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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Personalidades da cultura Iorubá

Personalidades que participam de Congressos


A cada dois anos há uma oportunidade única para praticantes e pesquisadores da cultura e tradição iorubá de todo o mundo se encontrarem para trocar experiências: é o Congresso Internacional de Tradição e Cultura Iorubá. A nona edição do congresso está sendo realizada esta semana, de 1o a 6 de agosto, no campus da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
O Congresso pretende reunir cerca de duas mil pessoas de países das Américas, África e Europa. Entre as autoridades, há o rei (obá) Omowonuola Oyesosin, da cidade de Ejigbo, e o rei Okunade Sijuwade, da cidade de Ifê – cidade sagrada do povo iorubá –, ambas na Nigéria. Apesar de o país ser uma república federativa, esses reis têm poder de fato, mantendo cortes, fazendo leis e tendo seus próprios executivos.
A organização do Congresso, no Brasil, foi feita pelo Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-Americanos (Proafro), da UERJ, a convite do comitê nacional. O evento é realizado há 24 anos, sendo esta a terceira vez que ele se realiza no Brasil: a primeira foi em Salvador, em 1983, e a segunda em 1990, em São Paulo.
A primeira edição do congresso foi realizada em 1981, na Nigéria, pelo International Congress of Orisa Tradition and Culture, com sede naquele país. O movimento marca o renascimento da cultura iorubá e, entre seus expoentes, estão o prêmio Nobel de Literatura Wole Soyinka e o professor Wande Abimbola, da Universidade de Boston.

Religião de Orixá

Segundo o coordenador internacional do evento, professor Kola Abimbola, da Universidade de Leicester, um dos objetivos é justamente servir de "guarda-chuva" para a reunião de organizações e de praticantes da religião de orixás, como é chamado na Nigéria o culto a divindades como Olorum, Ifá e Exu, em suas diferentes denominações.
No Brasil, essa religião é conhecida por diversos nomes: candomblé (RJ e BA), batuque (RS) e xangô (PE), entre outros. Em todo o mundo, segundo o professor, a religião é praticada em 23 países por cerca de 100 milhões de pessoas.

Cinco traços comuns

Apesar da diversidade de denominações, todas essas religiões apresentam cinco traços em comum, de acordo com Kola.
O primeiro deles é o culto à natureza. Esse culto é marcado pela associação dos orixás com forças da natureza, com a deusa da Terra, Aye, bem como pela preocupação com a conservação dos recursos naturais.
A segunda característica é a existência de um deus supremo – Olorum – que existe apenas na forma espiritual, não sendo nem homem nem mulher na teologia iorubá.
O terceiro traço comum a todas as denominações é a divisão dos poderes entre os deuses. Segundo o professor Abimbola, essa divisão é muito complexa, mas o essencial é que existe uma hierarquia funcional, onde um dos deuses ou deusas é mais importante em determinada função. No que o professor chama de “administração política” do cosmo, Olorum é supremo; nas questões de punição, o maior é Exu; conhecimento e sabedoria são os domínios de Ifá; sendo a criação de seres vivos o espaço de Oxalá, também chamado Obatalá.
A quarta característica é o que Kola chama de princípio da elasticidade. Essa é a capacidade de incorporar novos deuses ao panteão, o que permite que a religião e a cultura se modifiquem ao longo do tempo, mas sem perder suas características fundamentais. Um exemplo disso é a incorporação de novas divindades. Pela tradição iorubá, quando este mundo foi criado, havia 400 entidades sobrenaturais do bem e 200 do mal. Hoje, na Nigéria, Kola estima que houve a incorporação de mais seis entidades e no Brasil mais 600 do bem.
Por fim, ainda de acordo com Kola, todos os praticantes dessas religiões devem ter iwa -bom caráter, que é a essência da religião. Esse bom caráter se caracteriza, entre outras coisas, por ter uma boa atitude em relação aos outros, falar a verdade e por respeitar os seres humanos, os animais e as plantas.
Da África para o Novo Mundo
O colapso do reino iorubá, em fins do século XVIII, fez que, nos últimos anos do comércio legal de 60% a 70% dos escravos negociados fossem iorubás. Esse foi um dos fatores que levaram à sobrevivência das tradições e da cultura fora da África, permitindo que o número de praticantes aumentasse ao invés de diminuir.
Outro fator que permitiu a sobrevivência dessas tradições fora da África, em especial na América do Sul e no Caribe, foi o tamanho das fazendas, que podiam reunir até mil indivíduos. Essas grandes concentrações de pessoas facilitavam a manutenção das tradições. Kola destaca ainda o fato de a religião de produzir efeitos na vida de seus praticantes.
Por fim, o professor nigeriano falou que o fato de ser uma religião de tradição oral também facilitou a sobrevivência da fé. Os conhecimentos eram passados de um para outro ao longo do tempo e só podiam ser destruídos pelo assassinato dos praticantes.

Livros de Ifá

Entre as peças repassadas oralmente estão os 256 “livros” de Ifá, o orixá da adivinhação e do destino. Os chamados “livros” são poemas com 600 ou 900 versos. Seu conteúdo é usado pelos pais-de-santo (babalorixás) e mães-de-santo (ialorixás) para prever a sorte.
O processo de consulta ao orixá consiste no lançamento de 16 búzios ou da opele-ifá, rosário composto de duas cordas, cada uma com oito elementos. Tanto as conchas quanto o rosário são jogados depois de se formular a pergunta ao orixá. Do jeito como os objetos caem eles formam uma combinação de sims e nãos que corresponde ao número de um dos livros de Ifá. A resposta ao consulente é uma interpretação desse texto em função da pergunta.
O professor Kola espera que, dentro de 20 anos, o projeto do professor Wande Abimbola, da Universidade Obafemi Awolowo, em Ilê-Ifê, na Nigéria, tenha conseguido reunir e escrever todos os livros de Ifá. O projeto foi iniciado no princípio da década de 1960.

fonte:
Congresso celebra tradição e cultura iorubá
Evento deve reunir cerca de duas mil pessoas na UERJ
Léo Silva
2/8/2005

Ifá, Oxum, Ogun, Oxalá, Olodumare. Quem não os conhece, pelo menos já ouviu falar.

Esses nomes foram entoados em prosa e verso nas cantigas de candomblé ouvidas nos corredores da UERJ, palco do IX Congresso Mundial de Tradição e Cultura Iorubá (Orisa World) na última semana.
Durante seis dias, os participantes de vários países, inclusive do Brasil, puderam ouvir e discutir sobre religião e cultura iorubá.
O evento contou com a presença de vários babalaôs nigerianos e brasileiros, ialorixás,
estudiosos, adeptos e simpatizantes do candomblé. A movimentação gerada pelo congresso fez com que a Universidade ganhasse outros tons e línguas.
O Prof. Dr. Kólá Abímbólá, coordenador internacional do Orisa World, ressaltou que a cultura iorubá tem a ideia de igualdade como um de seus aspectos mais profundos e básicos. “Nossa religião não discrimina indivíduos e grupos com base em etnia, posição social, gênero ou mesmo por princípios religiosos” enfatizou ele.
Paralelamente, o público teve contato com objetos, fetiches e roupas que compõem o cenário do candomblé. Para os que apreciam obras de arte, artesanato, literatura, gastronomia, músicas e danças, o evento abriu espaço para vários expositores.

Dr. Kólá Abímbólá
Orisa World - Coordenador Internacional

Existem cerca de 100 milhões de seguidores da cultura iorubá em todo o mundo (China, Japão, India, Austrália, Nova Zelândia, Europa, África, as Américas e o Caribe) e vivemos sem barreiras de cor, gênero nem religião.
Em nossos textos sagrados, não há passagens dizendo que, se você não seguir nossa fé, está condenado.
O princípio básico de nossa crença é que, independentemente de qualquer coisa, deve-se ter
um bom caráter, um comportamento ético.
Para a cultura iorubá, a própria Terra é uma divindade em forma física e, por isso,
é nosso dever sagrado tomar conta dela.
Em nossa história, não há registro de guerra entre os povos de cultura iorubá, com base em crença religiosa.
Levamos muito a sério a visão teológica de que o caráter é o fundamento da própria vida. Na atualidade, há muita discussão de conceitos de ética e moralidade.
Nesse contexto, a cultura iorubá se destaca e pode fazer uma grande diferença.

Prof.ª Claude Lépine, UNESP

Claude Lépine é uma antropóloga brasileira. É professora de Antropologia do departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP, campus de Marília. É doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo
Sua tese de Sociologia foi concluída em 1978 e debatia sobre a contribuição ao estudo do sistema de classificação dos tipos psicológicos no candomblé Ketu de Salvador.
Obras
Os Dois Reis do Danxome: Varíola e Monarquia na África Ocidental 1650-1800
Os Nossos Antepassados eram Deuses, artigo, apresentado anteriormente como palestra, que enfoca a questão sempre delicada da sociedade brasileira em relação ao negro.
"As pessoas devem preservar a memória de seus antepassados e a Sociedade, sua história."

Ogã Gilberto de Exu
Gilberto Ferreira de Exu - Orisa World
Vice-presidente para a América Latina

As outras religiões estão discutindo a bioética. E nós, o que pensamos?

Prof. José Flávio de Barros, UERJ

José Flávio Pessoa de Barros, doutor em antropologia e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Livros publicados/organizados ou edições
Ewé Òrìsà - Uso Litúrgico e Terapêutico dos Vegetais nas Casas de Candomblé Jêje-Nagô
Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2000
O Banquete do Rei - Olubajé. Uma introdução à música sacra afro-brasileira.. 2. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1999. v. 1. 183 p.
A Fogueira de Xangô - o Orixá do fogo. Uma introdução à musíca sacra afro-brasileira
ed. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1999
Relações Internacionais - Brasil: Cinco Séculos de Memória e História. 1. ed. Rio de Janeiro: INTERCON / NUSEG / UERJ, 1999
A Galinha d'Angola: Iniciação à Cultura Afro-Brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1998.
Terapêuticas e Culturas
ed. Rio de Janeiro: INTERCON / UERJ, 1998.
Memória, Representações e Relações Interculturais na América Latina
ed. Rio de Janeiro: NUSEG / INTERCON / UERJ, 1998
Raízes da Cultura Latino-Americana no Terceiro Milênio
ed. Rio de Janeiro: INTERCON / UERJ, 1997
Reflexões sobre José Martí. 1. ed. Rio de Janeiro: PROEALC / CCS / UERJ, 1994
PESSOA DE BARROS, J. F. . O Segredo das Folhas - Sistemade Classificação dos Vegetais no Candomblé Jêje-Nagô do Brasil
ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1983
A religião iorubá tem uma tensão permanente entre o indivíduo (concepções individuais) e o
coletivo (regras sociais seguidas pelo indivíduo).
Rita Vasconcelos, Secretaria de Saúde de Recife
A saúde nos terreiros surgiu antes da Academia
de Medicina.

Adeyela Adelekan - Orisa World Vice-presidente para a Europa

A religião africana não tem nada a dever às outras religiões.
Ayo Fadahunsi, Olabisi Onabánjò University, Nigéria
A arte (iorubá) representa a percepção da imortalidade do espírito. Eles (os africanos) reinventaram sua arte e a espalharam pelo mundo.

Babatunde Lawal
University of Virginia, USA

A importância em traduzir alguns textos e lendas
está em que se tenha uma literatura de referência
sobre Ifá (oráculo), de pessoas que estudem
profundamente a cultura iorubá e os orixás.
A relação fundamental entre religião e natureza:
Omi kosi, ewé kosi, òrìsà kosi
Sem água, sem folha, sem orixá
(ditado iorubá)

fonte: Brasil e África juntos na Universidade
Personalidades da cultura iorubá debatem mitos, sexualidade, saúde, educação e perspectivas para o futuro