A força e a extensão dos impérios
As fronteiras do Império do Mali arrastavam-se desde Kaoga
(Gao) em direção ao Atlântico e do Saara até a floresta tropical. De acordo com
Ibn Khaldun, o imperador do Mali reinava sobre todo o Saara: “... Mansa Mussa
era um soberano poderoso cuja autoridade estendia-se até o longínquo deserto
nas proximidades de Uargla."
De acordo com Al-Bakri, Ifrika (África do Norte) era
limitada por uma linha paralela ao Equador, passando por Sijilmessa, e possuía
a mesma tendência universalista de caráter cosmopolita que Gana. A cidade
capital, Mali, também possuía o seu bairro árabe, suas mesquitas e juristas,
seu cemitério muçulmano, etc. O imperador, Mansa Kankan Mussa, fizera uma
peregrinação comemorativa para Meca em 1324-1325. Ele intercambiou embaixadas
com o Marrocos e manteve laços comerciais e diplomáticos com o Egito, Portugal
e Bornu.
No Egito sabe-se da existência de interpretes africanos. Ibn
Khaldun mencionou, ao falar das fronteiras do Mali, o nome e El Hajj Yunos, um
intérprete tektur no Cairo.
Os africanos já estavam acostumados a viajar para o norte da
África, estabelecendo-se vez por outra para estudar. A atividade internacional
do Mali acabava consequentemente crescendo. Delafosse estava certo por
impressionar-se com o poderio desta nação.
Esse poder era tão grande que vez por outra sua ajuda
militar era solicitado pelos árabes. Tal foi o caso de El Mamer, citado por
Khaldun, que lutou contra as tribos árabo-berberes da região de Uargla ao norte
do Saara. Ele apelou para a ajuda militar de Kankan Mussa, em sua ultima visita
para Meca. Khaldun também falou a respeito do tamanho da embaixada marroquina
em Mali e do interesse do sultão do Marrocos pela mesma.
Contrariamente às noções que prevalecem nos dias de hoje, a
relação entre brancos e negros não era a de senhores e escravos. Um relato de
Ibn Battuta, que visitou o império do Mali, revela claramente o estado de espirito
e o poder dos africanos desse período (1352). As regiões fronteiriças como
Ualata, ao limite do Saara, eram governadas por farbas negros que cobravam
impostos alfandegários e outras taxas para as caravanas que traziam mercadorias
para o país. Ao chegarem, os mercadores tinham que proceder com as formalidades
administrativas, antes de obterem a permissão para levar suas mercadorias.
As minorias brancas que viveram nesse império, onde se
encontra atualmente o pais de Gana, já se tornavam numerosas, mas sempre sob as
leis do Mali. Em consequência da distancia de suas terras natais, os árabes
eram levados a adaptar-se em meio aos negros africanos. Alguns deles eram
tradicionalmente escolhidos para serem os bobos da corte dos soberanos negros.
Essa tradição estendeu-se até mesmo para as pequenas cortes
do Cayor, onde estiveram muito vivas. Isso explica a existência de nomes totêmicos
adotados pelos mouros dos príncipes africanos. Muito cidadão branco da
Mauritânia chama-se Fall e Diagne, porque o Damel (rei) de Cayor tinha a descendência
dos Fall, enquanto que os Diagnes eram tradicionalmente proprietários de
terras.
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