Seguidores

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A cerimonia Iorubá do nome


A cerimonia do nome é muito importante entre os Iorubas. É uma pratica antiga que reúne vários ritos tais como: a escolha do nome, a acolhida da criança dentro da comunidade, a felicitação aos pais pela alegria e a bem-aventurança dessa ocasião, (a obtenção de uma graça divina), e previsões para o futuro do recém-nascido.
Antes de começar a cerimônia, a família deve escolher o nome apropriado para a criança. Esse nome será um “amu t´orun wa “(nome trazido do outro mundo, mu...)”“. wa (trazido) ti (do) orun (outro mundo), ou um abiso (nome dado ao nascer), nome que se refere às circunstâncias que envolveram o nascimento criança, normalmente a família, mas que também pode ter relação com os fenômenos naturais ocorridos durante o nascimento.
Apos a escolha do nome tanto pelos pais como pelos parentes mais velhos, ficara guardado em segredo para ser anunciado apenas no dia da cerimonia de tirar o nome chamado iko mojade (revelar- trazer à luz, ko... jade).
Para meninos, a cerimonia se realizará no nono dia apos o nascimento, para meninas no sétimo, para gêmeos de ambos os sexos no oitavo dia, e para crianças muçulmanas de qualquer sexo no oitavo. Caso a criança não seja batizada entre o sétimo e o nono dia apos o parto, acredita-se que ela não irá sobreviver ao progenitor do mesmo sexo.
Esse ritual começa de manhã cedo ou no começo da tarde. Esse evento pode acontecer tanto dentro como fora da casa dos pais.
De acordo com a tradição a cerimonia costuma ocorrer do lado de fora para que o pé descalço da criança seja tocado pelo solo. Para que seus primeiros passos sejam dados na direção correta.
Esse evento marca a primeira vez que a criança sai de casa. Também pode significar, a primeira vez que a mãe deixa a casa desde o parto. Os convidados podem variar desde os parentes próximos ate aqueles interessados em dar boas vindas à criança dentro da comunidade.
Cada pessoa trará um presente, (roupas, dinheiro, cobertores, etc.) para cada criança ou para os pais. Mas só mulheres podem presentear a mãe e homens ao pai. Caso a cerimonia aconteça dentro de casa, os convidados ao chegarem, deixarão seus presentes na porta de entrada.
Uma hora após a chegada dos convidados a Iya Ikoko (mãe do recém-nascido) aparece segurando sua criança e entrega o Ikoko Omon (recém-nascido) para os idosos escolhidos que irão oficiar o ritual. O papel dos mais velhos tem um significado importante. Para os iorubas o idosos são os mais próximos das crianças, pois o bebe acaba de chegar do lugar para onde os mais velhos estão para ir.
O ritual começa com um borrifo de água no teto da casa, um jarro inteiro, (as casas tradicionais tem tetos baixos), para que a criança seja para que a criança seja banhada pela água. Considera-se um bom agouro se a criança chorar quando for molhada, um sinal de que a criança quis dizer,
"só aquilo que vive pode produzir barulho espontâneo".
A água é o primeiro item do cerimonial a ser apresentado para a criança. O povo ioruba acredita que as primeiras coisas que a criança conhece são aquelas com que será acompanhada pelo resto da vida. Podendo, entretanto fazer bom ou mau uso delas durante a vida. A água por ser essencial a vida é apresentada em primeiro lugar. Seu uso durante o ritual reflete a importância da criança para sua família.
Após o borrifo com água, o mais velho sussurra o nome da criança no seu ouvido. Em seguida molha seu dedo com água e unge a testa anunciando o esperado nome a todos os presentes. Volta-se em seguida pra sete jarros com diferentes conteúdos primeiro tem pimenta vermelha, oferecida para a criança sentir. A pimenta simboliza a resolução e o comando sobre as forças da natureza. Distribui-se então a pimenta aos convidados.
Apos a pimenta, a criança experimenta água, significando pureza do corpo e da alma. (proteção contra doenças).
Dai vem o sal, que simboliza o sabor da sabedoria e inteligência com que a criança será provida.
O mel em seguida, para trazer alegrias e doçura na vida e não ser ignorada pela comunidade quando adulta.
Após o mel, o vinho significando riqueza e prosperidade.
E finalmente o obi, para trazer boa sorte.
O pai pode incluir outros itens nessa cerimonia, além desses sete.
A depender da divindade que protege a família. Se for Ogum, deus do ferro, o pai pode incluir uma faca ou espada durante o ritual.
Após o ultimo item, conclui-se a cerimonia, e as festividades iniciam. Uma refeição com comida cerimonial é oferecida aos convidados. E depois alegria e danças ate o dia seguinte.
Durante a festa, os músicos entoam canções para louvar a criança, seus pais, familiares e amigos. Essa tradição é a especialidade dos Ewi, poetas conhecidos pela riqueza de palavras e a arte de usar o idioma e os provérbios, pelo seu profundo conhecimento da língua ioruba. No final desse artigo tem um exemplo desses poemas.
Após a cerimônia, a criança terá ao menos três nomes que irão acompanhá-la durante a vida. O primeiro é o Orukó, nome próprio, que é tanto amu t´orun wa como abisso. O segundo é o oriki, nome para louvor, que expressa àquilo que se deseja para o porvir dessa criança. E o terceiro, o Orile, o nome de família ou de clã.
Os parágrafos seguintes dão uma ideia dos três tipos de nomes mencionados acima. É interessante observar como é que os significados dos nomes são criados e perceber como eles se ligam às praticas e tradições religiosas. Os nomes iorubas contam histórias, e conhecendo-as podemos compreender melhor suas origens.
A escolha de um nome depende de muitos fatores como as horas do dia, um dia especial, uma circunstancia relacionada com a criança, pais, familiares, ou toda a comunidade que aguarda o seu nascimento. O amu t´orun wa vale para todas as crianças em quaisquer circunstancias. Principalmente no nascimento de gêmeos (ibeji). O nome do primeiro será sempre Taiwo (To-aye-wo, o primeiro a experimentar o mundo). O segundo será kehende (aquele que chega depois).
A criança que nascer após os gêmeos será chamada Idowu, para ambos os sexos. Muitos deles são considerados teimosos e cabeçudos, mas se não nascerem, a mãe dos gêmeos pode ficar louca. Os Idowu, selvagens e cabeçudos, irão voar sobre a cabeça da mãe e deixá-la louca.
No segundo grau de importância para os nomes amu t´orun wa são as crianças chamadas de Oni Oni, hoje, aquelas que choram incessantemente, dia e noite. Em seguida vêm àqueles chamados de Ola (amanhã) e os próximos serão Otunla (depois de amanhã). Entre os povos Isin esses nomes são usados até o oitavo filho.
Outro amu t´orun wa: Ige, aquele cujos pés nasceram primeiro. Abiose (nascido em um dia santo), Dada (nascido com cabelo encaracolado), Abiodu (nascido no ano novo) Johojo (aquele cuja mãe morreu no parto).
Se a criança não nascer com amu t´orun wa (nome trazido do orun), a família decidira seu abiso (nome dado ao nascer). Há um proverbio que diz, ile l´a nwa k´a to so omo l ´oruko, olhamos para a família antes de darmos o nome à criança, e de fato os nomes abiso, refletem as circunstâncias e sentimentos da família.
Eles também podem se referir à divindade que a família cultua. Os nomes abiso também fazem referencias diretas ou indiretas à família da criança. Ayodele, a alegria que entrou para a família ; Omoteji, criança grande que vale por duas; ou então Iyapo, muitas tentativas; Ogundalenu, nossa casa devastada pela guerra; e nomes de orixás ( Sangobunmi , presente de Xangô); Fafmke (de Ifa para eu cuidar).
Ha uma categoria especial de nomes que vem de crianças Abiku (nascidos para morrer). Acredita-se que essas crianças pertencem a um grupo de demônios que vivem nas florestas nas árvores de iroko. Antes de nascerem elas já decidem quando retornarão. Esses demônios estão relacionados àquelas mulheres que perdem muitos filhos em idade infantil, especialmente após um curto período de doença.
São dados nomes especiais a essas crianças, na esperança que elas não retornem ou morram cedo. Essa superstição foi à forma encontrada para explicar o alto grau de mortalidade infantil. Os nomes abiku, variam em significado, mas sempre tentando persuadir os espíritos das crianças a não serem levados pelas forças ocultas. Exemplos: Malomo, não vá; Oku, a morte; Tiju Iku envergonhe-se de morrer; Duro-ori-ike, aguarde e verá como você será mimado.
O Oriki é um nome atribuído em louvor. Sua intenção é a um efeito estimulante na criança. Nomes masculinos sempre refletem algo heroico, forte e corajoso, enquanto os femininos se adoçam com palavras de carinho, afeição e louvor. Masculinos: Ajamu, aquele que agarra após a briga; Ajani, aquele que conquista após o conflito. Nomes femininos: Ayoka, aquela que causa alegrias por onde passa Apinke, acarinhada de mão em mão. Apenas os mais velhos podem chamar as crianças pelos seus nomes Oriki.
Finalmente, ha o nome Orile, que reflete a origem da família. São muito importantes para traçar a linhagem. Crianças de ambos os sexos geralmente usam o nome totêmico do pai, ou Orile. Esses nomes provem de objetos ou de animais que representam a linhagem familiar. Erin, elefante, nome ligado à linhagem de reis.

A cerimonia Ioruba do nome
Poema Ewi por Abiodun Adepoju

OLOMO LO LAIYE
EDUMARE WA FUN WA LOMO AMUSEYE
OMO TII TOJU ARA
TII TOJU ILE
TII TOJU BABA
FUN WA LOMO ATATA
TII MUNU IYA DUN.
OMO TITUN TO WAS SILE AIYE
OBI AORE ATOJULOMO
EMA JU ALEJO OMO TITUN
OROGBO LO NI KOO GBO SAIY
KOO GBO PELU DERA.
OMO OWO KII KU LOJU OWO
BEE NI OMO ESE KII KU LOJU ESE
OMO WA O NII KU
TIYIN NAA O NI DAGBEGBIN BI ISU
ODOODUN LA NROROGBO
ODOODUN LA NRAWUSA
ODOODUN LA NROMO OBI LORI ATE
LODUNLODUN NI LOLORUN O FOMO RERE
KE BGOBO EN TO NWOMO.
BIBI LA BIMO TUNTUN
EDUMARE JOMO TUNTUN O DAGBA
LOUN NAA O SI DOLOMO TUNTUN
KULUKULUKULU OMO WEERE
LODEDE GBOGBO WA.
ABOYUN MU KO BI TIBI TIRE
A KII GBEBI EWURE
AKII BGEBI AGUTAN
LOJO IKUNLE ABOYUN
KA FBOHUN IYA
KA GBOHUN OMO TITUN
WEREWERE LEWE NBO LARA IGI
GBEBE NII RO KOKO LAGBALA
A TABOYUN A TI KOKO
YIO ROYIN LORUN
GBEDEMUKE
GBEDEMUKE
OMIDAN TO NWOKO
KOLUW O FUNWON LOKO RERE
APON TIO LAYA
GBAIYA RERE KO WON LONA
AIYA ELESO
OGEDE KII GBODO DO YAGAN
JE KIWON O FOWO BOSUN
KIWONSI FI PAMO LARA
A TOMIDAN A TAPON
WA DAWON LOHUN LASIKO
AGBE NII GBERE PADE OLOKUN
ALUKO NI GBERE PACE OLUSA
KOLUWA O GBOMO RERE
PADE AWA
EYIN AWA EYIN
BINA BA KU A FEERU BOJU
BOGEDE BA KU A FOMO RE ROPO
OLOYE KU FOLOYE SILE LO
OJI TAA BA PAJU DE
OMO RERE NI KO JOGUN WA
ABO MI REE
EMA PE O GBABO MI
ABIODUN A JI KUGBA ORIN
ERUWA NILE ILE BABA MI
ERUWA DJOKO AGBE DUDU
ORI OKELE
AKUKO GAGARA KII KO L’ERUWA
AGBE NII DAJOWON
EMI ABIODUN ADEPOJE LUNFOHUN BI AGBA.

Ter uma criança é ter alegria na vida
Deus dê-nos uma criança de quem possamos nos orgulhar
Uma criança que cuide da família
Que tome conta da casa
Que cuide do seu pai
Dai-nos uma criança preciosa
Que faça a mãe feliz
O bebe acaba de chegar
Pais, amigos e conhecidos, vocês todos.
Abençoem o bebe
Que ele tenha uma vida longa
Uma vida no conforto
Que a criança não morra cedo nas mãos
Que a criança não morra cedo no colo
Nosso bebe não morrerá
O vosso não será enterrado como um carneiro
Orogbo renasce todos os anos
A planta Awusa renasce anualmente
Os obis aparecem todos os anos
Que Deus faça nascerem crianças boas todos os anos
Para todos aqueles que desejem crianças
Com efeito, uma nova criança nasceu.
Que Deus o abençoe com a velhice e que possa reproduzir
Muitas crianças estarão em seu lar, inteligentes desde a infância.
Possa a mãe ter um parto seguro
As cabras não precisam de parteira
Ovelhas não precisam de parteira
No dia em que a mãe der a luz
Ouviremos sua voz
Ouviremos a voz do recém-nascido
A folha madura cai facilmente
O coco no pátio esta sempre verde
Para a mãe e a criança que está para nascer
Será fácil, suave, suave.
Para as solteiras, que Deus traga bons maridos.
E para os solteiros, boas esposas.
Esposas férteis
Que não sejas estéril
Que consiga ter crianças
As solteiras e solteiros
Que seus pedidos sejam ouvidos
Boas novas para todos nos
Boas novas irão lograr
Deus vai nos presentear com filhos
Para nos, para você, para todos.
E quando morremos, haverá um sucessor.
A substituição é essencial
Um chefe morto traz um líder vivo
No dia em que morrermos
Que possamos ter um bom filho para herdar nossa fortuna
Aqui, fico eu, essa é minha pausa.
Eu, Abiodun, que desde jovem, canto duzentas canções.
Eruwa é minha terra natal, a cidade dos meus pais.
Eruwa Ojoko, com o papagaio preto, na colina de Okele.
Não é um galo que canta em Eruwa
É um papagaio que traz as novas da cidade
E é Abiodun Adepoju que fala como os mais velhos.

fonte:
http://www.uga.edu/~aflang/YORUBA/
PAPERS/TITILAYO.html