Os nossos indígenas, na simplicidade da sua existência
errante, admitiam grande número de superstições, que eram seus feitiços: uma
aranha dissecada, fragmentos de sapo, produtos minerais trazidos ao pescoço,
como amuletos, ou pendurados à entrada da taba, para desfazer ou destruir a
surpresa do inimigo.
A catequese dos missionários proporcionou-lhes orientação diferente, baseada no Catolicismo. De fato, o silvícola
aceitou com agrado manifesto a nova doutrina, principalmente pelo efeito ou
redução da música.
Da convivência íntima com o africano nas aldeias, ou nos
engenhos, originou-se, por assim dizer, a celebração de um novo rito
intermediário, incutindo-lhes no espírito ideias novas. Da fusão dos elementos
supersticiosos do europeu, do africano e do silvícola originou-se o feiticismo
conhecido pelo nome de Candomblé de Caboclo, bastante arraigado entre as
classes inferiores desta capital. (Salvador)
É crença entre os sacerdotes e praticantes da seita, que são
dirigidos por três entidades:
Jesus Cristo, São João Evangelista e São João Batista, tendo
Jesus Cristo o nome particular de Caboclo Bom.
Adoram com grande respeito o símbolo da cruz; ao mesmo tempo
acreditam nas revelações dos ciganos quanto ao presente e ao futuro. A
iniciação dos postulantes para a seita é efetuada numa choupana, na mata
virgem, por espaço de trinta dias. Os Encantados chegam à cabeça das mulheres,
conforme o rito africano, notando-se que o preparo das ervas difere na
quantidade e na qualidade, pois são empregadas, apenas, duas e entre estas se
distingue o arbusto silvestre denominado jurema. O caboclo tem quizila como o
africano, mas os castigos divergem para pior. Quem está com o santo corteja as
pessoas presentes segurando-lhes as mãos, dá dois saltos perpendiculares,
abraça-as de um lado e de outro, faz-lhes algumas determinações, dá-lhes
conselhos e retira-se.
por Raul Giovanni da Motta Lody
Publicado em 1977, Ministério da Educação e Cultura,
Departamento de Assuntos Culturais, Fundação Nacional de Arte, Campanha de
Defesa do Folclore Brasileiro (Rio, RJ).
Raul Geovanni da Motta Lody (Rio de Janeiro, 1952), é um
antropólogo, museólogo e professor brasileiro, responsável por vários estudos
na área das religiões afro-brasileiras, sobretudo na Bahia.
Suas principais pesquisas antropológicas e etnológicas
resultaram na publicação do Dicionário de Arte Sacra e Técnicas Afro-Brasileiras.