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sábado, 22 de outubro de 2011

Ntotila Mvemba a Nzinga, rei do Congo (1506-1540)

Rei Afonso I do Congo

Quando os portugueses chegaram à capital em 1491, M'banza Kongo ou M'Banji-a-Ekongo, o manikongo (rei) da época, Muene-Muzinga-a-Cuum, pediu para ser batizado e recebeu o nome do rei de Portugal, D. João.
D. João I, no entanto, logo abandonaria o cristianismo, pressionado por certa facção da nobreza apegada às tradições bakongo e receosa de perder suas posições com a "nova ordem cristã" que se avizinhava.
Segundo a famosa crônica de Garcia de Resende, do século XV, o rei português ofertava sua amizade e convidava o rei congolês à fé cristã, recomendando-lhe que deixasse os "ídolos e feitiçarias" que adoravam em seu Reino.
D.João I, não obstante convertido, logo abandonaria o cristianismo, pressionado por setores da nobreza que não aceitavam a nova religião.
Para eles, o catolicismo não se mostrou eficaz contra os infortúnios que então assolavam o reino.
Além disso, o rei e os nobres resistiam a aceitar a monogamia imposta pelos padres, um dos temas mais polêmicos na aceitação da nova religião, uma vez que a extensão da rede de solidariedades tecida pelos casamentos era peça fundamental nas relações de poder tradicionais.
Com a morte de João I e a deflagração da luta sucessória, subiu ao trono outro filho seu que não seguia os preceitos do cristianismo, apoiado pelos nobres defensores das tradições congolesas.
Ainda durante o reinado de seu pai, D. Afonso entrou em conflito com seu irmão, governador de Panga, que rejeitara a fé católica e tinha muitos seguidores. A luta ganhou intensidade com a sucessão no poder.
Afonso I conquistou o trono depois de lutas com seu irmão e reinou por trinta e sete anos, de 1506 a 1543.
Na sua capital a cidade de Mbaza Congo, ao norte de Angola, o rei recebeu os estrangeiros como amigos e deixou-se converter ao cristianismo, tomando o nome de Afonso I, estabelecendo em seu reinado as bases do cristianismo no Congo.
Era profundamente dedicado ao catolicismo, impressionando os missionários com o seu saber e com a sua dedicação aos estudos.
Tinha o desejo de desenvolver de modo pacífico a sua terra, à custa de um enxerto da cultura do pequeno reino ibérico e correspondendo-se amiúde com o monarca D. Manuel I de Portugal, a quem tratava por meu irmão.
D. Manuel alude a Afonso I do Congo, como “um rei a quem temos mui grande amor e que estimamos por sua virtude, como ele merece”.
Mais tarde, por volta de 1507, o seu segundo filho, M'benza-a-Nzinga, quando se tornou manikongo Afonso, tentou transformar completamente o Kongo num reino cristão, pelo que construiu igrejas, mudou o nome da capital de para S. Salvador e procurou, a todo o custo, “europeizar” o seu povo.
A história da deterioração das relações entre o rei do Kongo e os portugueses, considerada uma tragédia, é um conjunto de erros e de posições estremadas de parte a parte.
Por um lado o manikongo confundiu o cristianismo com o poder, tomando decisões politicamente menos acertadas, por outro, a ambição da alcateia de negreiros de São Tomé combinados com traficantes instalados na costa e a intermediação de alguns missionários, incrementavam de forma crescente o comércio de escravos.
O seu sucessor governou um reino tão enfraquecido que os jaga conseguiram derrotá-lo deixando o Kongo em escombros, no meio dos quais os sucessores de Afonso presidiam ao arremedo de uma corte europeia.
São Salvador de Congo entrou em ruína e a população começou a abandonar a capital.
Como sempre acontece, é o povo quem mais se ressente com as consequências do declínio e anseia por dias melhores, pelos tempos de Afonso, filho de João.
Muitos estão convencidos que um renascimento da fé cristã faria voltar os dias felizes do tempo da chegada dos primeiros portugueses, resultando daí um rápido alastrar de certo fanatismo religioso, com o aparecimento de profetizas e profetas que anunciam visões e revelações, misturando religião, crenças e política.
Uma mulher tinha visto a Virgem Maria, que lhe comunicara a sua irritação pelo que vinha acontecendo no Kongo, um jovem proclamava que Deus puniria o povo se a cidade de S. Salvador não fosse reconstruída rapidamente.
Em 1556, as forças de Diogo filho de Afonso, o manikongo, foram derrotadas tendo este perdido a vida durante os combates.