Seguidores

segunda-feira, 14 de maio de 2012

As casas dos minas

As Religiões no Rio - João do Rio
No mundo dos feitiços - Os feiticeiros

Saímos, e logo na rua encontramos o Xico Mina.
Este veste, como qualquer de nós, ternos claros e usa suíças cortadas rentes.
Já o conhecia de o ver nos cafés concorridos, conversando com alguns deputados. Quando nos viu, passou rápido.
- Está com medo de perguntas. Chico gosta de fingir.
Entretanto, no trajeto que fizemos do Largo da Carioca à praça da Aclamação, encontramos, a fora um esverdeado discípulo de Alikali, Omancheo, como eles dizem, duas mães-de-santo, um velho babalaô e dois babaloxás.
Nós íamos à casa do velho matemático Oloô-Teté.
As casas dos minas conservam a sua aparência de outrora, mas estão cheias de negros baianos e de mulatos.
São quase sempre rótulas lobregas, onde vivem com o personagem principal cinco, seis e mais pessoas. Nas salas, móveis quebrados e sujos, esteirinhas, bancos; por cima das mesas, terrinas, pucarinhos de água, chapéus de palha, ervas, pastas de oleado onde se guarda o opelé; nas paredes, atabaques, vestuários esquisitos, vidros; e no quintal, quase sempre jabotis, galinhas pretas, galos e cabritos.
Há na atmosfera um cheiro carregado de azeite-de-dendê, pimenta-da-costa e catinga.
Os pretos falam da falta de trabalho, fumando grossos cigarros de palha.
Não fosse a credulidade, a vida ser-lhes-ia difícil, porque em cada um dos seus gestos revela-se uma lombeira secular.
Alguns velhos passam a vida sentados, a dormitar.

João do Rio - As Religiões no Rio, João do Rio,
Domínio Público - Biblioteca Virtual de Literatura