Aos oitenta anos (na foto), o sultão Njoya já estava no trono por mais de cinquenta anos.
Aos vinte e nove, herdou o famoso trono Bamum, fundado no século XVI. Foi escolhido pelo conselho real dos sábios, entre os cento e setenta e sete filhos de seu pai, o famoso sultão Njoya.
Seu pai, um soberano iluminado, levou doze anos para inventar seu próprio alfabeto, feito de oitenta símbolos. Ele queria escrever a historia do reino, na língua Bamun. Nesse tempo dominava a tradição oral.
O sultão Njoya é conhecido por ter dito aos seus súditos: “E lhes darei um livro que fala sem nenhum som". Ele também criou escolas para ensinar sua língua.
Njoya revolucionou a agricultura introduzindo plantas europeias, desconhecidas na África. Ele instituiu o registro civil através do sistema de certificados de nascimento e morte, construiu uma usina a vapor, e fundou uma religião, a "Novat Kovot".
Em 1913, enquanto o Camerun ainda era uma colônia germânica, o sultão Njoya, equipou sua própria gráfica.
Bamun
Nas planícies do Camerun vivem os Bamun e sua capital é Fumban. São um ramo da tribo Tikar e falam uma língua de raiz banto, com muitas adições de outras línguas.
A maior parte das palavras é monossilábica e a língua é tonal, portanto o significado das palavras se altera de acordo com o tom.
Até finais do século XIX a língua Bamun não teve o próprio sistema de escrita nem mesmo estrangeiro.
Na década de 1870 os Bamun eram governados pelo Sultão Nsangu, que foi sucedido por seu filho Njoya, ao morrer em uma batalha.
Inspirado por um sonho, o rei Njoya do Camerun pediu a seu povo que desenhasse objetos diferentes e lhes desse nomes.
Com isto inventou uma escrita picto-ideográfica, usando um símbolo para cada palavra. Dai em diante, esta escrita progrediu até converter-se num sistema de escrita fonética.
Njoya usou o método hieroglífico, tipo rebus, que consiste em usar o desenho de uma palavra no lugar de outra que soe igual. Isso o levou ao uso de símbolos para representar os sons assim como para o significado do mesmo desenho.
Historia
Tanto os Bamun como os demais grupos étnicos súditos do rei de Bamun procedem do norte, de onde foram expulsos pelos comerciantes Fulani, e se estabeleceram no atual território durante o século XVII.
No ano 1394 Nchare Yen fundou a dinastia que permanece até nossos dias, e que trouxe a reforma da constituição.
Parte do poder do reino de Bamum voltou a ser restaurado em 1990.
A partir de 1916, data em que os franceses assumiram o controle da colônia alemã de Bamun é reprimida toda manifestação de sua soberania.
Somente a partir de 1990, quando a reforma constitucional do Camerún reconheceu parte da autonomia organizativa dos diferentes povos que compunham o estado, Bamun recuperou parte de sua independência administrativa quanto a administração da justiça referente à terra, família, educação,... voltando a celebrar as suas festas e cerimonias proibidas desde os anos 20.
Crenças
Os Bamun tem um profundo respeito pelos antepassados. Acreditam que os espíritos ancestrais conservam-se em seus crâneos, por isso são guardados na casa dos filhos mais velhos de cada linhagem e passados de pai para filho.
Quando uma família decide mudar de casa procura purificar o local onde os crâneos serão colocados na nova morada.
Mesmo que nem todos os crâneos estejam em posse de uma família, são cultuadas as lembranças de todos os antepassados.
Os espíritos dos antepassados cujos crâneos não se conservam podem causar problemas à família.
Para compensar essa situação, um membro familiar deve passar uma cerimonia de libação.
A terra com o sangue é retirada do local dessa oferenda e torna-se a representação do crâneo do defunto. Este respeito vale tanto para crâneos de homens como de mulheres.
Palácio Real
A principal obra arquitetônica do rei Njoya foi o palácio real construído em 1917 após a conclusão de outras obras importantes como a residência de Mantum e a mesquita de Foumbam.
Logo na entrada está de bronze de Njoya e bem próximo está o grande Tam-tam (tambor cerimonial) feito com um tronco de baobá, cujo som pode ser ouvido a uma distancia de 60 quilômetros, utilizado apenas nas grandes celebrações.
O conjunto do palácio compreende vários edifícios, onde ficam os prédios administrativos, onde se decidem as questões de terra e problemas de família, e a escola onde se ensina a escrita "shu mom" para as crianças e para os filhos da realeza, os Kon.
Além de o palácio ser a residência do rei é também um museu, criado por seu pai.
Junto ao palácio está a escola de artesanato, onde os produtos saídos da criatividade Bamun , cuja tradição data do inicio do século, continuam a ser comercializados.
Rei fotografado por Daniel Lainé entre 1988 e 1991