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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Ritual Caboclo

O fenômeno sócio cultural Candomblé de Caboclo aparece como foi realmente estruturado no século XX, quando Querino (1938: 125-127) assim situou o Candomblé de Caboclo:

Os nossos indígenas, na simplicidade da sua existência errante, admitiam grande número de superstições, que eram seus feitiços: uma aranha dissecada, fragmentos de sapo, produtos minerais trazidos ao pescoço, como amuletos, ou pendurados à entrada da taba, para desfazer ou destruir a surpresa do inimigo.

A catequese dos missionários proporcionou-lhes orientação diferente, baseada no Catolicismo. De fato, o silvícola aceitou com agrado manifesto a nova doutrina, principalmente pelo efeito ou redução da música.
Da convivência íntima com o africano nas aldeias, ou nos engenhos, originou-se, por assim dizer, a celebração de um novo rito intermediário, incutindo-lhes no espírito ideias novas. Da fusão dos elementos supersticiosos do europeu, do africano e do silvícola originou-se o feiticismo conhecido pelo nome de Candomblé de Caboclo, bastante arraigado entre as classes inferiores desta capital. (Salvador)
É crença entre os sacerdotes e praticantes da seita, que são dirigidos por três entidades:
Jesus Cristo, São João Evangelista e São João Batista, tendo Jesus Cristo o nome particular de Caboclo Bom.
Adoram com grande respeito o símbolo da cruz; ao mesmo tempo acreditam nas revelações dos ciganos quanto ao presente e ao futuro. A iniciação dos postulantes para a seita é efetuada numa choupana, na mata virgem, por espaço de trinta dias. Os Encantados chegam à cabeça das mulheres, conforme o rito africano, notando-se que o preparo das ervas difere na quantidade e na qualidade, pois são empregadas, apenas, duas e entre estas se distingue o arbusto silvestre denominado jurema. O caboclo tem quizila como o africano, mas os castigos divergem para pior. Quem está com o santo corteja as pessoas presentes segurando-lhes as mãos, dá dois saltos perpendiculares, abraça-as de um lado e de outro, faz-lhes algumas determinações, dá-lhes conselhos e retira-se.
por Raul Giovanni da Motta Lody

Publicado em 1977, Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Fundação Nacional de Arte, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (Rio, RJ).
Raul Geovanni da Motta Lody (Rio de Janeiro, 1952), é um antropólogo, museólogo e professor brasileiro, responsável por vários estudos na área das religiões afro-brasileiras, sobretudo na Bahia.
Suas principais pesquisas antropológicas e etnológicas resultaram na publicação do Dicionário de Arte Sacra e Técnicas Afro-Brasileiras.