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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Africanos no Brasil - Negros da Costa

Em 1538, chegavam ao Brasil os primeiros escravos africanos trazidos pelos navios portugueses.
Foi a primeira leva de que se tem notícia comprovada, em um período de quase quatro séculos de importação de escravos.
Apesar de serem denominados uniformemente de negros, os escravos pertenciam a diferentes grupos étnicos, provenientes de diferentes regiões africanas.
Genericamente, foram classificados em dois grupos principais: os bantos, compreendendo os do Congo, Angola e Moçambique; e os sudaneses, englobando os iorubas, jejes e hauçás.
O tráfico em direção a Salvador, antiga capital do Brasil, pode ser dividido em quatro períodos:
1. O ciclo da Guiné — segunda metade do século XVI
2. O ciclo de Angola e do Congo — século XVII
3. O ciclo da Costa da Mina — três primeiros quartos
do século XVIII
4. O ciclo da baía de Benim — entre 1770 e 1850, es-
tando incluído aí o período do tráfico clandestino.
Neste último ciclo observamos a importação em massa de iorubas para Salvador, que, mesmo não sendo a capital do Brasil desde 1763, continuava, juntamente com a nova capital, Rio de Janeiro, a ser um dos principais portos de entrada de escravos.
A vinda maciça e recente do povo nagô-ioruba seria, portanto, a causa de sua forte influência na vida baiana.
A presença considerável de prisioneiros de guerra provenientes de classe social elevada e de sacerdotes comprometidos com a preservação do valor de suas tradições e imbuídos dos preceitos religiosos seria fator que impulsionaria a resistência cultural.
É importante ressaltar a coincidência entre as datas da emigração em massa dos iorubas para o Brasil, a partir de 1830, e a da queda da cidade de Oyó, capital do país ioruba, vencida e arrasada pelo Daomé em 1835.
Os negros iorubas encontraram em Salvador seus "inimigos" jejes (do Reino de Daomé) e mesmo os muçulmanos (males), e um grande número de congo-angolenses, já descendentes daqueles que aportaram no Brasil durante os períodos anteriores.
Com exceção dos males, cuja cultura possuía linguagem escrita, e que pregavam os ensinamentos do Alcorão, expulsos por liderarem rebeliões, a grande maioria dos escravos tinha pouca instrução e já estava assimilando a cultura católica do dominador.
Estes "negros da Costa", que eram desembarcados na cidade do Salvador, pertenciam a muitas tribos ou "nações" importantes, algumas de adiantado grau de cultura, como os minas, jejês, axantis, fulas, mandingos, hauçás (maometanos), e os iorubas, também chamados nagôs.
Do oeste africano, de família linguística sudanesa, os principais representantes no Brasil foram:
Os povos do grupo ewe-fon provenientes da região onde atualmente se localizam os países Gana, Togo e Benim, apelidados pelo tráfico de minas ou jejes.
E os iorubas da Nigéria e do Reino de Queto (Ketu) da atual República do Benim, onde são chamados nagôs.
Ketu, Egba, Egbado e Sabé são alguns dos segmentos nagôs que vieram para a Bahia provenientes da grande área ioruba que compreende sul e centro da atual República de Benim, antigo Daomé; parte da República do Togo: e o sudoeste da Nigéria.
Para entender o predomínio da etnia ioruba-nagô na Bahia é necessário recordar que, nas últimas décadas do tráfico negreiro, um enorme contingente de escravos dessa região foi trazido para Salvador.
No final do século XVII e início do século XVIII, chegaram grandes levas de negros do Império do Daomé e do reino de Ardra, vinculados ao império Oyó.
Nesse período, os núcleos familiares não foram tão desmembrados quanto no início da escravatura, permitindo a conservação da cultura e dos costumes.

Línguas Africanas no Brasil

A presença de línguas africanas no Brasil está diretamente associada ao tráfico de escravos que, por mais de três séculos sucessivos, de 1502 a 1860, introduziu no país por volta de 3.600.000 africanos, de origens diversas:
Sudaneses da região situada ao Norte do Equador (ciclo da Guiné, século XVI).
Bantos ao Sul do Equador (ciclo do Congo e de Angola, século XVII).
Sudaneses da Costa Ocidental (ciclo da Costa da Mina e ciclo da baía do Benim, início do século XVIII).
No século XIX, chegam escravos de todas as regiões, predominando os originários de Angola e Moçambique.
Não se pode precisar o número das línguas que aqui chegaram, mas sabe-se que na área atingida pelo tráfico são faladas por volta de 200 a 300 línguas, uma pequena parcela do conjunto linguístico africano que conta com mais de 2.000 línguas.
No século XX não se localiza nenhum registro sobre línguas africanas plenas no Brasil, visto que desde o final do século anterior elas passam a manifestar-se como línguas especiais, utilizadas como códigos por grupos específicos, seja como língua ritual nos cultos afro-brasileiros, seja como língua secreta marca de identidade de descendentes de escravos, em comunidades negras, os Quilombos.
As línguas africanas, marcadas pela ruptura causada, pela escravidão nas Américas, encontraram-se, no Brasil, com outros contatos linguísticos com o português, as línguas indígenas e outras línguas africanas, ocorreram de forma diferenciada, nas diferentes épocas e nos diferentes ambientes (urbano e rural).
Dominava-se nagô ou anago a um povo do reino de Queto, na África Ocidental, numa região atualmente localizada em Benim, de onde vieram numerosos africanos escravos para o Brasil.
A língua usada nos cultos afro-brasileiros considerados nagô não corresponde, a uma língua africana conservada na sua pureza, uma vez que as comunidades afro-brasileiras foram constituídas por povos de etnias, línguas e dialetos diversos como jeje, ijexa, muçurumim (malê), dentre outros.
Vale lembrar que outras línguas são usadas nas religiões Mina e Congo-angolanas no Brasil e elas são referentes às línguas dos povos que predominaram nas localidades onde hoje essas religiões são praticadas, especialmente em São Luis do Maranhão e Rio de Janeiro.
Essas outras línguas de uso religioso passaram por processo de transformação semelhantes e não são puras línguas africanas.
Ao longo do tempo estas línguas transformaram-se. Enquanto os descendentes dos africanos que vivem no Brasil usam estas línguas, os povos africanos, sob a influência de seus vizinhos e dos colonizadores europeus, tiveram as línguas locais mudadas sobre outras circunstâncias.