na Justiça para fundamentar legalmente um determinado caso.
Eles são concebidos para fazer isso, não por terem participado de alguma
maneira anteriormente, mas para serem captados, experimentados e validar
formulas desenvolvidas ao longo do tempo por pessoas sagazes e com experiência
prévia nesses assuntos. Essas formulas tornam-se então modelos para as práticas
presentes, permitindo um grande leque de interpretações e de representações.
Yoruba Ritual
Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro â da
liberdade do ritual ioruba, o poder de improvisação de seus intérpretes, e o
desejo de seus participantes em alternar as possibilidades de entretenimento.
Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses
artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes,
base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de â estética da diáspora.
A estrutura política dos iorubas foi historicamente baseada
em governos representativos abertos, nos quais faziam parte conflitos e
competições entre reis, descendentes. mas também entre chefes facções em
disputas com os sacros monarcas. As funções politicas dos rituais iorubas
excluem frequentemente certas categorias de pessoas, e incluem jogos de poder
entre seus participantes ou entre eles e outros grupos.
African Diaspora Program
De Paul University
Margaret Thompson Drewal
Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes
performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais
iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares
norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo
espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui
especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também
teve experiência profissional como bailarina e coreógrafa.