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sábado, 1 de outubro de 2011

Mãe Mirinha do Portão

Altanira Maria Conceição Souza, Mãe Mirinha do Portão (Mameto Mirinha) nasceu em 21 de dezembro de 1924 e faleceu em 18 de fevereiro de 1989.
Altanira Maria Conceição Souza, nasceu na Fazenda Portão, hoje município de Lauro de Freitas-Bahia, filha de Sr. Nestor e D. Maria Lena, cresceu como toda criança carente da periferia e com oito anos de idade foi morar com sua madrinha na cidade de Salvador com o objetivo de ajudar nas tarefas domésticas.
Não demorou em que os chamados viessem para que a menina Mirinha fosse para a Religião do candomblé.
Era pulando as janelas furtivamente que Mirinha assistia a algumas festas de Candomblé sem perceber que teria um futuro brilhante na Religião.
Desta forma com a ajuda de sua irmã de sangue Claudina (apelidada de Coló) que mesmo sem ser iniciada na religião tinha uma imensa fé no seu Inkice Dandalunda e mantinha alguns rituais em devoção a ela.
Esta irmã levou Mirinha à casa do então jovem Pai de Santo João Alves Torres Filho, que viria a ser mais tarde o lendário Joãozinho da Goméia, cujo nome Goméia foi incorporado ao seu nome devido ao grande interesse popular em saber sobre o Pai de Santo e seus conhecimentos da Religião.
Mirinha é iniciada aos sete anos de idade, para o Inkice Mutalombô e tem como segundo Inkice Bamburucema, juntamente com mais 18 oito muzenzas. Na época foi de grande ousadia o feito de tirar, como se fala na linguagem do Candomblé, um barco de 19 muzenzas, mas Joãozinho da Goméia era assim (desafiador e polêmico), logo, desta forma nasceu para o Candomblé Congo/Angola da Bahia e do Brasil a Monankisi "Sessa Dya Umbula", sendo chamada pelos seus irmãos de santo por Sessetu, o nome de seu erê, sendo filha pequena de Kilondirá chamada carinhosamente por Mirinha de Mãe Kiló.
Seguindo seu caminho dentro da Religião, Mirinha retorna para Portão e no dia 25 de dezembro de 1952 ela tira seu primeiro barco, composto por dois muzenzas: Antônio José da Conceição do Inkice Kavungo e Maria Augusta do Nkisi Nkosi Mukumbi nascia aí o Terreiro São Jorge Filho da Goméia e, tal como aconteceu com o seu Pai de Santo, o nome da localidade de Portão seria incorporado para sempre ao seu, agora chamada de Mirinha do Portão.
No transcorrer de sua vida, Mirinha casou-se com Jarson da Costa Souza, funcionário da Prefeitura de Salvador, mais conhecido como Garrincha, que muito contribuiu para a elevação do nome de Mirinha de Portão nacional e internacionalmente.
A Ialorixá colocava suas habilidades de enfermeira à serviço da população notadamente carente e aproveitava o prestígio que desfrutava entre os políticos para intermediar pedidos de emprego e melhorias em geral.
Muito trabalho social foi desenvolvido por Mirinha de Portão na localidade onde o Candomblé está implantado, tais como: Transportes Públicos, Hospitais, Postos de Saúde, Campanhas de Alimentação (distribuição de cestas básicas feitas por ela com a ajuda de alguns empresários), entre outras ações.
Participou das filmagens cinematográficas da obra de seu dileto amigo Jorge Amado: Pastores da Noite e Tenda dos Milagres, dando visibilidade a comunidade do Portão.
Sua gratidão ao Inkice Dandalunda era comovente as festas de Mutalombô aconteciam num sábado e no domingo acontecia o Presente de Dandalunda na Lagoa do Abaeté encerrando a festa.
A primeira mãe pequena da Casa foi Nitinha de Oxum, hoje Ebômi do Ilê Axé Iya Nasso Oka - Terreiro da Casa Branca, em seguida Maria das Graças Neves neta e herdeira do Terreiro São Jorge Filho da Goméia iniciada para Dandalunda em 03 de julho de 1977, ocupou o posto de mãe pequena até a morte de Mirinha.
No dia 18 de fevereiro de 1989 o mundo amanheceu mais triste, faleceu Mirinha do Portão, após quatro anos de luta contra um linfoma.
A perda de Mirinha do Portão deixou um enorme vazio na vida de todos que a conheceram, conviveram com ela e até mesmo na vida da Comunidade de Portão que certamente perdeu uma voz autêntica que dedicou sua vida a luta pela igualdade social e racial.
Mas, pessoas como Mirinha do Portão são generosas em demasia para deixarem esta vida sem deixar os frutos daquilo que semeou a vida inteira.

Terreiro São Jorge Filhos da Goméia

O Terreiro São Jorge Filho da Goméia, depois da ausência de Mirinha do Portão, por impossibilidade pessoal da herdeira Maria das Graças Neves (Gracinha de Dandalunda) retornou as suas atividades dirigido provisoriamente por sua sobrinha e filha de santo do Inkice Kavungo Valdete dos Santos, iniciada em 18 de fevereiro de 1971.
Com o afastamento de Valdete dos Santos e, novamente, por motivos pessoais da herdeira Maria das Graças Neves (Gracinha de Dandalunda), está sendo dirigido pela irmã carnal de Gracinha, outra neta de Mãe Mirinha chamada Maria Lúcia Santana Neves, iniciada para o Inkice Bamburucema em 27 de dezembro de 1986, tomando a Dijina de Kamurici.
A Prefeitura de Lauro de Freitas prestou uma homenagem a Mirinha de Portão dando o seu nome a um Terminal Turístico que existe às margens do Rio Joanes, o mesmo rio onde Mirinha viveu as traquinagens de infância e onde as águas de Dandalunda lhe serviram de companhia durante toda a vida.
No dia 15 de abril de 2004 o Terreiro São Jorge Filhos da Goméia foi tombado como Patrimônio Cultural do estado da Bahia, através do IPAC - Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do estado da Bahia, fruto do árduo trabalho de Mirinha desenvolvido durante anos.
Mãe Mirinha, foi a fundadora do Terreiro São Jorge Filho da Goméia - Terreiro do Portão - localizado em Lauro de Freitas, Bahia.
Não podemos esquecer as manifestações do Candomblé, quando falamos em fé e devoção, que ocorre no município, onde tantos escravos negros africanos e seus descendentes derramaram muito sangue e suor.
Vários Terreiros fazem oferendas a Iemanjá e Oxum. Como nos rituais tradicionais, há a oferenda de balaios com flores, perfumes, etc. Os presentes são colocados pelos fiéis tanto em água doce (Abaeté e Joanes), quanto também ao longo da orla marítima da cidade.

Terreiro São Jorge Filho da Goméia

Localizado na Rua Queira Deus, 78 em Portão, o Terreiro São Jorge, Filho da Goméia, é uma das mais antigas casas de culto afro-brasileiro do município, assim como, uma das poucas remanescentes da nação angola, existentes no Brasil.
Foi fundado há 56 anos, pela Mameto (Ialorixá) que tinha como nome de batismo, Altamira Maria da Conceição Souza, mas que toda a comunidade conhecia por Mãe Mirinha de Portão e cuja fama não só como Mãe de Santo, mas também como pessoa atuante no, até pouco tempo atrás, distante distrito, ultrapassou fronteira, obtendo renome internacional, através de diversas reportagens em jornais, revistas e outras publicações de grande circulação ou sendo citada por diversos autores, dentre os quais Jorge Amado, de cujo livro "Bahia de Todos os Santos" reproduzimos o texto abaixo:
"Mirinha do Portão, filha de santo de João da Goméia, há muito com terreiro próprio, onde cultua orixás e caboclos, na localidade de Portão, situa-se hoje entre as mais comentadas mães-de-santo no complexo mapa das religiões de origem africana sincretizadas em terras da Bahia com o catolicismo e as tradições indígenas.
Candomblé de caboclo, o de Mirinha está entre os mais famosos e a ialorixá entre aquelas que rapidamente se afirmaram como capaz e correta no exercício de seu sacerdócio, ganhando de logo popularidade e conceito.
Da Goméia, ela trouxe para seu terreiro, em Portão, o caboclo Pedra Preta, aquele que comandava o brilhante e perturbado destino de Joãozinho.
Mirinha, tão carregada de responsabilidades, é pessoa das mais amáveis e simpáticas que eu conheço. Sendo uma rainha da Bahia, é modesta e simples. Mas sabe comandar. Quem não tem o dom do comando não pode ser mãe-de-santo.
Ao lado de Mirinha, seu braço direito, encontra-se o marido, de apelido Garrincha, habilidoso artesão de objetos do culto e de figuras de orixás. Seus Exus são curiosíssimos.
Mirinha reina mais além do aeroporto, sobre as praias maravilhosas e as civilizadas margens do Rio Joanes. Quem quiser vê-la e consultá-la é só perguntar como se vai a Portão. Não é longe. Lá chegando, todos sabem onde fica o candomblé de Mãe Mirinha. Ela receberá o visitante com o sorriso e uma palavra de amizade".

Existem alguns Terreiros remanescentes do Terreiro São Jorge Filho da Goméia, como:

Onzo Nguso Za Nkisi Dandalunda Ye Tempo
Terreiro Mokambo localizado na Rua C, Quadra 8, Lote 4 - Loteamento Vila Dois de Julho
Trobogy - Salvador-Bahia, que é dirigido por Anselmo Santos - Tata Dya Nkisi, filho de Mãe Mirinha.
Onzo Tata Kavungo - Terreiro São Lázaro localizado na Rua Queira Deus n 66 - Portão
Lauro de Freitas-Bahia, que é dirigido por Valdete dos Santos - Mametu Dya Nkisi, filha de santo e sobrinha de Mãe Mirinha.