Seguidores

sábado, 5 de maio de 2012

Performance

Ritual Ioruba - interpretes, espetáculo, desempenho 

O desempenho dos intérpretes (performers) está implícito no conceito de poder conhecido por axé (ase). Esse termo é definido por muitos como "um vir a ser", efeito, imprecação", "poder, autoridade, comando", axé não tem conotações morais; nem bom nem ruim. Vêm a ser, de preferência, uma força geradora ou potencial presente em todas as coisas - pedras, colinas, riachos, montanhas, plantas, animais, ancestrais, divindades - e nas expressões de - rezas, cantigas, maldições, e também no palavreado cotidiano. Ase é o poder da transformação. Os humanos possuem essa força geratriz e aprendem a manipulá-la através da educação, iniciação para melhorar as suas vidas e daqueles ao seu redor.
O conceito de axé dota os atuantes como agentes na estruturação, no processo, na contextualização e na agilidade das palavras, operando de pronto sobre a estrutura, processo e contexto e improvisando consigo e com os demais. (como repentistas). Sua eficácia requisita (aba) a habilidade em revelar o seu próprio axé, através da manipulação magistral, negociação e persuasão.
As improvisações tomam diversas formas: a transformação dos versos exotéricos em narrativas, interpretações espontâneas, recontextualizações, percussionismo, dança, cânticos, paródias, artimashas, reconstituições de convenções, competição de interesses, e intervenções pessoais no evento ritualístico. Todas enraizadas no cuidado dos iorubas com o asé - o poder de fazer existir, de fazer acontecer. É esse o verdadeiro "trabalho" de um ritualista; de fato, está na essência daquilo que se conhece por ato de representar. Dentre os iorubas, não existem peritos que não possuam ase, o proto-conceito daquilo que viria a ser o axé no Candomblé brasileiro, o ache na Santeria cubana e Lucumi, e no ase do "Movimento Reversionista Ioruba" que existe na cidade de Nova York.
Ase é o poder dos celebradores gerar espetáculos rituais, ou espetáculos que operam como batalhas, em estilos de competição singular em virtuosidade e inventividade. O sistema religioso tradicional dos iorubas engendra uma extrema diversidade através dos processos de adivinhação e celebração, que enfatiza a diferença e heterogeneidade das origens dos seus cidadãos e de suas práticas religiosas. Se a performance constrói as configurações culturais e de identidade de uma civilização através de suas representações simbólicas, certamente as celebrações ritualísticas dos iorubas como um grupo constroem identidades e configurações múltiplas que estão sempre dialogando entre si.
A maleabilidade da prática ritual dos iorubas capacitou-os a tolerar tanto a cristandade quanto a fé islâmica. E também teve a capacidade de sobreviver dentro das opressoras sociedades escravagistas que desembarcaram no Novo Mundo a principio clandestinamente e depois abertamente. De fato a religião ioruba está ganhando forças e crescendo entre os brancos e negros da atual classe média americana, naquilo que veio a se chamar de sociedade liminoide (ou do limite). 

Yoruba Ritual

Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro â da liberdade do ritual ioruba, o poder de improvisação de seus intérpretes, e o desejo de seus participantes em alternar as possibilidades de entretenimento. Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes, base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de â estética da diáspora.
A estrutura política dos iorubas foi historicamente baseada em governos representativos abertos, nos quais faziam parte conflitos e competições entre reis, descendentes. mas também entre chefes facções em disputas com os sacros monarcas. As funções politicas dos rituais iorubas excluem frequentemente certas categorias de pessoas, e incluem jogos de poder entre seus participantes ou entre eles e outros grupos.


Ivor L. Miller
African Diaspora Program
De Paul University
http://afrocubaweb.com/ivormiller/IvorIntro.pdf

Margaret Thompson Drewal

Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também teve experiência profissional como bailarina e coreógrafa.