Os rituais iorubas adquirem diversas formas e estilos,
refletindo até certo ponto seu urbanismo. As pessoas vivem e permanecem em
povoados relativamente grandes e densos
que são heterogêneos. Através de performances em grande
número e rituais de vários tipos, é que os iorubas celebram sua vida urbana. O
poder das divindades varia em proporção direta com o poder de seus devotos, ou
seja, devido ao numero de fieis que sustentam seu culto, seu status social, e
de suas habilidades em mobilizar recursos. Mesmo antes da introdução do
catolicismo e do islamismo, há mais de um século, a religião na região ioruba
era pluralista.
De acordo com o pensamento ioruba, o domínio do outro mundo
(orun) coexiste com o mundo fenomenológico das pessoas, animais, plantas e
coisas (aye). O Orun compreende um panteão de incontáveis divindades (orisa),
os ancestrais (osi egun), além de espíritos que ajudam ou atrapalham. Esses
mundos (aye e orun) coexistem com grande proximidade, entre os quais os humanos
e os sobrenaturais viajam em ambas as direções. O ditado iorubano "O mundo
é um mercado, o outro mundo é o lar" (aye l´oja, orun n´ile) expressa a ideia
da viagem entre os mundos e a permanência da existência no ultimo em contraste
com o primeiro, onde as pessoas estão apenas de passagem. As encruzilhadas
(orita, ori ita), “o ponto de interseção," junção de três e algumas vezes
quatro estradas, é a representação física do nosso mundo com o sobrenatural.
Por isso a encruzilhada é o local escolhido para entregar as oferendas para que
sejam carregadas para o outro mundo, uma pratica que se manteve pelos
praticantes da religião ioruba em Cuba e em toda a América. Por motivos
semelhantes, a encruzilhada também se apresenta significativamente como o local
de transferência da alma do falecido para os domínios do outro mundo.
O ciclo de vida de um indivíduo constitui apenas um segmento
em uma viagem ontológica - um movimento continuo e sem fim do espírito humano
deste para o outro mundo e vice versa, para ser reencarnado nos corpos de
descendentes. Este outro mundo de realidades não reveladas é mediado por
peritos através de diversas atuações - adivinhações, cerimonias de máscaras,
transe de possessão. Os rituais em todas as suas várias permutações são estratégias
para invocar forças autônomas, trazendo-as para a existência para
experiencia-las, comanda-las, pô-las em ação diante de outras, e por fim
interagir com elas para ter-se a impressão de que afinal as coisas não são
sempre aquilo que aparentam ser.
Yoruba Ritual
Este livro de Margaret Drewal é um mergulho para dentro â da
liberdade do ritual ioruba, o poder de improvisação de seus intérpretes, e o
desejo de seus participantes em alternar as possibilidades de entretenimento.
Suas implicações são diretas na diáspora americana, devido à presença desses
artifícios, que constituíram a chave para a sua adaptação em novos ambientes,
base fundamental para aquilo que Stuart Hall chamou de â estética da diáspora.
A estrutura política dos iorubas foi historicamente baseada
em governos representativos abertos, nos quais faziam parte conflitos e
competições entre reis, descendentes. mas também entre chefes facções em
disputas com os sacros monarcas. As funções politicas dos rituais iorubas
excluem frequentemente certas categorias de pessoas, e incluem jogos de poder
entre seus participantes ou entre eles e outros grupos.
African Diaspora Program
De Paul University
Margaret Thompson Drewal
Margaret Thompson Drewal é uma teórica das artes
performáticas, historiadora de dança, e etnógrafa. Ela estudou os rituais
iorubas da África ocidental e afro-brasileiros. Além de danças populares
norte-americanas e entretenimentos da virada do século XIX, incluindo
espetáculos apresentados nas primeiras Exposições Internacionais. Drewal possui
especial interesse na poética e política do discurso performático. Ela também
teve experiência profissional como bailarina e coreógrafa.