Os Maronitas
A intervenção européia, entretanto, espalhou pelo mundo a
flor pontifícia.
A imigração esvazia aos poucos o Líbano.
Não se pode viver com farturas em terras tão antigas, as
autoridades conservam a influência aterradora do Sultão.
Os que primeiro saíram, com os ortodoxos e outros crentes de
Jesus, escreveram chamando os que ficavam, a perspicácia maometana facilitou a
emigração para enfraquecer os libertos da sua prepotência e os maronitas vêm
para os Estados Unidos, para a Argenúna, para o Brasil, num lento êxodo...
Nós temos uma considerável pétala da celebrada flor.
Uma das nossas maiores colônias hoje é incontestavelmente a
colônia síria.
Há oitenta mil sírios no Brasil, dos quais cinqüenta mil
maronitas.
Só o Rio de Janeiro possui para mais de cinco mil.
Quando os primeiros apareceram aqui, há cerca de vinte anos,
o povo julgava-os antropófagos, hostilizava-os e na província muitos fugiram
corridos à pedra.
Até hoje quase ninguém os separa desse qualificativo geral e
deprimente de turcos.
Eles, todos os que aparecem, são turcos!
Os sírios, arrastados na sua imensa necessidade de amizade e
amparo, davam com a muralha de uma língua estranha, num país que os não
suportava.
Agremiaram-se, fizeram vida à parte e, como a colônia
aumentava, foram por aí, mascates a crédito, fiando a toda a gente, montaram
botequins, armarinhos, fizeram-se negociantes.
Quem os amparou? Ninguém!
Só, por um acaso, Ferreira de Araújo, o Mestre admirável,
escreveu defendendo-os.
Os sacerdotes maronitas respeitam-lhe a memória, e na data
da sua morte rezam-lhe missas por alma, guardando delicadamente uma gratidão
duradoura.
No mais, a hostilidade, os espinhos da frase papal.
Há nessa gente operários hábeis, médicos, doutores, homens
instruídos que discutem com clareza questões de política internacional,
jornalistas e até oradores.
A vida é dura, porém; jornalistas e doutores vendem
alfinetes e linhas em casas pouco claras da rua da Alfândega, do Senhor dos
Passos, do Núncio e dos subúrbios.
A totalidade ainda ignora o português!
João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura
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